O Castelo de Vidro (The Glass Castle, 2017); Direção: Destin Daniel Cretton; Roteiro: Destin Daniel Cretton & Andrew Lanham; Elenco: Brie Larson, Woody Harrelson, Naomi Watts, Ella Anderson, Sadie Sink, Sarah Snook, Max Greenfield, Josh Caras; Duração: 127 minutos; Gênero: Drama, Cinebiografia; Produção: Gil Netter, Ken Kao; Distribuição: Paris Filmes; País de Origem: Estados Unidos; Estreia no Brasil: 24 de Agosto de 2017;
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É interessante notar como O Castelo de Vidro (The Glass Castle) é tão relacionável com Temporário 12 (Short Term 12), o longa-metragem anterior -e de estreia- de Destin Daniel Cretton, e que também era protagonizado por Brie Larson. Quatro anos atrás a atriz dava início em sua ascensão estelar, confirmado o ápice, por enquanto, na vitória como melhor atriz no Oscar, em 2016 por O Quarto de Jack (Room). Mas se lá já era uma força motriz, aqui o diretor e co-roteirista, em um muito aguardado projeto, tira ainda mais proveito disso, e é a atriz quem sustenta, em maior parte, as inseguranças encontradas na adaptação do livro homônimo de Jeannette Walls. A consistência de sua atuação é o que nos conduz com firmeza por entre as fases que permeiam o filme, principalmente quando entramos na fase adolescente da personagem e de seus irmãos. Infelizmente, existem diversos problemas nesse segundo longa do cineasta, e será comum ver comparações com Capitão Fantástico (Captain Fantastic) devido algumas temáticas, comparação esta que é inválida, visto que é um elemento pelo qual norte-americanos nutrem um carinho especial. Porém, mesmo com suas semelhanças, comparar é se recusar a perceber as diferenças entre ambos, tanto de propostas como intenções, e deixar passar despercebida essa própria temática que Cretton aborda com sua expertise, não só relacionável ao seu longa de estreia, mas a todo espectador também.
O Castelo de Vidro tenta trabalhar em três frentes, mas age com maior eficácia somente em duas delas. Uma das consequências da congestionada história que é contada. Brie Larson é a protagonista, tanto por interpretar a autora do livro em qual o filme é baseado como por essa própria autora ser a protagonista dessa história. Isso de certa forma, porque o papel de Woody Harrelson (Planeta dos Macacos: A Guerra) faz frente a personagem; o pai da família e a filha do meio. A disputa de espaço entre os dois é forte durante o filme, muito pela maneira na qual é tratada a relação de ambos. Existe um aspecto introspectivo e o familiar, além da faceta nômade não-conformista que os pais obrigaram os filhos a vivenciarem. É crucial que haja um ponto de equilíbrio entre esses três elementos, mas é tanto a ser explorado que o cineasta raramente tem sucesso para estabelecer o que é necessário. Assim, aos poucos vemos algumas das ideias perder força, bem como aquilo que dá título ao filme. Algo que, ao invés de funcionar como esse ponto condutor imprescindível, acaba figurando mais num segundo plano, sem ser explorado de maneira digna ou satisfatória, soando mais como um excesso do que esse sonho inalcançável, porém unificador, que era compartilhado entre ambos os personagens.
Ainda que também não plenamente, no espectro da família e no introspectivo, principalmente de sua protagonista, O Castelo de Vidro funciona e consegue construir uma história interessante e envolvente. Aliás, é bastante tocante a maneira com qual o faz e grande parte dos méritos se deve ao talento do diretor, que demonstra, mais uma vez, essa capacidade para transformar seus personagens em figuras identificáveis e empáticas. Isso aliado ao talento do elenco se faz uma das grandes virtudes no filme, onde a química entre os atores é fundamental, seja na fase adulta ou quando o elenco mirim esbanja carisma. Não fosse pelos momentos comuns de pieguice apresentados pela narrativa, o filme seria alçado à patamar ainda mais além. Essa entrega ao sentimentalismo tira muita força do filme, logicamente que não impede de nos emocionarmos com o que vemos, mas é uma saída barata para a complexidade que se estabelece dentre essa família e sua visão de mundo. Não se deixasse cair em tentação, brilhariam ainda mais os nomes no filme, afinal as atuações de Brie Larson, Woody Harrelson e Naomi Watts -aqui coadjuvante- se mostram ao nível acima da média que se espera, mas esbarram nessas recaídas que o filme apresenta.
Não que seja exatamente uma falha, e sim um deslize, a toada da narrativa em O Castelo de Vidro, ao menos na parte mais superficial, o relega a menos do que podia ser. Porque quando se trata daquilo que realmente parece interessar ao cineasta que comanda a obra, vemos sendo colocada em prática todos os frutos que podiam ser colhidos dessa nova colaboração. É central ao filme essas relações paternas e maternas que formam o caráter, traumatizam e moldam a personalidade dessas figuras que, muitas vezes relutantemente, acabamos por nos tornar. A confusão do que é ser se vê explorada de maneira mais bem-sucedida, me parece, num plano sequência em que acompanhamos a briga entre os pais das crianças, a tentativa de distração que elas tentam criar para si próprias e o inesperado desespero quando acaba por acontecer o que vemos, culminando num ato inusitado e, simultaneamente, revoltante e confortante -dada as circunstâncias. O excesso de elementos presentes na história impede, infelizmente, com que O Castelo de Vidro atinja com clareza seu objetivo, de retratar essas figuras ambíguas que compartilham tristezas e alegrias, que odeiam aquilo o que são, mas também amam, figuras que, assim como nós, são acometidas por turbilhões de emoções e se veem confusos, perdidos em si mesmos, onde talvez nem mesmo as estrelas sejam capazes de ajudar a guiar.
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