Festivalizando | A Câmera de Claire

A Câmera de Claire (La caméra de Claire, 2017); Direção e Roteiro: Hong Sang-soo; Elenco: Isabelle Huppert, Min-hee Kim, Shahira Fahmy, Jang Mi Hee, Mi-hie Jang, Jin-young Jung; Duração: 69 minutos; Gênero: Drama; País: Coreia do Sul, França; Distribuição: Pandora Filmes; Estreia no Brasil: 10 de Maio de 2018;

Seja a sua estrutura ou sua temática, o diretor sul-coreano Hong Sang-Soo sempre repete em seus filmes os mesmos arquétipos, não por acaso sua filmografia é totalmente linear. Contudo, é um daqueles casos onde o diretor pode até fazer o mesmo tipo de filme várias e várias vezes, porém ele faz com tanto carinho e talento que buscamos sempre ver diferentes visões sobre uma mesma história. É justamente esse o encanto de “A Câmera de Claire”, novamente uma estória focada sobre a necessidade de esperar por algo acontecer, tendo uma relação de ambiguidade com o tempo – ele é seu inimigo na mesma proporção que passa a ser seu aliado.

A trama é focada na personagem de Kim Min-hee, uma assistente de produção competente que é subitamente demitida por sua chefe sem qualquer explicação concreta. O tempo passa e nossa personagem se encontra durante uma edição do prestigioso Festival de Cannes, onde encontra por acaso a francesa Claire (Isabelle Huppert, indicada ao Oscar por Elle), uma ávida professora e também fotógrafa, que começa a interagir não só com ela, mas também com as pessoas que cercam seu passado: sua ex-chefe e seu marido, um diretor de cinema garanhão e infiel. A francesa aprecia tirar fotos das pessoas que se relaciona, a partir daí que começa uma interação indireta entre esses personagens.

Câmera de Claire 02

Sang-Soo reflete um cotidiano realista e de forma poética, quase todos os diálogos são de um tipo que qualquer pessoa costuma ter. Porém, é no lirismo em compor seus personagens que ele dá uma dimensão muito maior ao banal. Nessa letargia notória em optar pela inércia, ao contrário de resolver seus problemas, tentar deixar o tempo simplesmente apagar mágoas nas quais não haverá solução sem comprometimento. Podemos muito bem dizer que o cerne do longa-metragem se dá na personagem de Isabelle Huppert (soberba, como sempre), que é quase uma alegoria sobre o Tempo. Como o tempo edifica, constrói e, ao mesmo tempo, implode os mais gravíssimos dilemas. Diante disso, nunca saímos os mesmos, mesmo havendo resistência dessa mudança. É como Claire fala ao tirar uma foto “cada pessoa fica diferente depois de uma foto. Ela renasce”. É exatamente isso, após cada momento de nossas vidas, bons ou ruins, podemos até estar aparentemente iguais, porém somos pessoas completamente diferentes do que eramos.

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É um filme que de tão poético chega a ser mágico. Contudo, é uma experiência para poucos, quem deseja realmente abraçar a proposta, pois é completamente anti-narrativo, felizmente fugindo do lugar comum. “A Câmera de Claire” é uma obra melancólica e extremamente engrandecedora, uma baita surpresa de um cineasta que nos diz muito falando sobre coisas tão simples e até banais. Precisamos, portanto, começar a dar importância para isso, o uso do “zoom” feito pelo diretor como forma de corte também é uma metalinguagem de aproximação com o cotidiano, expondo a necessidade de valorizarmos enquanto estamos nessa jornada com o Tempo.

A Câmera de Claire – Trailer Legendado:

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