Se a Rua Beale Falasse (If Beale Street Could Talk, 2018); Direção: Barry Jenkins; Roteiro: Barry Jenkins; Elenco: KiKi Layne, Stephan James, Colman Domingo, Teyonah Parris, Michael Beach, Dave Franco, Diego Luna, Pedro Pascal, Emily Rios, Ed Skrein, Finn Wittrock, Brian Tyree Henry, Regina King; Duração: 117 minutos; Gênero: Drama, Romance; Produção: Megan Ellison, Dede Gardner, Jeremy Kleiner, Adele Romanski, Sara Murphy, Barry Jenkins; País: Estados Unidos; Distribuição: Sony Pictures; Estreia no Brasil: 07 de Fevereiro de 2019;
Dois anos após o choque tomar conta com a vitória surpreendente de “Moonlight – Sob a Luz do Luar“, um filme independente, de baixo orçamento de bilheteria, tendo um elenco negro, venceu o afago hollywoodiano “La La Land – Cantando Estações“, um filme sensação e além de ser campeão de bilheteria e público. Havia um vácuo entre os dois projetos, tão distintos, um que emulava a vida real de um negro americano, outro que retratava os sonhos de dois indivíduos brancos que se refletiam no jazz e no cinema, algo quase remoto da realidade de ambos. Barry Jenkins, diretor vencedor do Oscar, retorna com “Se a Rua Beale Falasse“, um dos longas mais mágicos desse Festival do Rio. Simplesmente por ele conseguir encontrar o equilíbrio entre o realismo, presente em sua obra anterior, e o sonho, ironicamente presente naquele que fora seu rival no Oscar.
Não sei se é irônico, provocativo ou alguma forma de homenagem, sobretudo pelo primeiro ato emular muito o tecnicolor, com cores vibrantes, trilha sonora bastante participativa na narrativa e aquele anúncio de sonho impossível, em meio a relação de um casal. Adaptado do romance homônimo de James Baldwin, a história acompanha a vida de Tish (Kiki Layne), uma jovem que está gravida e com o marido Fonny (Stephan James) preso injustamente, pois não cometeu aquilo de que o acusam. O longa é episódico, em três atos que vão se construindo em flashes do passado com o presente. O romance retratado com a euforia de sonhar, fazer planos, na convicção do pertencimento um ao outro. Infelizmente, é interrompido pelo realismo da vida: a injustiça, a miséria de viver o dia a dia. Tais contrastes são feitos de forma dura, porém extremamente lírica. Jenkins desempenha um domínio de mise-en-scène espetacular, que transformam do sonho à tragédia e daí para seu caminho derradeiro.
O casal vivido por Kiki Layne e Stephan James encarna com maestria seus personagens, fugindo de estereótipos, com um roteiro bastante sincero, eles conseguem oscilar entre a inocência e a perda desta mesma. O principal fator, tanto da performance quanto do roteiro é perceber exatamente isso, quando ambos se deparam com um fato cruel: o amor não supera todos os obstáculos e ainda mais nos dias atuais, consegue ser absurdamente trágico. É uma constatação demolidora, sobretudo ao cinema americano, ao qual passou a vender muito essa ideia falsa do amor idílico. Jenkins sabe aonde quer chegar, ele trabalha em cima do sonho para desconstruí-lo, transformando algo maior, uma parábola sobre essa América, aonde é permissível o sonho e o amor para certas pessoas – como um amante do jazz ou uma aspirante a atriz, por exemplo. Todo elenco de apoio rouba a cena e desempenha os momentos mais gloriosos da projeção, com menção especial para Regina King (“American Crime“),uma das melhores atrizes em atividade, que consegue seu momento no cinema finalmente, e Colman Domingo, absolutamente bárbaro.
“Se a Rua Beale Falasse” pode ser considerado quase um anti-romance. Em proporções épicas, um filme sobre Amor (em maiúsculo) onde racismo é uma temática quase secundária, se propondo em ir além e demonstrar como a segregação é muito mais ampla, limitando o ato de amar. É algo tão potente, numa narrativa que visa render a crueldade perante a beleza. É um daqueles filmes que se falará por muito tempo. Pode não ter a linearidade de “Moonlight“, porém tem a grandeza de um espetáculo. E isso o torna um dos filmes mais necessários e potentes. Extremamente marcante e belo.
“Se a Rua Beale Falasse” – Trailer Original:
Esse texto faz parte da cobertura do 20º Festival do Rio.
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