Sherlock – 4ª Temporada (BBC One, 2010-presente); Criada por: Steven Moffat e Mark Gatiss; Direção: Rachel Talalay, Nick Hurran, Benjamin Caron; Roteiro: Steven Moffat, Mark Gatiss; Elenco: Benedict Cumberbatch, Martin Freeman, Mark Gatiss, Amanda Abbington, Una Stubbs, Rupert Graves, Louise Brealey, Toby Jones, Sian Brooke, Andrew Scott; Número de Episódios: 03 episódios; Data de Exibição: 01 a 15 de Janeiro de 2017;
O texto contém spoilers.
Sherlock nessa quarta temporada virou uma caricatura da série que um dia foi, ou simplesmente me iludi nos anos anteriores, pois o nível parece ter decaído nesta que pode ter sido a derradeira temporada das aventuras de Sherlock Holmes. Se realmente está de partida, o faz em meio a mais deslizes do que a desenvoltura escrita e cinematográfica que pareceu ter apresentado anteriormente.
A verdade é que as agendas cada vez mais apertadas de produção, em grande parte pela guinada estelar na carreira do protagonista Benedict Cumberbatch (O Jogo da Imitação), se fazem sentir. Mas não tanto quanto a brusca mudança de rumos entre um episódio e outro.
O evento catártico ao final do primeiro episódio até coloca em ação algumas mudanças contundentes nos personagens, mas a morte de Mary (Amanda Abbington) simplesmente não exerce todo o baque que o roteiro, em exposições de diálogos, quer dar a entender que obteve.
E isso porque o próprio roteiro se ocupa com coisas demais em sua mesa. Ou até mesmo a edição, onde uma montagem confusa retira todo o direito de se fazer sentir aquela perda que acabamos de presenciar. Em alguns casos fica a impressão de que o acontecido não afetou a uns, ou sequer pareceu ter acontecido, em outros, deixou dúvidas. Como a ida de Sherlock a psicóloga, elemento narrativo que se abandona com tal imediatez idem ao qual é introduzido.
O segundo episódio da temporada se empenha menos em tentar apagar os erros cometidos no primeiro, e pretere por ignora-los quase que por completo. Antes, no entanto, até mesmo o título da première, The Six Thatchers, e as piadas que traz consigo ficam mais no ideal, na teoria, do que na prática em si.
Assim como o passado de Mary e o que acaba impulsionando o caso do episódio. Mais de pobre execução, ou simples elaboração, do que desinteressante. Porque o que se esperava desde o final da terceira temporada era um possível tão aguardado retorno, com o qual já se havia lidado, ainda que superficialmente, no especial The Abominable Bride.
O problema, no entanto, não é nem a antecipação ou ansiedade gerada em torno dessa saudade deixada pelo tão icônico antagonista de Sherlock. O problema está no quanto a própria série em si tornou-se refém de tal elemento.
A forma como Sherlock acabou se prendendo a isso, cedendo aos próprios anseios que devia causar nos fãs, a fadou em algo que jamais alcançaria às próprias expectativas. Não porque é algo que não poderia, mas sim porque não conseguiria. Pelo simples fato de que em momento algum se deixou ser além daquele antagonismo.
Então quando em The Lying Detective, o segundo episódio, surge alguém que parece a par de Sherlock, já sabemos que não é, nem poderá ser, inteiramente verdade. Assim, o personagem de Toby Jones é relegado à mediocridade de ser apenas mais outro coadjuvante que logo será esquecido.
Tanto que no episódio seguinte já nem é necessário que se mencione o personagem, que é utilizado como uma desculpa esfarrapada para tapar o buraco do desenvolvimento dramático que devia ocorrer por conta da morte de Mary. E é como se, de fato, Sherlock não soubesse encarar as vias de fato com o derradeiro.
Ou seja, a série nunca soube lidar com a perda. Fosse daqueles queridos ao herói protagonista, fosse seu grande antagonista, ou os antagonistas. Vide a preguiçosa resolução dada para o retorno de Sherlock após ser enviado ao exílio por cometer um homicídio.
Aliás, quando encaramos a temporada no todo, a motivação para tal retorno soa tão frívola que, se não é capaz de convencer ao público em longo prazo, quem dirá então personagens cuja série pinta como se fossem os mais inteligentes seres que jamais pisaram na terra? De fato, vivem nas alturas, sozinhos com seus pensamentos, pois quando postos em prática, a falha é inevitável.
Vide The Final Problem, ou o problema final. Aquele que pode ter sido o último episódio da série se encerra de maneira um tanto que aberta. Até certo ponto, tudo bem. Contudo, quando pensamos, por exemplo, em Molly (Louise Brealey) chegamos à conclusão de como a série lidou com mais do que devia.
A decepção é então inevitável quando se pinta Eurus (Sian Brooke) como podemos perceber no que parece ser a grande reviravolta da série. Assim, Sherlock, Watson e Mycroft (Mark Gatiss) são postos um contra o outro.
Era óbvio que nada aconteceria a nenhum deles.
O que mais contempla esse medo de dar um passo em frente, é quando Sherlock dá a seu personagem título a resolução mais banal para o tal grande problema. Aliás, problema este que em momento algum existiu. O grande plano de Moriarty, ao arquitetar uma fuga que o próprio irmão de Eurus já realizaria, é tão redundante que revela o ponto fraco da temporada: os roteiros.
Num ponto onde conseguem superar até os excessivos efeitos visuais via After Effects no primeiro episódio, Sherlock parte de sua aguardada quarta temporada da mesma forma com a qual retornou, sem saber lidar com o patamar em qual depositou seu herói.
O problema da vida após a morte é esse, já não há mais muito o que fazer. Tanto o herói como o vilão são peças que precisavam de coexistir. Nesta quarta temporada, no entanto, Sherlock confirmou que os dois já nem sequer existem mais.
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