Crítica | IT: A Coisa

IT: A Coisa (IT, 2017); Direção: Andy Muschietti; Roteiro: Chase Palmer & Cary Fukunaga e Gary Dauberman; Elenco: Jaeden Lieberher, Bill Skarsgård, Jeremy Ray Taylor, Sophia Lillis, Finn Wolfhard, Chosen Jacobs; Duração: 135 minutos; Gênero: Drama, Suspense, Terror; Produção: Roy Lee, Dan Lin, Seth Grahame-Smith, David Katzenberg, Barbara Muschietti; Distribuição: Warner Bros. Pictures; País de Origem: Estados Unidos; Estreia no Brasil: 07 de Setembro de 2017;

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Chega a ser controverso como grande maioria das adaptações das obras literárias do aclamado autor Stephen King acabam ficando muito aquém do que se espera e do que, aparentemente, o material base tem a oferecer. Acaba até sendo difícil se lembrar a última vez que alguma adaptação realmente deu certo. O exemplo mais recente de que essa dificuldade parece se fazer via de regra encontramos no desastroso A Torre Negra (The Dark Tower), amargo tanto para a crítica como para o público, com resultados pífios de bilheteria. A suposição é de que IT: A Coisa (IT) se dê bem ao menos com o público, algo que só o tempo dirá, é verdade, mas é certo dizer que com a crítica, talvez com exceção desta, não há muito do que reclamar. Existe aqui algum amargor quanto ao terror (ou quase isso) que, longe da possibilidade de ser classificado como ruim, acaba fazendo algo onde simplesmente não corre riscos, parte da razão pela qual funciona, e tornando-se apenas aspirante ao que tinha potencial para se destacar fácil na memória quando o assunto fossem as melhores adaptações dos trabalhos do autor, não que seja algo que requeira muito esforço para se alcançar.

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O diretor Andy Muschietti tem um saldo negativo em sua carreira quando nos lembramos que Mama, seu único longa-metragem ao lado deste IT: A Coisa, sofria com o teor expositivo apresentado pela narrativa. Aqui, outra vez, há pouco que o cineasta trabalhe com a sugestão, o que suprime boa parte do suspense e dos sustos e afasta a aura de aterrorizante que escapam de resquícios das versões anteriores do roteiro, em sua teimosa persistência. Quem majoritariamente estraga a experiência e antecipa qualquer acontecimento é, porém, Benjamin Wallfisch. Alguns temas do compositor que se fazem presentes no filme dão o tom, mas são tão raros os momentos em que se mostram um acerto. O inverso é mais comum, e somos conscientizados disso logo na sequência de abertura. Enquanto somos conduzidos por algo que, até então, se fazia demasiadamente envolvete e quebrando paradigmas, dando uma impressão de que não se tratava de outra produção genérica, entra a trilha sonora extremamente genérica, nos quais acordes praticamente idênticos podem, por exemplo, ser ouvidos em Annabelle 2: A Criação do Mal (Annabelle: Creation) e, em menos de cinco minutos, cai por terra a construção do que até ali se havia conquistado.

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Falta a IT: A Coisa essa consistência na construção dos momentos, que é tão inseguro de si quanto um espectador que aguarda enquanto da preparação de um susto bem elaborado -existe algum aqui? A exposição desse medo se torna, ora, cada vez mais explícito e é o excesso quem toma conta. Não surpreende a toada, ainda mais quando a força de uma cena se esvai na picotada edição de incontáveis takes, como se a estabilidade de um momento não pudesse ser mais gratificante do que a constante busca de Muschietti por essa afirmação do que estamos vendo. Aquilo que devia ser assustador culmina numa execução que o torna, portanto, banal. A exceção reside na entrega extraordinária que realiza Bill Skarsgård (Atômica), que desenvolve seu Pennywise com tamanha atenção a diversos aspectos. É ele quem se torna o responsável pelo funcionamento do personagem e o medo que este inspira. Da entonação na voz aos trejeitos, e assim por diante, a presença que exerce sempre que em cena é uma força a ser reconhecida, com o ator tendo aqui uma atuação que torna o aterrorizante em fascinante, pois é fácil se deslumbrar com o resultado de tal dedicação.

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Apesar disso, não é o palhaço o protagonista na história e suas aparições, na forma de Pennywise, comparadas ao restante do elenco são bastante contidas, gradualmente mais recorrentes. É impossível, no entanto, não remeter a Stranger Things, não só pela presença do ator Finn Wolfhard, constante alívio-cômico que, segundo me lembro, só tem uma piada fora de hora. Por ser algo mais recente, é a reminiscência do que a série estabelece com seu elenco jovem que retorna ao espectador. Independentemente das semelhanças, é fato que a dinâmica funciona, muito por conta do talento que os jovens possuem. Enquanto falta, porém, que se aprofunde nos traumas de cada um, onde a tentativa em ser amplo acaba fazendo do filme superficial, salvo a Bev de Sophia Lillis, personagem que tem uma das tramas mais instigantes e a mais bem trabalhada, demonstrando uma força sem igual durante o restante do filme. Entretanto, as resoluções simplistas prejudicam por demais IT: A Coisa e as aventuras de verão dos jovens divertem, mas pecam justamente quando não conseguem se conectar a esse peso trágico que deviam sustentar. O ápice é frustrante porque tem a capacidade de tornar determinados personagens em figuras maniqueístas sem dar a mínima, mesmo estando ali todos os elementos que pudessem fazer tanto disso, como de todo o restante, uma obra-prima do medo. Longe disso, é um filme que entretém, mas cuja expectativa nunca se complementa.

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