Custódia (Jusqu’à la Garde, 2017); Direção e Roteiro: Xavier Legrand; Elenco: Léa Drucker, Denis Ménochet, Thomas Gioria, Mathilde Auneveux, Jean-Marie Winling; Duração: 93 minutos; Gênero: Drama; Produção: Alexandre Gavras; País: França; Distribuição: Supo Mungam Films; Estreia no Brasil: 05 de Julho de 2018;
É difícil julgar a estréia de um diretor, principalmente quando essa primeiro trabalho é de tamanha grandeza, fica aquele clima de desconfiança que se trata de uma sorte de iniciante. Torcendo para que não seja, pois a estréia de Xavier Legrand na direção de “Jusq’à la garde” (ou Custódia) é de tamanha visceralidade e capacidade de provocar os sentimentos mais contraditórios ao espectador. É uma bomba ao longo de pouco mais de 1h e meia de projeção, que aparentemente até pode trilhar por caminhos comuns, porém vai construindo uma atmosfera a fim de preparar para um arrebatamento. Conseguindo, nos seus minutos finais, de forma tão sincera. O que o torna ainda mais incrível.
Não há nada de novo no enredo: um homem (Denis Ménochet, de Assassin’s Creed) e uma mulher (Léa Ducker, de O Melhor Professor da Minha Vida) iniciam uma disputa de guarda pelo filho mais novo, Julien (Thomas Gioria). A juíza impõe inúmeras indagações, indicando haver uma manipulação por parte da mãe nos depoimentos do filho, decidindo por dar uma guarda compartilhada aos pais. Pela resistência de Julien em se conectar ao pai e seu próprio temperamento explosivo, inicia-se uma relação cada vez mais conflituosa, onde há um anseio desse homem em se reconectar com sua (ex) esposa usando seu filho, entretanto é um caminho de tamanha aspereza que culmina num inevitável caos.
O prólogo inicial de Custódia engana, parece se tratar de um longa do gênero de tribunal. Não é. É tão bem orquestrada essa jogada de direção em tentar induzir uma relação de ambiguidade entre aquela criança e seus pais, onde o espectador fica no real papel de juiz, tendendo a ficar do lado do pai (!). Algo incomum em filmes do tipo, onde é notório a ameaça aparente que uma das figuras representa – geralmente a paterna. É a partir desse início que nos deparamos com uma desconstrução brutal da paternidade, algo até dolorido, não apresentando qualquer justificativa para que um pai seja alguém tão nocivo assim. Novamente, pondo o espectador numa situação difícil, entre a empatia e a desilusão.
Com um elenco bárbaro, não apenas pelas interpretações individuais, também pela direção de atores, sabendo exatamente os valorizar, aonde os coloca a fim de chegar em determinado caminho. É uma visceralidade tão absurda, refletida no seus minutos finais. Novamente, chega a ser chocante um diretor de primeira viagem juntar tamanha maestria, ritmo e propriedade na construção desse final, que serve de um tapa na cara para o público, devido à reações equivocadas que só são sentidas nesse momento derradeiro.
Não sei se ainda vamos ouvir falar desse jovem diretor Xavier Legrand, sinceramente espero muito ser um dos casos de um cineasta jovem promissor que ofereça muito ao cinema, subvertendo portanto o gênero para construir uma narrativa minimante instigante. Legrand o faz em Custódia, esperamos que o faça nos projetos vindouros.
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