Shazam! (2019); Direção: David F. Sandberg; Roteiro: Henry Gayden; Elenco: Zachary Levi, Mark Strong, Asher Angel, Jack Dylan Grazer, Grace Fulton, Faithe Herman, Ian Chen, Jovan Armand, Djimon Hounsou; Duração: 132 minutos; Gênero: Aventura, Comédia, Fantasia; Produção: Peter Safran; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 04 de Abril de 2019;
É inevitável afirmar o quanto “Shazam!” denota uma mudança nos rumos de um Universo Cinematográfico que se tentou estabelecer, inicialmente, em “Batman vs Superman: A Origem da Justiça”. Filme cuja personagens existem aqui, bem como os super-heróis vistos em “Liga da Justiça” e no mais recente “Aquaman”, com alguns dos feitos destas figuras sendo reconhecidos, ainda que de maneira extremamente tímida. É uma via de duas mãos, ao mesmo tempo que pertence ao mesmo “espaço”, o filme de David F. Sandberg quer manter certa distância, até pela mudança no tom, mas sem abrir mão, completamente, de temas mitológicos compartilhados, como os desenvolvidos em “Mulher-Maravilha”.
Com uma toada mais semelhante a “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”, e indo na onda de sucessos com o foco em crianças e adolescentes e ares “oitentistas” saudosos, como “Stranger Things” e “It – A Coisa”. Ou seja, a aposta é num tom mais leve, até por casar com a proposta do protagonista, onde um adolescente é agraciado com superpoderes. Assim, é também óbvio se imaginar outros filmes dos quais este vai ter como referência, mas deixando claro que seu principal objetivo, aqui, é entreter, divertir. Tanto é que até seu escopo é claramente inferior à todas as outras adaptações da DC desde “O Homem de Aço”.
O escopo mais comedido influencia diretamente na narrativa de “Shazam!” que, apesar de conter alguns dos temas citados, dá preferência a desenvolver algo que faz extrema questão de ser simples, não só visando uma compreensão mais ampla por todos os públicos – após turbulências executivas na DC “Aquaman” já chegou apresentando um apelo maior a um público muito mais jovem-, mas também apostando em uma fórmula em que se abre mão da pretensão como uma forma de evitar não só maiores, todavia também quaisquer complicações. O que não é problema algum, visto que funciona e é acompanhando pelo bom-humor do filme.
Mirar um público alvo infantil, no entanto, não quer dizer que não se aproveite oportunidades para referenciar a filmografia do diretor no comando, com pelo menos uma sequência estrelada pelo vilão, interpretado por Mark Strong, fazendo uso de artifícios dos gêneros de suspense e terror. O que também não quer dizer que Sandberg se sobressaia ao construir uma narrativa visual, muito pelo contrário. É refém de escolhas completamente genéricas e até de seu próprio histórico, até encontrando uma maneira de inserir sua esposa em mais uma participação especial em um de seus filmes. O resultado, nesse quesito, não é muito animador.
Por mais que em alguns pontos seja colorido, é a característica que vemos em quem antagonizará o personagem título que impera sobre todo o filme. “Shazam!” parece deslocado no espaço, situado em uma daquelas cidades de estúdio que pouca ou nenhuma vida trespassa; com exceção de uma meia dúzia, ou algumas mais, de piadas –a maioria envolvendo a graciosa atriz mirim Faithe Herman– é no geral um filme insosso. Isso porque, por mais que sua simplicidade narrativa funcione, num ciclo completo, falta a alguns elementos maior força para obterem o efeito realmente desejado, porque, da forma como é, tudo acontece de maneira formal demais.
Há toda uma dubiedade questionável no filme porque falha no desenvolvimento das figuras paternas. Tanto a que tenta explicar o vilão, como a do protagonista em sua versão adolescente. Quanto aos pais adotivos de Billy Batson (Asher Angel) a atenção que lhes é dada é insuficiente para que tenhamos qualquer apego. Há a clara intenção de construir uma família que o público possa abraçar, mas a verdade é que estes coadjuvantes servem muito mais como um alívio cômico leviano do que a função catártica que se imagina possuir. Por mais que seja relacionável, a sensação é a de que falta algo.
Falta o que David F. Sandberg não é capaz de produzir: autenticidade. Seja ela narrativa ou visual, o diretor falha em ambos os quesitos. O mais gritante é isso, um filme cuja elementos aspiram por jovialidade, mas no qual a execução é a mais quadrada possível. Pouco é, de fato, memorável, inclusive as músicas inseridas aqui e lá como uma tentativa de dar um apelo mais popular a “Shazam!” não funcionam, porque não fazem a mínima diferença, como a trilha sonora de Benjamin Wallfischer no todo. Assim, ainda que seja capaz de entreter com demasiada simplicidade, o filme fica aquém de seu próprio personagem e em débito com si próprio naquilo que mais precisa e, contudo, falha em desenvolver.
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