Extraordinário (Wonder, 2017); Direção: Stephen Chbosky; Roteiro: Stephen Chbosky e Steven Conrad e Jack Thorne; Elenco: Julia Roberts, Jacob Tremblay, Owen Wilson, Izabela Vidovic, Danielle Rose Russell, Mandy Patinkin, Daveed Diggs; Duração: 113 minutos; Gênero: Drama; Produção: Michael Beugg, Dan Clark, David Hoberman, Todd Lieberman; País: Estados Unidos; Distribuição: Paris Filmes; Estreia no Brasil: 07 de Dezembro de 2017;
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Extraordinário (Wonder) aparenta ser um casamento perfeito. Primeiro porque Stephen Chbosky havia encontrado em As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower) -seu primeiro filme e adaptando sua própria obra- uma maneira singular de chegar até seu público, especialmente àqueles a partir da faixa da pré-adolescência até os primeiros anos da vida adulta, por ser um filme que ao falar com honestidade gerava amparo ao espectador. Do outro lado há Jacob Tremblay, ator mirim que arrebatou ao público em O Quarto de Jack (Room) e depois, durante aquela temporada de premiações, conquistou corações a torto e a direito com seu carisma e ingenuidade infantil.
De quebra ainda há a seu favor a conexão afetiva externa do público com o ator Owen Wilson, que certamente fará muitos remeterem a outra obra de sua carreira aqui, num feito que mesmo não sendo a intenção do filme se faz inevitável. Por fim, há a estabilidade de Julia Roberts, que apesar de não ser a protagonista é indiscutivelmente o grande nome dentre o elenco, não sendo apenas uma questão que diz respeito a carreira, mas pelo que se vê em cena, onde o trabalho da atriz é de uma gritante superioridade. Porém, com tudo isso em mente, a realidade é que o casamento apenas parece perfeito.
A princípio Extraordinário parece estar prestes a imprimir um trabalho que reflete o amadurecimento na carreira de Chbosky, contudo o cineasta perde o fio da meada e o filme desanda entre um ato e outro, ruindo aos poucos. Há algo constante que permeia a adaptação da obra homônima, da autora R. J. Palacio, que aos poucos vai tornando claro como o filme não consegue sustentar seus personagens somente com o visto aqui, e as atuações em pouco auxiliam, na maioria dos casos. Assim, é preciso induzir o público forçadamente ao sentimento catártico que o desenvolvimento narrativo se vê incapaz de entregar.
O que é frustrante porque em muitas oportunidades Chbosky consegue conduzir as situações sem recorrer a emocionalismos baratos, sem deixa cair ao piegas, sendo uma exceção os momentos que realmente requerem tais características, o que é plenamente compreensível de existir. Entretanto, soa de maneira superficial quando mais se é preciso tocar o público. A exemplo até da pré-fabricada conexão do público com Owen Wilson, que se mostra falha ao precisar justamente desse apelo, afinal quando visada de maneira independente, no que o filme constrói, é insuficiente para gerar qualquer comoção. Problemática também de uma narrativa que, reciprocamente, falha com seus personagens.
Esse é o principal problema de Extraordinário, porque há uma falha de comunicação. O filme possuí claramente um público alvo em mente para agradar e conquistar no todo, porém simultaneamente tenta dialogar com diferentes faixas etárias. As crianças precisam ser reconhecidas por seus iguais e se mostrar comoventes aos mais velhos; Os adolescentes precisam estar em uma limiar que contemple uma amplitude variada de públicos, e o mesmo aqui serve para os adultos. São diferentes frentes que precisam ser trabalhadas e desenvolvidas e ainda dependem do tempo que possuem em cena. O resultado do que se tenta fazer é desastroso justamente por se perder.
A maneira com a qual o filme encara seus personagens é de uma completa infelicidade, porque enquanto trata corretamente de forma ingênua a trama que permeia o Auggie de Jacob Tremblay e seus colegas de classe, ao permitir que isso seja transpassado para o restante dos personagens acaba gerando algo que é em si destoante. Mais do que piegas, portanto, acaba comumente nos brindados com sequências de um feitio constrangedor, onde a qualidade de praticamente tudo o que se vê é contestável, das atuações às composições cinematográficas, aos diálogos que são um teste de paciência e desafiam o bom senso.
O maior entrave é, no entanto, como isso consegue absorver todo o peso que palavras, ações e imagens deviam ter. Soa vazio em muitos momentos, porque é de uma artificialidade sobressalente. Auxiliada muito por momentos como os protagonizados pelas jovens atrizes Izabela Vidovic e Danielle Rose Russell, que demonstram uma dificuldade enorme em seus papéis e onde Stephen Chbosky não consegue imprimir uma forma de compensar ao que é entregue por elas. A narração em voz over aliada a isso só reforça o quão equivocado é o todo, onde o desenvolvimento das personagens e atrizes é retido em prol de um didatismo inconveniente.
Jacob Tremblay esbanja carisma e já possuí uma forte presença em cena, conseguindo assim se sobressair aos problemas apresentados pelo texto do filme. Mesmo assim, é um trabalho que sequer chega perto do que foi visto há 2 anos atrás, mas há, ainda, potencial de sobra no garoto. Julia Roberts é o principal nome em Extraordinário, mesmo não tendo, também, uma atuação que seja memorável. A diferença é que a atriz sabe o que faz e contorna com sua experiência o melhor que pode as falhas que encontra, não que se faça completamente isenta delas -missão quase impossível. Assim, é visível que a ingenuidade predomina em Extraordinário e, em termos de desenvolvimento, é prejudicial. Enquanto se pode dizer que parte da proposta é aliviar ao espectador da dura realidade no mundo fora da tela, o resultado final é algo que perde a oportunidade perfeita de ser ainda mais contundente neste sentido.
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