Se Eu Ficar (If I Stay); Direção: R.J. Cutler; Roteiro: Shauna Cross; Elenco: Chloë Grace Moretz, Jamie Blackley, Stacy Keach, Liana Liberato, Mireille Enos, Joshua Leonard; Estreia no Brasil: 04 de setembro de 2014; Gênero: Drama; Duração: 107 minutos;
Hollywood realmente não dorme no ponto na hora de explorar o filão do momento entre os adolescentes. Nos últimos cinco anos, a indústria norte-americana readaptou a mesma idéia de amor impossível pra uma gama enorme de universos, dos romances entre humanos e qualquer que seja a criatura mitológica passando pela impossibilidade de uma paixão em qualquer que fosse o futuro distópico, sendo a onda do presente momento os romances morimbundos.
Mal esfriou o cadáver de A Culpa é das Estrelas, lançado aqui há menos de três meses, pra que um novo derivado da obra homônima de John Green, que em si já era uma espécie de derivado de Nicholas Sparks com referências descoladas ala tumblr, ganhasse as telas do cinema e o coração dos adolescentes de plantão. Adaptado do romance de Gayle Forman, Se Eu Ficar é mais um melodrama asséptico que repete os mesmos sintomas que marcam esse nicho de filme há tempos. A preocupação em fazer que seu público se debulhe em lágrimas é novamente maior do que o interesse em desenvolver tanto personagens, quanto uma narrativa minimamente crível.
Os recursos aqui não são nada diferentes do que já vimos em A Culpa é das Estrelas, Um Amor Para Recordar, Now Is Good ou qualquer outro caça-níquel do gênero. Mia Hall é uma dessas garotas ‘especiais’, mas ao contrário do que encontramos em grande parte desse tipo de filme, ao menos entedemos na superfície, porque o Se Eu Ficar não se interessa pelos seus personagens pra além dos acessórios básicos que eles têm de representar, o que faz com que os outros se encantem pela personagem. Pois além de ser no mínimo atraente, afinal é Chloë Grace Moretz que acaba por dar a cara a tapa como a protagonista, o suficiente pra fisgar a atenção do cara mais popular do colégio, Adam Wilde (saca o sobrenome), líder de uma banda ~punk~ em plena ascenção, a garota também é uma musicista de primeira linha, filha dedicada e desencaixada em uma família de roqueiros, que como insiste o roteiro, estão prontos pra lançar um comentário aleatório e constrangedor sobre cultura pop a qualquer momento.
O roteiro do filme é extremamente primário, diálogos mal escritos, referências musicais mal engendradas (a certo ponto alguém comenta que a banda punk-pop-rock de Adam vai abrir um show do The Shins, é difícil estabelecer qualquer proximidade entre o som de ambos os grupos e a audiência que os consome), tornando difícil embarcar sem culpa tanto nos pequenos dramas adolescentes de Mia, relembrados em constantes flashbacks e numa irritante narração em off, quanto no seu dilema pós um acidente catastrófico que a deixa em coma e seu espírito a mercê da decisão de continuar lutando para permanecer viva ou aceitar um destino aparentemente mais confortável.
Moretz ainda faz o que pode na pele de Mia Hall, é sem dúvida uma atriz de talento emergente, de uma charme petulante delicioso que cai bem com a personalidade arredia de sua protagonista, mas é deveras complicado quando uma direção inexpressiva, quase inexistente, não lhe oferece outra possibilidade se não lançar caras e bocas enquanto corre pra lá e pra cá por entre corredores de um hospital. E dentre os inúmeros equívocos da conturbada produção de Se Eu Ficar, cuja direção foi passando de mão em mão desde meados de 2010, até chegar ao irrelevante R.J. Cutler, fica a impressão de mais um filme génerico que subestima e talvez até domestique a visão que seu próprio público tem não só desse tipo de cinema, como também da ideia de amor no geral.
Até porque eu acredito que não seja exigir muito que um trabalho não idiotize aquele que o consome.