Unbreakable Kimmy Schmidt

(Netflix, 2015-)

Direção: Tristram Shapeero, Jeff Richmond, Linda Mendoza, Robert Carlock, Ken Whittingham, Shawn Levy, Maggie Carey, Steve Buscemi, Claire Scanlon, John Riggi, Beth McCarthy-Miller, Michael Engler

Roteiro: Tina Fey, Robert Carlock, Sam Means, Allison Silverman, Josh Siegal, Dylan Morgan, Dan Rubin, Leila Starchan, Meredith Scardino, Emily Altman, Azie Dungey

Elenco: Ellie Kemper, Tituss Burgess, Jane Krakowski, Carol Kane, Mike Carlsen, Ki Hong Lee, Fred Armisen, Anna Camp, Samuel Page, Zosia Mamet, Evan Jonigkeit, Lisa Kudrow, Tina Fey, Dylan Gelula, Jon Hamm, Sheri Foster, Gil Birmingham, Amy Sedaris, Chris Northrop, Doug Plaut, David Cross, Suzan Perry

Número de Episódios: 13 episódios

Data de Lançamento: 15 de Abril de 2016

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O texto contém spoilers.

Unbreakable Kimmy Schmidt surpreendeu ao ser anunciada pela Netflix, nos idos de 2014, ainda mais após ter sido recusada pela NBC. O formato da comédia, na época, parecia terreno novo a ser explorada pelo serviço de streaming. A sitcom de Tina Fey e Robert Carlock, no entanto, disfarçava uma ácida sagacidade crítica em meio ao exagero dos roteiros e na colorida estética da série. Se no primeiro ano os episódios ficaram divididos entre suas durações, nesse segundo ano eles revelam algo sobre o porquê da qualidade da segunda temporada de Unbreakable Kimmy Schmidt, que é sem sombra de dúvidas superior ao ano de estreia da série.

Nessa segunda temporada Kimmy (Ellie Kemper) precisa lidar com sua vida de volta ao mundo real, enquanto ela tenta se encaixar, mesmo depois dos duros golpes que levou da realidade fora do bunker. Porém, não vai ser tão fácil lidar com os próprios problemas, afinal, Kimmy ainda precisa ajudar Tituss (Tituss Burgess) a confrontar seu passado, Jacqueline (Jane Krakowski) a retomar seu lugar na alta sociedade Nova Iorquina e Dong (Ki Hong Lee) a encarar a verdade sobre o que há entre ele e Kimmy. Sem contar nos inúmeros outros problemas que surgem no caminho de Kimmy para complicar tudo ainda mais.

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Esse excesso de funções com qual a personagem de Ellie Kemper precisa lidar, sem que envolvam sua personagem, mas aqueles que estão ao seu redor, caminha de mãos dadas com a proposta de Unbreakable Kimmy Schmidt, que não tem medo de se exceder e, quando o faz, é algo muito bem-vindo. Porém, é em meio a isso que se percebe como Kimmy está sutilmente se afastando dos seus reais problemas, com os quais ela precisa estar lidando em sua própria vida. O que ajuda a tornar a jornada da personagem ainda mais interessante nessa segunda temporada.

Porém, nem só de Kimmy Schmidt vive Unbreakable Kimmy Schmidt, com os personagens coadjuvantes dando apoio não só necessário, mas que garantem um fôlego extra à série. Cada um com suas próprias e relevantes tramas, eles se mostram mais do que apenas alívios cômicos, com cada qual gerando mais outras possibilidades dos roteiristas da série satirizarem com situações da vida real, afinal, Unbreakable Kimmy Schmidt é uma comédia de situação (sitcom). Na maneira como a série se apodera de conceitos que geram discussões, algumas até inusitadas, é um dos méritos dessa segunda temporada, que conta com adições hilárias, como a de Fred Armisen interpretando Robert Durst.

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É a sua “parceira”, a personagem Lillian Kaushtupper (Carol Kane), que rende algumas das melhores situações nessa segunda temporada de Unbreakable Kimmy Schmidt, principalmente na sua batalha contra a gentrificação de seu bairro. O que me relembra que a participação de Zosia Mamet e Evan Jonigkeit, como hipsters usuários do Airbnb, foi tão abrupta que se deu como um grande desperdício, apesar de render boas gags. É nesse pano de fundo de Lillian, no entanto, que se constrói um discurso muito forte sobre esse processo que vem acometendo algumas regiões nos últimos anos, revitalizando a força do termo gentrificação. Resta saber como será Lillian trabalhando na política agora.

Falando em aparições abruptas, assim como foi a do veterano de guerra Keith (Samuel Page), outro desperdício narrativo, a série se estendeu demais em outros quesitos. Adoro a Tina Fey, disso não há a menor sombra de dúvidas, porém, o que vale ser questionado aqui é se sua participação não se estendeu além do que deveria. Kimmy até passou por boa reflexão ao lado de uma Tina Fey bêbada, entretanto, até onde realmente agregou o número de participações da personagem dela que, convenhamos, no episódio em que surge parece que retornará somente uma vez mais. Caminha-se para isso, até que percebemos que não é realmente o que acontecerá.

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O que parece ir por um caminho e segue por outro é a trama de Tituss nesse segundo ano. Com a adição de Mikey Politano (Mike Carlsen) como interesse romântico do personagem, o discurso de Tituss Andromedon não só se torna mais contundente, mas também literal, sendo colocado em prática. A sequência do almoço na casa de Mikey e do subsequente discurso, também literalmente, de Tituss, funcionam muito bem, mesmo o primeiro elemento não sendo o mais original com o qual a série poderia nos ter apresentado. Contudo, são sequências que cumprem sua função de forma correta, ecoando a transformação pela qual passa Tituss após encarnar seus antepassados em uma pragmática peça.

Quem mais surpreende é, no entanto, a personagem de Jane Krakowski, muito pela forma na qual se dá o trabalho da atriz para interpretar Jackie Lynn White. Mesmo com a adição de Anna Camp, que fãs de True Blood sabem como odiar, a trama flui muito bem, com alguns dos melhores momentos de Unbreakable Kimmy Schmidt vindo da trama do ressurgimento de Jacqueline White. Personagem que ganha uma sensibilidade extra e encantadora pelo carisma e pela qualidade da atuação de Jane Krakowski, um dos melhores acontecimentos nessa série até o momento, ficando a par da estrela principal.

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Unbreakable Kimmy Schmidt funciona muito por conta da Kimmy Schmidt de Ellie Kemper. É difícil imaginar qualquer outra atriz em seu lugar, principalmente pelos seus trejeitos, que já se tornaram icônicos. Suas reações são impagáveis, a energia que a atriz parece conceder para Unbreakable Kimmy Schmidt é o que faz a série ter uma aura leve e gostosa de acompanhar. Por isso o último episódio da temporada, com a participação de Lisa Kudrow, como a mãe da personagem de Ellie Kemper, funciona numa pegada emocional devastadora. A maneira como as duas realidades se confrontam nos momentos no parque de diversões é de uma beleza intensa.

Sem perder sua pegada cômica e exagerada, Unbreakable Kimmy Schmidt nos leva quase que literalmente por uma jornada de altos e baixos, sem ser melancólica. Ressalta todas as dificuldades do nosso dia a dia com uma ironia que revela como as próprias pessoas se metem naquelas complicadas situações, agindo da mesma forma que Kimmy faz nessa temporada. Nos ocupamos demais com o alheio, justamente para evitar lidar com o pessoal. Parecemos capazes de resolver todos os problemas do mundo, porque escapamos de resolver os nossos próprios problemas. Kimmy Schmidt é só uma projeção do que estamos vivendo há tantos anos sem nem percebermos…

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