Em Trânsito (Transit, 2018); Direção: Christian Petzold; Roteiro: Christian Petzold; Elenco: Franz Rogowski, Paula Beer, Godehard Giese, Lilien Batman, Maryam Zaree; Duração: 101 minutos; Gênero: Drama; Produção: Antonin Dedet, Florian Koerner von Gustorf; País: Alemanha, França; Distribuição: Supo Mungam Films; Estreia no Brasil: 11 de Abril de 2019;

Na última quinta-feira chegou nos cinemas brasileiros, a nova produção do cineasta alemão Christian Petzold, “Em Trânsito”. A realização do filme é uma adaptação do romance de 1944 da escritora alemã Anna Seghers. Infelizmente, ainda não li o livro, então minha análise de “Em Trânsito” se baseará na criação cinematográfica realizada por Petzold em seu filme.

A sinopse do filme aborda a invasão das forças nazistas, quando se inicia “uma limpeza” das pessoas ditas como comunistas e, com isso, as pessoas perseguidas pelos nazistas precisam traçar rotas de fuga do país. Nesse enredo, acompanhamos nosso protagonista Georg, o qual é uma dessas pessoas que necessita correr para salvar sua vida. Em determinado momento do filme, ele encontra pertences de um escritor e decide usar de sua identidade para tentar sobreviver dentro de uma sociedade em ruínas.

Quem lê a sinopse do filme, espera encontrar um cenário tradicional com soldados e suásticas. Com bombas, sangue, cidades destruídas, uma verdadeira desordem física da urbanização das cidades. Mas o que torna “Em Trânsito” uma das melhores estreias desse ano é justamente surpreender em relação ao ano que se passa a história e a forma criativa de abordar toda a narrativa na verdade dentro de uma sociedade contemporânea.

Em Trânsito Pôster

Através de uma narrativa atemporal, Petzold trabalha com a transitoriedade dos sujeitos contemporâneos em meio ao caos político e social, mas também que vive aos sentimentos condensados pela pressa do tempo dos dias atuais.

O filme começa trazendo o caos político e social que vivemos hoje em dia no mundo, a narrativa destaca a situação dos imigrantes e também a crescente onda de um poder político que prevê a força como elemento necessário para privar os sujeitos em busca de seus direitos humanos, bem como ir e vir quando e onde quiser. A exemplo dessa brutalidade, podemos destacar o caso que aconteceu no Rio de Janeiro, onde o músico Evaldo e sua família tiveram o carro alvejado por 80 tiros pelas forças militares. Infelizmente, o músico acabou falecendo.

Esse é um caso que mostra como Petzold tentou retratar em seu filme como nós, sujeitos contemporâneos, estamos sem segurança e sem amparo dentro de nossas próprias cidades, casas. Por isso a relação simbólica com o movimento nazista, que lamentavelmente ainda encontra seguidores que acreditam na execução de determinados grupos da sociedade, formando um corpo falecido sem representação, apagado em suas memórias e culturas.

Esse mesmo sujeito que precisar sobreviver ao descaso político e social, também têm sentimentos e desejos. No filme, Georg, precisa lidar com um novo amor, e como esse processo o transforma em busca da aceitação de sua amada. O personagem principal precisa escapar das forças nazistas, mas também se encontra apaixonado. Um clássico cenário de um amor em tempos de guerras, mas aqui o cenário de bombas é trocado por um sistema autoritário e capitalista.

Em Trânsito 02

No filme também temos de forma bem visível sujeitos que seguem apreensivos em suas ansiedades, medos, angústias, sentimentos que crescem cada vez mais dentro da sociedade atual. Aquela sensação de que o tudo nunca chegará, que a alegria parece ser uma pequena brisa que o mar canta. O sentimento que falta algo, que nada é o bastante. O enternecimento que por vezes não se sabe onde começa, mas emerge como um todo, atravessando a todo instante a transitoriedade dos corpos contemporâneos.

Petzold nos apresenta uma obra que elucida um mal-estar na civilização, que mesmo sendo contextualizado no presente, também mostra que esse mal-estar não é algo novo na sociedade e, sim, um percurso histórico que tende a repetir em novos padrões opressivos.

E dentro do contexto político e social, os sujeitos apostam em saídas para albergar suas angústias.

“Em Trânsito” – Trailer Legendado:

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