Crítica | Moonlight – Sob a Luz do Luar

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Moonlight – Sob a Luz do Luar (Moonlight, 2016); Direção: Barry Jenkins; Roteiro: Barry Jenkins; Elenco: Trevante Rhodes, André Holland, Janelle Monáe, Ashton Sanders, Jharrel Jerome, Alex Hibbert, Jaden Piner, Naomie Harris, Mahershala Ali; Duração: 110 minutos; Gênero: Drama; Produção: Adele Romanski, Dede Gardner, Jeremy Kleiner; Distribuição: Diamond Films; País de Origem: Estados Unidos; Estreia no Brasil: 23 de Fevereiro de 2017;

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O que mais se pode falar sobre Moonlight – Sob a Luz do Luar? O que fará uma crítica a mais para agregar a algo do qual até mesmo este, que aqui escreve, tanto já viu, leu e ouviu sobre? Não foram poucas as análises, aquelas que não continham spoilers, com as quais me deparei. Desde as que sintetizavam tão bem que até youtuber brasileiro fez questão de “replica-las”, até a de colegas, mais colegas e até mesmo conhecidos. Dentre todas, porém, a que mais me tocou e, talvez, meu texto favorito sobre o filme, é a crítica para o filme no New York Times, escrita por A.O. Scott -um dos melhores profissionais da atualidade, senão o melhor.

Longe de querer competir com qualquer um dos aqui citados, mas postergando o descobrimento do filme, tendo o assistido somente dois dias antes do Oscar e escrevendo após a chocante e surpreendente vitória na noite de Domingo, não só minhas palavras me falham, pelo tanto que já foi recebido de elogios pelo filme, como me é difícil pensar, elaborar, sentenças que não sejam mais do que redundantes na constatação de que Moonlight é, sim, o melhor filme lançado em 2016 nos Estados Unidos.

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Do mais pessoal que me toca naquilo que cerceia ao filme, é em relação ao meu pungente egoísmo. Tudo porque, dada certas circunstâncias, tive de esperar tanto tempo para apreciar o que, meses atrás, havia me deslumbrado de tal forma que lembro com vasta clareza. Vivo cotidianamente caçando trailers, não que me orgulhe disso, mas às vezes acabamos encontrando pérolas que, no final das contas, tem tudo para se tornarem o melhor filme do ano. A euforia pós lançamento do trailer, no canal da A24, me fez compartilhar incansavelmente a prévia em redes sociais, em Agosto do ano passado, quando pouco ou nada se comentava sobre o filme. Desde então venho acompanhando o crescimento, que culminou na vitória do último domingo, como na esperança anterior que se tinha disso acontecer, fazendo com que a Diamond Films, distribuidora do filme no Brasil, fizesse uma verdadeira lambança com seu lançamento por aqui.

Entendo a necessidade da estreia na semana do Oscar. A possibilidade de se atrair ao público. Mas talvez essa seja a grande lição do filme de Barry Jenkins. Feito com tão pouco, aparentemente com tal simplicidade, mas ainda assim completamente arrebatador, um filme devastadoramente completo e, igualmente ao seu trailer, deslumbrante. Só que tudo isso em prol de uma história que, em si, tem suas simplicidades. Contudo, no geral tais histórias, mesmo simples como essa, nunca tiveram espaço, se é que hoje o tem. Pois, mesmo nos Estados Unidos, com todo o falatório voltado para si, o filme da singela A24 não chegou a ficar entre as 100 maiores bilheterias de 2016. Seu custo-benefício, porém, não foi dos menores.

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Todo esse discurso recaí sobre o porquê de não termos a possibilidade de abraçar com maior frequência filmes tais como este. A resposta, infelizmente, também é bem simples. A grande vitória de Moonlight é vencer um prêmio por ser si próprio, por ser autêntico ao contar uma história que, longe de ser única, se faz singular. Que se constrói numa excelência de sensibilidade, esbanjando delicadeza para encarar seus personagens, que de tão ficcionalmente funcionais se fazem tão próximos da realidade, uma história que se apresenta ao público como um convite a compreensão de um lado que pouco se ouve.

A marginalidade de seus personagens é duplamente dolorosa. Porque representados como figuras marginais, a maioria das vezes é à margem que vivem, por escolha própria. E num elenco todo formado por afro-americanos, a própria comunidade delineia limites, e margens. A Teresa de Janelle Monáe (que também brilha em Estrelas Além do Tempo) é rebaixada dentro da própria sociedade na qual vive. O Juan de Mahershala Ali (desperdiçado em Luke Cage), então, sofre ainda mais. Enquanto este último tem mais tempo em tela, o faz valer numa das cenas mais brilhantes do ano, quando o amargor, a dubiedade e a ambiguidade do personagem se fazem pesar sobre Little de Alex R. Hibbert, enquanto Ali interpreta com maestria o desamparo por uma realidade da qual não pode escapar.

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Naomie Harris (que também estrela o medonho Beleza Oculta), a única no elenco a se fazer presente nos três períodos distintos, parece fazer ecoar mais do que a individualidade da história para Barry Jenkins. Porque o que o diretor e roteirista constrói tanto com a personagem de uma estupenda Naomie Harris, como a de um agora consagrado Mahershala Ali, vai além das figuras que o autor tem em sua vida. Aqui Moonlight assume para si e revela para nós a sina que se faz da narrativa circular de nossas vidas. O embate com aquele em que relutantemente nos tornamos, a divina tragédia de nossa conexão maternal com quem nos deu vida.

Moonlight – Sob a Luz do Luar faz muito pelas minorias que retrata, e deve ser exaltado por tal. Mas o fato de ser capaz de superar as barreiras do preconceito e cravar a relevância e importância igualitária de que, assim como as brancas ou quaisquer outras, as vidas negras também importam tanto quanto, em seus mínimos detalhes, é algo mais que necessário em tempos nos quais enfrentamos tantos retrocessos. A história de Barry, Tarell, Little, Chiron, Black e Juan é deles, e só deles. Aqui eles se apropriam do que lhes é seu por direito. Aqui, numa escolha nada simples, eles se apropriam de suas próprias vidas.

Trailer Legendado:

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