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Tomb Raider – A Origem (Tomb Raider, 2018); Direção: Roar Uthaug; Roteiro: Geneva Robertson-Dworet & Alastair Siddons; Elenco: Alicia Vikander, Dominic West, Walton Goggins, Daniel Wu, Kristin Scott Thomas: Duração: 118 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Drama; Produção: Graham King; País: Estados Unidos, Reino Unido; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 15 de Março de 2018;
Adaptações de jogos de videogame para os cinemas parecem uma medida cada vez mais rara em Hollywood, ainda mais com o crescimento voraz da indústria de jogos eletrônicos. Assim, é o meio cinematográfico que se faz dependente dessas massivamente populares franquias, justamente para reproduzi-las nos filmes. Aí surge outro empecilho, porque o que se encontra nos jogos atualmente é tão imersivo, propiciando uma experiência tão completa, que parece simplesmente impossível recriar ou sequer emular o que se encontra em outra plataforma, e Holllywood se contenta, infelizmente para o público, com produções como os medíocres Resident Evil e o pífio Jumanji: Bem-vindo à Selva.
Agora Tomb Raider – A Origem (Tomb Raider) vem para tentar mudar esse paradigma e, junto disso, um pouco do estigma pelo qual a franquia ficou marcada, após as duas adaptações protagonizadas por Angelina Jolie (À Beira Mar) nos anos 2000, que eram no mínimo vergonhosas. Esse novo filme, aliás, vai inclusive na contramão de alguns dos elementos que até mesmo os jogos usufruem e isso, no entanto, se faz um grande problema. Enquanto uma parcela desse novo Tomb Raider apela a todo custo por um realismo, mesmo que com cargas de suspensão de descrença, outra parcela nada mais é do que tola.
É até curioso a divergência entre os tons, ora apelando a um humor que é mais ingênuo que qualquer outra coisa, ora apelando para uma explicação racional do que, até então, parecia realmente se tratar de algo sobrenatural. É aqui, entretanto, que percebemos outra falha no filme. Porque, apesar de ter esse discurso com um certo flerte ao sobrenatural, o filme nunca dá o direito ao espectador em, de fato, cogitar a possibilidade de algo assim. O próprio filme parece duvidar da veracidade e encara sempre de um ponto de vista lógico, o que somente o prejudica, pois perde o efeito catártico possível disso.
Mas, mais do que isso, Tomb Raider – A Origem também se perde dessa maneira. A diferença entre começo e final do filme -e nem me refiro a última cena, que é vergonhosa mesmo- é preocupante porque parecem seguir caminhos diferentes. Enquanto um opta pela leviandade, outro opta pela seriedade, mas simultaneamente nenhuma das propostas se sustenta até o filme. Uma precisa ceder para tentar fazer o emocional funcionar; outra, precisa ceder por puro devaneio do roteiro. Contudo, são muitas oportunidades desperdiçadas justamente por esse descaso que o filme tem com o que quer e tenta estabelecer sobre a nova Lara Croft.
É mais correto dizer que Alicia Vikander (A Luz Entre Oceanos, A Garota Dinamarquesa) constrói uma boa personagem, do que o roteiro do filme. A atriz, longe de seus melhores trabalhos inclusive porque o material não a auxilia, acaba demonstrando mesmo sua competência para segurar o filme. É cativante e convincente por si só, faz o suficiente para que encaremos a personagem com a credibilidade que merece apenas com seu talento, algo do qual poucas vezes o filme sabe tirar proveito. Um exemplo disso é o primeiro embate da personagem contra um dos capangas do vilão. Um momento de brilhantismo da atriz, de transformação da personagem.
A atriz encara o momento como deve ser, e por isso mesmo é de encher os olhos uma fragilidade que se vê brutalizada. Vikander torna a atitude da personagem em um momento chocante de todas as maneiras possíveis, mas o filme faz questão de não dar um momento sequer de respiro, e lança de maneira imediata algo que torna o grande momento para a personagem, até então, em um que será facilmente esquecido. Menos por sua execução, porém, e mais por sua distribuição em meio a história, que se vê preso nas mãos de um diretor e uma produção que não sabem usufruir de um momento de calmaria.
Sem querer, acaba sendo inclusive uma forma de repreender, também, a trilha sonora de Tom Holkenborg (o Junkie XL). O compositor parece apenas reutilizar, com algumas levíssimas alterações, suas trilhas para Mad Max: Estrada da Fúria e Batman vs Superman: A Origem da Justiça. Um trabalho incomodo para o público, e preguiçoso para o -uma vez- promissor músico. É só outra prova, porém, de como o filme falha em estabelecer sua proposta, pois em muitos momentos vai se sustentar justamente na trilha sonora para impor um tom de urgência à ação em cena. O resultado é algo que raramente tem sua própria identidade.
Na verdade, Tomb Raider funciona muito mais nos momentos em que a Lara Croft de Alicia Vikander age de maneira solo. Sem precisar de interesses românticos, sem precisar ser salva no último segundo, sem precisar de flashbacks ou alívios cômicos sem qualquer graça. Quando a personagem pode ser o que realmente é, o filme respira ares de novidade. Talvez a única exceção seja com alguém que merece uma menção honrosa.
Walton Goggins (Os Oito Odiados) em sua primeira cena, contracenando com Alicia Vikander, acredita tanto em seu texto que até toleramos a insistência incansável do roteiro em frisar que se passaram sete anos desde o desaparecimento do pai de Lara. Porque ali, naquele momento, ele é um vilão impressionante e digno, assombroso. Uma pena que depois seja subutilizado em prol de uma trama que tenta desenvolver uma franquia a força, outra vez se sustentando em algo que não tem o mínimo peso.
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