Assassino por Acaso” (“Hit Man”, 2023); Direção: Richard Linklater; Roteiro: Richard Linklater & Glen Powell; Elenco: Glen Powell, Adria Arjona, Austin Amelio, Retta, Sanjay Rao; Duração: 115 minutos; Gênero: Comédia, Policial; Produção: Mike Blizzard, Richard Linklater, Glen Powell, Jason Bateman Michael Costigan; País:  Estados Unidos; Distribuição: Diamond Films; Estreia no Brasil: 13 de Junho de 2024;

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Richard Linklater se entranhou no cinema estadunidense como um dos grandes cineastas do país, mas seus feitos não estão relacionados a grandiosidade de produções às quais os cineastas de lá costumeiramente entregam, ou até mesmo um apreço estético visual que por muitas vezes se sobressaí até com preocupações quanto a narrativa. Linklater é um dos grandes pela forma como através de uma aparente simplicidade ele transforma suas histórias em algo que flui com naturalidade, extraindo de seu elenco atuações que são visceralmente sinceras com seus personagens, quase numa confusão entre realidade e ficção, como em “Boyhood” e na própria trilogia iniciada em “Antes do Amanhecer”. Seu novo filme também trabalha nesse limiar, co-escrito e estrelado por Glen Powell (“Top Gun: Maverick”), “Assassino Por Acaso” conta uma história inspirada em fatos, adaptando um artigo que relatava parte da vida do professor universitário norte-americano Gary Johnson, que acabou fazendo um “bico” para a polícia como um assassino de aluguel, só que de fachada. Utilizado como isca para fazer várias apreensões de pessoas que estavam em busca de contratar alguém para matar outra pessoa, até que Gary conhece alguém cujo caso lhe faz sentir uma empatia que pode mudar o rumo da situação.

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Entre um caso e outro, brevemente abordados, “Assassino por Acaso”, para além de ser um carro chefe de Glen Powell como protagonista, muito por conta de Linklater começa a explorar o que é ser estadunidense e a forma como ele vê o crime como única saída, não uma violência por conta da marginalização, mas de uma questão sócio cultural que não sabe como lidar com consequências, que praticamente banaliza tal ato. Pena de morte ou perpétua? Uma execução moderna é só uma forma de fingir que está tudo bem se sentir confortável ao tirar a vida de outra pessoa. Não há uma solução que pareça viável por conta dessas questões intrínsecas ao âmago estadunidense. Linklater e Powell mexem com esse limiar cultural que mescla as linhas entre a realidade e ficção, num imaginário que torna palpável aquilo que nunca existiu, que torna real um arquétipo que é vivo apenas na memória, mas uma memória que vem da ficção. Ao mesmo tempo expõe também o moralismo que permeia esses pensamentos e a maneira de se fazer justiça, ou aquilo que se acredita ser tal coisa, numa condução narrativa que coloca em xeque o sentimento do próprio espectador como uma forma de questionamento.

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E tudo isso funciona não só pelo roteiro extremamente sagaz da dupla, mas pela direção de Richard Linklater e a execução de diversos aspectos de “Assassino por Acaso”. A montadora de longa data do diretor, Sandra Adair, dá uma dinâmica ao filme que o torna crescentemente intrigante e o permite ser efetivamente certeiro em suas reviravoltas. O equilíbrio entre os diferentes gêneros pelo qual o filme transita também é notável, e Powell tem aqui aquele que pode realmente chamar de seu primeiro grande trabalho, porque é um filme que exige muito do ator e ele sempre entrega o necessário. Se como protagonista ele funciona muito bem, quando Adria Arjona entra em cena tudo fica ainda melhor, e os dois tem uma química inebriante, que se faz deliciosa não só pelo que ambos entregam em cena, mas por como Linklater opta por decupar a maioria das interações de ambos, e é aqui que aquilo que parece simples se torna de uma riqueza enorme. Os diálogos são tão bem construídos e conduzidos que nos vemos vidrados a cada movimento, como na cena do primeiro beijo dos dois, ou durante o clímax do filme, sequência que sintetiza perfeitamente o funcionamento disso tudo. No fim, “Assassinos por Acaso” constrói todo esse panorama de maneira descontraída e muito cativante, através da marca registrada de Linklater e tirando proveito de um elenco muito inspirado e que entrega um filme de puro regozijo.

Assassino por Acaso” – Trailer Legendado:

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