Mamãe, Mamãe, Mamãe (“Mamá, Mamá, Mamá“, 2020); Direção: Sol Berruezo Pichon-Rivière; Roteiro: Sol Berruezo Pichon-Rivière; Elenco: Agustina Milstein, Chloé Cherchyk, Camila Zolezzi, Matilde Creimer Chiabrando, Siumara Castillo; Duração: 65 minutos; Gênero: Drama; Produção: Laura Mara Tablón; País: Argentina; Distribuição: –; Estreia no Brasil: –;

Mamãe, Mamãe, Mamãe 02
© Rebeca Rossato Siqueira/Rita Cine & Bomba Cine

A jovem diretora Sol Berruezo Pichon-Rivière já mostra em seu primeiro longa-metragem traços autorais que nos deixam vislumbrar um aparente futuro brilhante para a cineasta. Aliás, fica até a duvida se a mesma não devia ter se desafiado um tanto mais. Afinal, talento há de sobra aqui, mas peca na falta de consistência, o que em si não é um problema, mas fica a impressão de que o longa podia muito bem ser um pouco mais longo, mesmo que vivendo atualmente uma era onde cortar algum filme parece um blasfêmia para muitos realizadores. Aqui, uma hora parece pouco para o tanto que Pichon-Rivière podia explorar.

Mamãe, Mamãe, Mamãe” é um título que resume perfeitamente a aparente simplicidade do longa de estreia da cineasta. Uma palavra repetida três vezes, cuja significado detém força maior que praticamente qualquer organismo vivo. Um instinto que é difícil de compreender, mas o qual a influência é imensurável, independentemente de serem em cinco anos ou em cinco milhões de anos. É essa complexidade da relação que se tenta capturar aqui e, por isso mesmo, o filme se faz muito mais de sentimentos, focando na emoção que transpassa entre suas personagens e ao público, todas contidas naquele espaço de uma clausura tremenda.

São diversas gerações de mulheres acometidas por uma perda precoce e um luto difícil de processar. Aí começam trocas, mesmo que involuntariamente, em um processo de aprendizagem que em momento algum na vida teremos certeza plena de como prosseguir. A troca de experiência dessas mulheres, em diferentes fases da vida, em dilemas diferentes de suas vidas, se comunicam, se encontram, se abraçam. O âmago dói, amargo que só. Imensurável é, também, a dor dessa perda que atinge a família da protagonista Cleo (Agustina Milstein), confusa em meio a uma solidão desoladora, não só da perda, mas do amadurecimento forçado ao qual é submetida.

Os diálogos no filme servem mais como uma ponte para explicitar alguns poucos pensamentos das personagens, não exatamente uma exposição, mas uma informação que joga alguma clareza sobre a situação dessas personagens. Porque o que Pichon-Rivière intenta, mesmo, é essa confusão entrelaçada, esses entrecortes da vida de lembranças que são um encontro e desencontro dado o trauma enfrentado naquele momento. Assim, os recortes que aqui são feitos são o que tornam a estreia da diretora, de certa maneira, tão especial. Porque existe uma força dentro deste filme que é deveras admirável.

Mamãe, Mamãe, Mamãe” se atenta aos detalhes desse ambiente com um olhar regado de esmero, de tremenda preciosidade. Olhares e gestos que dizem tanto: união, desejo, dor, tristeza, solitude, perda. Pichon-Rivière é capaz de traduzir tanto imageticamente, sua protagonista corresponde também com talento. É bem verdade que podia haver algum desenvolvimento mais profundo em relação as personagens, mas esse processo trágico pelo qual passam, na maneira como é traduzido para a imagem, é até suficiente. De uma beleza singular, mas também bastante melancólico e, afinal, como não ser? É difícil demais compreender algo que é tão maior do que aquilo que jamais imaginamos ser. Mas não estamos sozinhos. Nem Cleo está. Nem nunca esteve.

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