Feels Good Man (2020); Direção: Arthur Jones; Roteiro: Giorgio Angelini, Arthur Jones, Aaron Wickenden; Elenco: –; Duração: 92 minutos; Gênero: Documentário; Produção: Georgio Angelini, Caryn Capotosto, Arthur Jones, Aaron Wickenden; País: Estados Unidos; Distribuição: –; Estreia no Brasil: –;
Desde 2016, movimentos de caráter conservador foram ganhando visibilidade por meio da população. Um dos fatores determinantes é a chamada era das redes sociais e a ascensão das notícias falsas – ou “Fake News”. Os disparos em massas desse tipo de conteúdo influenciaram e manipularam milhões de pessoas, levando estas a saírem das redes e irem para as urnas. Exemplos evidentes foram a vitória do BREXIT – A saída do Reino Unido da União Europeia – aonde muitos eleitores foram votar favoravelmente a essa saída, porém, sem saber em si o que isso significava. Além, claro, da eleição de Donald Trump, como presidente dos Estados Unidos, sendo um fenômeno político ainda vigente e estudado com perplexidade por cientistas sociais.
Muitos discursos e narrativas foram sequestradas pela extrema direita na composição dessas notícias fraudulentas. A viralização de personagens e imagens engraçadas – os chamados “memes” – fizeram esses discursos atingirem diferentes níveis de público, consolidando um imaginário popular em determinada sociedade. Acontece que muitos desses símbolos são criados por artistas independentes, como forma de uma manifestação artística. Um exemplo é o chamado sapo Pepe, que foi um dos principais propagandistas da campanha de Trump em 2016.
Investigando a cultura de internet, bem como essa do meme em si, o documentário “Feels Good Man”, aborda como esse personagem, o sapo Pepe, se tornou um representante de um discurso extremista, beirando ao fascismo, determinante no resultado eleitoral da eleição presidencial. O criador Matt Furrie lançou quadrinhos do Pepe no Myspace, refletindo nesses personagens antropomórficos um pouco de sua vida e seu cotidiano. O personagem começou a ganhar proporção pelo humor. Nos fóruns de rede sociais, movimentos extremistas se apropriaram dessa imagem e começaram a produzir conteúdos próprios usando o tal sapo, a fim de conquistar novos públicos com humor carregado num discurso de ódio.
É o caso claro onde criador não se enxerga mais da sua criatura, completamente destruída por usurpadores que visam apenas a vitória de suas narrativas. O diretor Arthur Jones tem compreensão do universo pelo qual mergulha – a cultura de memes, as fakes News e ainda o mundo virtual como um todo. Diferente como o recente documentário da Netflix, “O Dilema das Redes Sociais“, o longa não adota um tom moralista ou sensacionalista. Mostra o potencial das redes em fazer pessoas conseguirem se expressar artisticamente, gerando visibilidade e liberdade em contrapartida àqueles que usam desse meio em prol de interesses escusos – contudo sem invalidar os bons usuários da internet.
O documentário não tem interesse em chocar ou alarmar o espectador, seu principal ponto é mostrar como os elementos podem ser apropriados e os usuários manipuladores direta e indiretamente – isso causa um desconforto em pensar quanto de conteúdos que contemplem nossa narrativa nós consumimos apenas para ficarmos numa zona de conforto, ao invés de termos um compromisso com a verdade. A obra ainda parte de um artifício muito curioso, ao personificar o Pepe, The Frog, mostrando o quão humano o dilema de seu sequestro é de fato, seja pelos danos morais e psicológicos sofridos por seu criador ou em si, por servir de muleta para ascensão de figuras adjetas.
Com uma linguagem jovial, um desenvolvimento dinâmico, sem cansar o espectador médio não contemplado com o gênero documental, “Feels Good Man” serve de um estudo singelo e pontual sobre um fenômeno ainda longe de acabar, mas que, a grosso modo, depende de nós, usuários, controlarmos, a fim de evitar que outros desastres venham a acontecer. E pior: que nós sejamos responsáveis por isso.