“Loucas em Apuros” (“Joy Ride”, 2023); Direção: Adele Lim; Roteiro: Cherry Chevapravatdumrong & Teresa Hsiao; Elenco: Ashley Park, Sherry Cola, Stephanie Hsu, Sabrina Wu, Annie Mumolo, David Denman, Debbie Fan, Kenneth Liu; Duração: 95 minutos; Gênero: Comédia; Produção: Seth Rogen, Evan Goldberg, James Weaver, Josh Fagen, Cherry Chevapravatdumrong, Teresa Hsiao, Adele Lim; País: Estados Unidos; Distribuição: Paris Filmes; Estreia no Brasil: 03 de Agosto de 2023;
Com a crescente inclusão de diversidade em Hollywood, ainda que timidamente, em frente e atrás das câmeras, acabamos vendo o processo dar resultados, em escalas que se diferenciam, mas que já ecoam isso. Em relação a presença asiática, cuja ápice foi o acolhimento e a vitória retumbante de “Parasita” no Oscar -fruto também de políticas culturais Sul-coreanas que fortalecem o cinema do próprio país mundo afora-, vamos encontrando cada vez mais filmes que trazem uma representatividade muito forte e necessária de ambos os lados da câmera. Entre alguns destaques, “A Despedida” de Lulu Wang, “Tigertail” de Alan Yang e, o mais importante, “Podres de Rico” de Jon M. Chu. A importância deste último filme não diz respeito somente ao investimento e o retorno de bilheteria, e sua ótima recepção pela crítica, mas pelos “novos” talentos que revelou para Hollywood. Ali encontrávamos Adele Lim tendo sua primeira oportunidade como roteirista em um longa metragem após anos transitando entre diferentes projetos na televisão. Agora, Adele Lim tem sua voz reforçada conforme assina a direção de seu primeiro filme, e toda sua experiência e personalidade, assim como da equipe que reúne, transformam “Loucas em Apuros” numa comédia hilária e que faz excelente uso da sua representatividade, e não só como forma de piada.
Com certeza ainda faltava nessa leva de filmes sino-americanos uma produção que, de fato, se assumisse como uma comédia. Mas não precisava somente existir por conta de uma oportunidade de mercado, precisava existir pela necessidade em que havia um limbo destas vozes, que apesar de não serem completamente originais, tem uma identidade própria e, obviamente, muito a dizer. O essencial em “Loucas em Apuros” é exatamente isso, porque o roteiro de Cherry Chevapravatdumrong e Teresa Hsiao consegue capitalizar em cima de toda a experiência de ambas na televisão, aliadas à de Adele Lim, criando um filme que consegue ser certeiro em todo seu tom e no timing não só das piadas, mas em como alterar o tom das mesmas, às vezes indo além e sendo mais besteirol, às vezes sendo mais ácido e contido. No entanto, as piadas são sempre certeiras e o filme sempre as entrega com maestria. Funciona tudo quase que praticamente de forma orgânica e flui muito bem, numa narrativa que é conduzida com igual naturalidade e entrega muito bem suas batidas, mesmo as mais sentimentais e que façam o básico feijão com arroz. A reviravolta dramática, afinal, é simples, mas funciona porque é bem escrita e conduzida.
“Loucas em Apuros” funciona tanto assim também porque é muito bem protagonizado. O quarteto formado por Ashley Park, Sherry Cola, Stephanie Hsu e Sabrina Wu é excelente em conjunto, as atrizes não só estão completamente afiadas comicamente, mas tem uma química em cena que é fundamental. Elas são tão divertidas juntas que o tempo em cena parece ser igualmente importante para todas. Vale destacar ainda que Stephanie Hsu, indicada ao Oscar esse ano, mal fazia ideia de qual seria a recepção de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” e a repercussão de seu trabalho no filme quando filmou “Loucas em Apuros”, que se faz mais uma comprovação do quão talentosa é a atriz e do quanto potencial Hsu tem, seja cômica ou dramaticamente! Como as atrizes, junto do conjunto da obra, tornam tudo tão cativante em “Loucas em Apuros”, a toada mais melodramática também funciona perfeitamente, as gostosas gargalhadas dão lugar, então, a um acolhimento e reconhecimento da identidade dessas personagens que aquece o coração. Toda a representatividade se torna também um fator emocional certeiro muito forte, e muito correto, onde quem realiza compreende seu lugar de fala e consegue exercer com sensibilidade tudo que o filme é capaz de desenvolver, até ter noção do quão importante é ter personagens falando em suas línguas nativas, o que faz diferença. Assim, nessa construção de características pessoais identitárias, “Loucas em Apuros” consegue ser não só hilário, mas comovente quando precisa. É um prato completo de pura alegria.