Crítica | Blade Runner 2049

Blade Runner 2049 (2017); Direção: Denis Villeneuve; Roteiro: Hampton Fancher e Michael Green; Elenco: Ryan Gosling, Harrison Ford, Ana de Armas, Sylvia Hoeks, Robin Wright, Dave Bautista, Mackenzie Davis, Carla Juri, Jared Leto; Duração: 163 minutos; Gênero: Drama, Ficção Científica, Thriller; Produção: Broderick Johnson, Andrew A. Kosove, Cynthia Sikes, Bud Yorkin; Distribuição: Sony Pictures; País de Origem: Estados Unidos; Estreia no Brasil: 05 de Outubro de 2017;

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As consequências que o Blade Runner de Ridley Scott teve nas mídias e no público já foram plenamente difundidas e discutidas diversas vezes ao longo dos anos, conforme filme e seus questionamentos passaram a ser cultuados cada vez mais. Sua influência é indiscutível, muito por méritos que o cineasta angariou em sua carreira, sempre com produções de designs recheados de detalhes. Mas é inegável, também, que a qualidade de seu cinema decaiu e assim, portanto, uma das decisões mais sábias foi passar as rédeas do retorno ao Universo que uma vez o consagrou para um dos diretores mais badalados atualmente, tanto no gênero da ficção cientifica como no cinema em geral.

Por volta de quatro vezes superior ao orçamento da produção mais cara que Denis Villeneuve havia dirigido até então, Blade Runner 2049 sem dúvidas se faz um desafio completamente diferente em sua carreira. O cineasta, entretanto, não titubeia e encontramos aqui os elementos que o alçaram ao status que hoje detém. Existem óbvias diferenças entre os blockbusters com os quais comumente nos deparamos, uma delas sendo o desenvolvimento de certos elementos, que recebem uma cadência condizente com o que requerem. Contudo, apesar do que Villeneuve consegue contornar a seu favor, há muito contra também.

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(Divulgação: Columbia Pictures)

Os principais méritos de Blade Runner 2049 estão em sua estética. Desde o princípio se nota um tom que tende sempre ao melancólico, o que é também uma reflexão do estado em qual se encontra a Califórnia no ano em que se passa o filme. Muito disso segue também uma continuidade do que havia se estabelecido no filme de 1982, com mudanças condizentes ao que projetamos a partir do ponto de vista contemporâneo. Planos aéreos deixam bastante clara a sensação de claustrofobia que se fazem as vielas lá embaixo, onde a verticalização parece a única opção.

A vista da janela do agente K (Ryan Gosling), por exemplo, não é uma paisagem nada amigável. É interessante notar, porém, como esse próprio Blade Runner apresenta uma reciprocidade com aquilo que influenciou, trazendo à memória, neste mesmo cenário, o que vemos em Ghost in the Shell. A nível de comparação, no entanto, é mais funcional, em todas as frentes, do que a adaptação hollywoodiana do mangá/animação que tenta emular essa mesma cena e falha miseravelmente.

Provavelmente porque a competência de Roger Deakins se sobressaí a de qualquer outro diretor de fotografia em atuação no momento. Aqui ele constrói cenas de tirar o fôlego e, mais importante, que nunca roubam para si o destaque, são sempre fundamentalmente conectadas ao caminhar da narrativa.

Lógico que conspiram para essa construção também os elementos que compõem e delineiam o novo capítulo desse Universo (ou franquia). Com um Design de Produção que é tão caro ao filme, que torna tudo tão imersivo e, simultaneamente, tão deslumbrante. Visualmente, Blade Runner 2049 é um trabalho de puro esmero e delicadeza, que faz saltar aos olhos a constante beleza de um trabalho admirável em todos os seus aspectos.

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(Divulgação: Columbia Pictures)

A quebra do envolvimento é também inevitável. Há tanto cuidado em estabelecer esses elementos, mas a falta de credibilidade no espectador é digna dos blockbusters mais desacreditados em seu público. A extrema necessidade em sempre certificar tudo com um enquadramento didático, para esclarecer isso ou aquilo, é tão redundante, e irritante, quanto a repetitividade do roteiro em afirmar e reafirmar as convicções que movem a trama.

No caso do roteiro a condição é até contraditória quando chegamos ao terço final de Blade Runner 2049. Tanto por essa falta de crédito do filme para com seu espectador, como pela falta de segurança que tem em explorar a principal trama na narrativa, que leva aos questionamentos mais profundos de seu protagonista. A realidade sobre essa insegurança vem à tona quando surge a reviravolta, que deixa clara que a desnecessária repetitividade literal da coisa era uma forma de distanciar disso. Não funciona.

Não funciona assim como, infelizmente, a trilha sonora. De composição de Hans Zimmer e Benjamin Wallfisch (Annabelle 2: A Criação do Mal, It: A Coisa), falta a ela a delicadeza que o filme requer. A tentativa de emular a trilha sonora do original não passa de nostalgia barata, que no terço final aqui parece rechaçada por um dos personagens durante um reencontro. Por outras vezes é invasiva quando a sutileza era quem pedia passagem. Um equívoco que complementa essa faceta de blockbuster comercial que paira sobre Blade Runner 2049.

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(Divulgação: Stephen Vaughan/Columbia Pictures)

Denis Villeneuve, porém, é mais do que esses equívocos. Se o elemento que mais funcionava em A Chegada (Arrival) era a sensibilidade, a qual ele havia compreendido plenamente como se encontrava na obra original, aqui o repete. A cena mais bela de Blade Runner 2049 exalta sensibilidade e é ela a chave para os mistérios da narrativa. Sua beleza se faz óbvia, portanto, pela preciosidade com a qual o cineasta a encara.

As nuances que encontramos ali flertam com o que o filme tem de melhor. Nada dos excessos de Jared Leto (Esquadrão Suicida) caem bem quando comparado às sutilezas dos trabalhos de Ryan Gosling (La La Land), Sylvia Hoeks e Carla Juri. Estas últimas, dois nomes que Hollywood provavelmente não saberá aproveitar o talento que aqui apresentam, infelizmente.

Blade Runner 2049 é incontestavelmente uma experiência singular, e certamente seus questionamentos, quando bem trabalhados, hão de ecoar no espectador com toda a força que só um cineasta como o responsável por esse trabalho que vemos aqui é capaz de reproduzir. No fim das contas é, também, um filme menos inteligente do que imagina ser. Nesse aspecto, a sensação de grandiloquência que traí o filme em seu pensamento conversa completamente com o que acompanhamos em sua narrativa.

Crítica | Blade Runner 2049

Blade Runner 2049 (2017); Direção: Denis Villeneuve; Roteiro: Hampton Fancher e Michael Green; Elenco: Ryan Gosling, Harrison Ford, Ana de Armas, Sylvia

Direção
Roteiro
Elenco
Fotografia
Edição
Summary
76 %
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