Person of Interest (5ª Temporada)
(CBS, 2011-2016)
Direção: Chris Fisher, Stephen Surjik, Maja Vrvilo, Alrick Riley, Kate Woods, Kenneth Fink, Margot Lulick, Frederick E. O. Toye, Tim Matheson, Greg Plageman
Roteiro: Greg Plageman, Tony Camerino, Lucas O’Connor, Erik Mountain, Denise Thé, Andy Callahan, Melissa Scrivner Love, Hillary Benefiel, Sabir Pirzada, Jacey Heldrich, Joshua Brown, Jonathan Nolan
Elenco: Michael Emerson, Jim Caviezel, Amy Acker, Sarah Shahi, Kevin Chapman, Enrico Colantoni, John Nolan, Brett Cullen, Carrie Preston, James LeGros, John Doman, Annie Parisse, Wrenn Schmidt, Joshua Close, Oakes Fegley
Número de Episódios: 13 episódios
Período de Exibição: 03 de Maio a 21 de Junho de 2016
O texto contém spoilers.
Person of Interest atingiu seu ápice na incrível quarta temporada, encerrada no ano passado. Se mostrando um desafio aos padrões de séries procedurais, com roteiros de estruturas surpreendentes, e mais do que estupendas em casos como do episódio If-Then-Else, foi uma surpresa não ver a série no calendário da Fall Season da CBS, que só algum tempo depois confirmou ter renovado a série para uma quinta temporada, que viria reduzida e encerraria Person of Interest. A notícia surgiu trazendo uma ideia plausível, afinal, Person of Interest aparentava estar indo de encontro a tudo que seu potencial permitia. Assim, o que resta saber é se as expectativas eram altas demais ou os realizadores se contentaram com menos.
Com o início quase que imediatamente após o final da quarta temporada, a impressão inicial é de que a série estabelecerá por completo, finalmente, o formato conhecido como serialized storytelling, que é no qual se dão as séries na televisão à cabo norte-americano, que descarta o uso de episódios ao estilo caso da semana (procedural). Porém, Person of Interest logo retorna à forma dos seriados da CBS e, postergando seu final, começa a desenvolver casos da semana. Por mais que envolva alguns deles à trama principal, essa escolha parece atrasar a urgência necessária para esses episódios finais.
É como se o final não estivesse próximo, como se o Samaritan não estivesse trabalhando a todo vapor para encontrar ao Team Machine e acabar com nossos heróis de uma vez por todas. A mais pura verdade, nua e crua, é que pouco do que antecede o décimo episódio é realmente digno da Person of Interest que conquistou inúmeros fãs ao longo de quatro anos. A verdade é que, como fã aguardando por um final digno do que sabíamos que poderia ser, há uma certa sensação de decepção em relação ao que se vê, que não só fica abaixo das expectativas, porém, vai além disso e se rende ao mais simples daquilo que vimos nas quatro temporadas anteriores da série.
A frustração poderia ser desconstruída, em casos como o do quarto episódio, que traz Sameen Shaw (Sarah Shahi) de volta. Contudo, ao contrário do que se imagina há uma reviravolta no final. Essa reviravolta é algo que se espera de Person of Interest, todavia o restante do episódio é justamente o que não se queria ver, com exceção, é lógico, da consumação do romance entre Shaw e Root (Amy Acker). Pobre em diálogos, com atuações medianas, recorrências de clichês e tudo na esperança de que o público aceitará isso, porque, de acordo com a reviravolta final, era tudo uma simulação, então se faz necessária a simplicidade.
Aliás, Person of Interest pegou exatamente aquilo que foi evidenciado em If-Then-Else no ano passado, onde apontou as próprias limitações a que se impunha. No entanto, ao invés de usá-las para o próprio bem, mergulhou nelas e as assumiu como sua realidade. Então, por mais que muitos não queiram aceitar, sofre-se com a “atuação” de Jim Caviziel ao longo de nove episódios recheados de clichês, conveniências utilizadas pelos roteiristas para amarrar tramas, frases de efeitos constrangedoras e uma série muito aquém ao que se esperava. É fato que a série, assim, pode entreter, porém, os grandes momentos dos episódios eram aqueles que faziam referência direta ao que tanto se esperava.
A transição de Harold (Michael Emerson) acontece de maneira sutil, em um segundo plano, não à toa ele acompanha Elias (Enrico Colantoni) em momentos chaves de alguns episódios. As escolhas que ali vão sendo feitas culminam no destino ao qual a srta. Groves, ou Root, e Harold estão fadados a enfrentar no último ato do décimo episódio. É quando, não somente Harold, mas a própria série parece acordar para o chamado que estava a sua frente o tempo todo. É após uma das melhores cenas da série, em um dos diálogos mais sensacionais de Person of Interest, que Harold Finch sai da custódia policial para atender ao telefonema no qual tanto a máquina que ele criou, e que escolheu a voz de Root para si, como ele mesmo assumem aquilo o que são.
Assim Harold Finch adentra ao seu “lado negro da força”, que é ele, que é quem realmente Harold é. Porque é um lado que ele mesmo desconhecia, e que precisava conhecer para, só então, enxotar aquilo que tanto temia caso colocasse tal poder nas mãos de outro alguém. Ultrapassar a moral e as regras que estabeleceu para “jogar”, era uma necessidade com a qual Harold precisava lidar para que ele, como criador, e a máquina, como criatura, pudessem se entender por completos e confrontar aquilo que colocava em risco a segurança do mundo como o conhecemos. Entretanto, até esse confronto sofreu com as escolhas feitas para Person of Interest.
A introdução de uma ameaça ao presidente, resolvida numa simplória trama secundária, falhou, assim como boa parte dos nove primeiros episódios da temporada, em não exibir uma urgência em relação ao perigo que ali estava. A desculpa de que era para introduzir um novo grupo de heróis, que os nossos próprios heróis inspiraram, se enfraquece diante dos flashforwards de futuros prováveis no episódio seguinte ou, mais forte nesse caso, na cena que encerra Person of Interest. É uma subestimação do público que não se fazia necessária, assim como mostrar o cadáver de Root no décimo episódio. Para bom entendedor, meia palavra basta, e Person of Interest sempre pareceu sagaz o suficiente para compreender isso.
A série foi, por exemplo, sagaz o suficiente para não se importar com o fato de que é piegas como trata o segredo da vida. Porque é onde Jonathan Nolan faz o que sabe de melhor, é onde ele atua como as grandes mentes que o inspiram. Não é à toa que o segredo da vida, ou algo semelhante a isso, se dê em uma conversa em um bar, em uma noite que é quase como outra qualquer. A lembrança do que é dito naquele exato momento é um recado, quase que numa metalinguagem, para o público, onde Person of Interest diz aos seus fãs que aqueles personagens estarão sempre ali, porque é a mesma maneira que no mundo diegético da série os personagens que se foram ao longo dos anos conseguem sobreviver, para sempre.
Por mais que a sensação final, pensando na temporada como um todo, seja a de que estes personagens mereciam mais, o encerramento de Person of Interest, o caminho final escolhido a ser seguido, faz jus ao que a série sempre ofereceu de melhor ao longo dos anos, faz jus ao que os roteiristas e diretores da série sempre se comprometeram a entregar, faz jus aos personagens que os atores construíram e com quem conquistaram uma legião de fãs. Por mais que não se encerre em uma temporada perfeita, Person of Interest tem um final que explora dignamente tudo o que debateu ao longo de cinco temporadas, com um discurso que não só deixa saudades, mas clama aos fãs, com razão, para que não deixem, tanto a série como suas próprias escolhas pessoais, a nunca serem em vão.