Título original: While We’re Young
Direção: Noah Baumbach
Roteiro: Noah Baumbach
Elenco: Naomi Watts, Ben Stiller, Maria Dizzia, Adam Horovitz, Amanda Seyfried, Adam Driver e Charles Grodin
Produção: Noah Baumbach, Eli Bush, Scott Rudin e Lila Yacoub
Estreia mundial: 27 de Março de 2015
Gênero: Comédia, Drama
Duração: 97 minutos
Classificação indicativa: 17 anos
Antes de começarmos o nosso diálogo,deixo o convite para ouvir : Forever Young by Alphaville. Pois, clichês e boa música podem entrar na roda de conversa.
Enquanto somos jovens é uma história de um casal em crise, onde a identidade de ambos se perdeu na relação. E com o passar dos dias, também esqueceram um dos outros. Não existia ali mais Cornelia e Josh, personagens construídos por Naomi Watts e Ben Stiller. Então, começa dois caminhos para eles: o reencontro ou a separação.
Noah Baumbach, que já nos apresentou propostas singulares como Frances Ha e A lula e a baleia, mais uma vez expõe o conflito de gerações de seus personagens, o que remete simbolicamente ao trabalho de Woody Allen, uma vez que Noah é discípulo de Woody. Mas ainda lhe falta a precisão de diálogos que Woody nos enriquece.
Ao classificar um filme considero todos os aspectos técnicos, e Enquanto somos jovens se apresenta como uma produção mediana, e tem como plano de fundo a cultura hipster. Mas para estar na minha lista, um bom filme tem que me levar a boas discussões, principalmente aqueles que me remetem aos relacionamentos líquidos que vivenciamos na contemporaneidade. É por essa razão que nesta quinzena quero conversar sobre um movimento que o filme articula de maneira bem significativa: a busca pela felicidade em si e no Outro.
O que é a felicidade nos dias atuais? Mas antes de explorarmos essa pergunta, vamos passar pela origem da felicidade. O seu conceito primeiramente foi explanado pela filosofia grega, para Platão a felicidade está relacionada com a virtude e a capacidade do homem de cumprir o seu próprio dever, com bondade e beleza. Já para Aristóteles, a felicidade de um homem é quando ele se encontra dentro de si “todas as coisas”. E Tales de Mileto foi bem categórico a dizer que a felicidade é “quem tem corpo são e forte, boa sorte e alma bem formada”. E agora retorno a pergunta que iniciou a sentença, com outra pergunta: no mundo contemporâneo em que vivemos porque não olhamos as belezas e deixamos “todas as coisas” escondidas em nossas raízes? Onde foi parar a alma do homem feliz?
Para essa pergunta, Freud nos apresenta o princípio do prazer, que nos diz que o ser humano é motivado pela busca da felicidade/de seus desejos, porém essa jornada pode não acontecer devido o princípio da realidade que é a impossibilidade do mundo de satisfazer nossos desejos.
E com a projeção das histórias dos personagens de Enquanto somos jovens, nos mostram pessoas preocupadas com status, em ostentar aparências enganosas – que não existem. Só para ser aceito num círculo de pessoas que também só se preocupam com a melhor foto, roupa, sexo, ser melhores em mundo que não cabe a perfeição, uma vez que ela não existe. O que me preocupa com essa cultura de vaidades é a dimensão que podemos dar para objetos secundários, e esquecermos daquele abraço ou conversa com a pessoa que realmente te olha. O nosso Outro.
Acho interessante trazer o Outro de Lacan porque ele aparece quando têm dois atores, o fio condutor do homem com todos os objetos que determinam o seu modo de ser. E grande parte dessa construção é a cultura.
A cultura é importante por nos apresentar gestos, comida, músicas, hábitos e modos de falar, então o que me intriga é o que pode nos acontecer quando estamos cultuando momentos de sentimentos e objetos secundários, e deixando celulares, redes sociais e opiniões de outras pessoas estabelecerem a maneira que devemos ser. Pois essas situações influenciam o convívio com parceiras e parceiros, filhas e filhos, família, amigos e principalmente a relação que temos com “todas as coisas” proposto por Aristóteles. Eu afirmo essa colocação, uma vez que é perceptível as mensagens de ódio nas redes sociais e nas mídias de comunicação, e principalmente ao andar na rua, dentro de casa ou ir em um restaurante e ver as pessoas preocupadas com curtidas e tirar fotos para aparentar uma real felicidade.
Hoje, o que é a tal felicidade?