Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name, 2017); Direção: Luca Guadagnino; Roteiro: James Ivory; Elenco: Timothée Chalamet, Armie Hammer, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel, Victoire Du Bois; Duração: 132 minutos; Gênero: Drama, Romance; Produção: Peter Spears, Luca Guadagnino, Emilie Georges, Rodrigo Teixeira, Marco Morabito, James Ivory, Howard Rosenman; País: Itália, França, Brasil, Estados Unidos; Distribuição: Sony Pictures; Estreia no Brasil: 18 de Janeiro de 2018;
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Foi praticamente impossível não se atentar ao hype entorno de Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name), que recebe elogios e mantém seu prestígio desde a première no Festival de Sundance, em Janeiro do ano passado.
Pois é, esperamos quase que exatamente um ano para poder prestigiar a aclamada adaptação do romance de André Aciman, para tomar conhecimento da eufórica paixão de Elio e Oliver em um verão italiano da década de 80.
Todo esse tempo só serviu para demonstrar a solidez que possui o filme de Luca Guadagnino, que parece já ter assegurado seu lugar entre os indicados a Melhor Filme no Oscar, entre outras categorias.
Será plenamente compreensível, aliás, ver o filme coroado ao menos com as devidas menções na maior premiação da indústria, afinal é, sim, merecedor de ser colocado num patamar das melhores produções do ano que passou.
Assim como, desde já, é um dos melhores lançamentos em circuito nacional no ano corrente. Sua estreia parece apenas atestar o óbvio, aquilo que tanto já se havia dito sobre a produção.
Mas comprovar pessoalmente é dispensar expectativas e deixar-se deslumbrar com a história que vemos ser desenvolvida na tela, provida de tanta força que parece se fazer imensurável.
A narrativa construída por James Ivory, responsável pelo roteiro que adapta a obra homônima, é dirigida por Luca Guadagnino com rara precisão, cadenciando a relação entre os protagonistas de maneira fundamental.
É interessante notar o quanto é dito através de sutilezas, que a princípio parecem não mais do que singelos gestos comuns. São elementos que se apresentam quase que como reféns de um contexto.
É verdade que há certo receio, entre os próprios personagens, pela relação homo afetiva. Porém, acertadamente, pouca atenção a isso é dada por Me Chame Pelo Seu Nome.
Diferente de se afugentar da realidade, no entanto, o filme se afasta é mesmo dos clichês, focando sua narrativa naquilo que realmente se vê florescer ali entre os dois, na conexão especial que se estabelece.
Uma jornada que vai além, entretanto. Porque enquanto é mesmo o romance o pináculo central da história, o todo ao redor é igualmente importante. É ali que vamos vendo ações e reações do desenrolar da relação.
Mas é fácil se deixar encantar pelo nível de detalhe que atinge a produção; a caracterização da interiorana Itália dos anos 80 que habitam os personagens; o figurino característico e irretocável; A paisagem retratada com uma beleza singular por Sayombhu Mukdeeprom, diretor de fotografia.
O contexto do todo, porém, também age como uma forma de expressar a representação desses corpos que se desejam. Aquilo que torna possível o encontro dos dois, a expressividade que estudam Oliver e o pai de Elio, se fazendo presente quase que em um propósito único.
Contudo, partindo do ponto de vista de Elio, é um aprendizado até compreensível, mas que talvez peca ao exibir demasiado pudor.
Nada que estrague ou implique negativamente na experiência, até porque Guadagnino pretere o romântico, pretere a voracidade da paixão entre Elio e Oliver, e como esses dois possuem percepções diferentes do que os acomete.
Assim, é fundamental o desempenho que encontramos nas atuações de Timothée Chalamet e Armie Hammer, porque são elas que conduzem grande parte do que será catártico durante o filme.
Armie Hammer é coadjuvante, portanto, tem menos tempo em cena. Mas sua presença é marcante, principalmente pela maneira como consegue sensibilizar seu personagem e o fazer dispersar qualquer estereótipo. Se entregando completamente, demonstrando uma vulnerabilidade e fortalecendo a relação entre seu Oliver e Elio.
Mas é Timothée Chalamet o grande nome de Me Chame Pelo Seu Nome, por tudo o que faz durante o filme. É um processo bastante intrincado, e o próprio ator, ainda jovem, parece crescer junto do seu personagem ao longo do filme, culminando em uma sequência que dispensa comentários, precisa ser testemunhada.
Todavia, nada disso seria tão efetivo não fosse por um único personagem, numa participação bastante limitada, mas que tem, talvez, o momento mais arrebatador em todo o filme.
Michael Stuhlbarg parece mais um camaleão, desde que despontou em um filme dos irmãos Coen, passando, por “Steve Jobs”, “Transparent” e “Fargo”, por exemplo, parece se camuflar, mergulhando de cabeça, em seus personagens e, com isso, acabando por os fazer transcender.
Toda sua experiência e seu talento culminam em Me Chame Pelo Seu Nome num monólogo extraordinário, que se torna ainda mais poderoso na maneira como é entregue pelo ator; seu timing, sua entonação, seu carisma. Tudo influencia o momento.
Cada sentença é de um aprendizado singular, e aos poucos vão tornando cada vez mais relacionável tudo o que ocorreu no filme até então. É um duro golpe desferido no espectador, impossível não se identificar, bem como ir das lágrimas ao êxtase.
Porque toda a tristeza contida ali revela, então, algo de uma estupenda beleza, fazendo com que só reste a nós apreciar a exuberância e ode da obra que é Me Chame Pelo Seu Nome.
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