A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell (Ghost in the Shell, 2017); Direção: Rupert Sanders; Roteiro: Jamie Moss, William Wheeler, Ehren Kruger; Elenco: Scarlett Johansson, Takeshi Kitano, Michael Pitt, Pilou Asbæk, Chin Han, Juliette Binoche; Duração: 106 minutos; Gênero: Aventura, Drama, Ficção Científica; Produção: Avi Arad, Ari Arad, Steven Paul, Michael Costigan; Distribuição: Paramount Pictures; País de Origem: Estados Unidos; Estreia no Brasil: 30 de Março de 2017;
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Pouco surpreende negativamente quando se trata de releituras ocidentais de materiais orientais, ainda mais quando já consagrados. Mas é algo que Hollywood jamais se cansa em fazer, muito menos se vê preocupada com a inumerável quantidade de tentativas falhas, seja em relação a crítica, ao público ou a própria qualidade real do produto. Até por isso o nome de Rupert Sanders não parecia, desde o princípio, ser a escolha mais acertada para conduzir A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell. É contestável seu curto retrospecto, que baseia-se principalmente no único longa-metragem que dirigiu, o irregular Branca de Neve e O Caçador (Snow White and the Huntsman). Fica claro nesta adaptação do mangá e releitura -ou remake, se preferir- da clássica animação japonesa que era necessário um diretor mais firme, menos deslumbrado com o próprio filme e mais focado em reproduzir algo que dissesse a que veio, ainda mais em meio a inúmeras mudanças e liberdades que o roteiro toma em relação as obras originais. Mas o detalhe é que, se Rupert Sanders tem com o que se deslumbrar em seu filme, então podemos dizer com total clareza que há acertos tão grandes no filme que o tornam numa obra que ao menos merece atenção, mas não tanto quanto aquele que não sabe aproveitar das virtudes de seu filme.
É incontestável que os visuais de A Vigilante do Amanhã são o ponto alto do filme. Se é possível alegar que há falta de personagens e atores da etnia local, e isso é uma falha grotesca a qual o filme é detentor de uma polêmica que carece de atenção num todo dentro do contexto de Hollywood, é verdade que o ambiente visto aqui é impressionante, independentemente de quaisquer que sejam os personagens que habitam este universo do filme. Há exageros, obviamente, e Rupert Sanders não tem sucesso em saber miná-los, e é também por conta de seu próprio deslumbramento com os cenários que se veem construídos. O visual, seja ele de responsabilidade de técnicos em efeitos visuais ou simplesmente dos nomes responsáveis pelo design de produção, e até mesmo o figurino, fazem muito mais pelo filme que quaisquer outros elementos. E não só Rupert Sanders falha em tomar as decisões corretas, como a fotografia parcialmente não ajuda ao filme. O que a edição pouco pode fazer para corrigir, culminando num resultado que é na grande maioria das vezes genérico. Ou seja, não é um trabalho aquém, somente é um trabalho que se contenta com a fórmula naquilo que dá a oportunidade de ir além. A extravagância da estética aqui encontrada é mesmo deslumbrante, mas mal aproveitada.
O que ecoa de acordo com o elemento que se apresenta como o maior equívoco de A Vigilante do Amanhã, o principal responsável pelos rumos da adaptação. O roteiro escrito a seis mãos, por três pessoas, não encontra maiores problemas em distanciamentos do material no qual é baseado. Dois grandes problemas se fazem pesar, um deles sendo a necessidade de literalidade que os norte-americanos parecem se ver prisioneiros ao se tratar de grandes produções. Então haja exposição de roteiro, explicações além da conta e uma trama mastigada para que a compreensão seja plena. O maior problema é, no entanto, a maneira como, ao se distanciar das origens, o roteiro e, por consequência, o filme em si, tenta se apropriar de elementos e até mesmo personagens que aqui, nos diferentes rumos escolhidos, se faziam dispensáveis. Há a reconstrução de sequências quase frame por frame, sem a necessidade e, numa especificamente, sobre mergulho, em ordem inversa à da animação original e, pior, sem perceber que a troca de uma pela outra dispensava uma mesma literalidade que depois se faz questão de revisitar, contudo limando um dos momentos mais marcantes e propícios para a existência de tal cena.
Scarlett Johansson (Ave, César!) faz um ótimo trabalho, principalmente por conta de seus trejeitos e da postura, mas há pouco que possa fazer para se tornar memorável numa escolha controversa. Em meio a sua tentativa, não há como culpa-la, mas sim aos roteiristas e os tais rumos que escolhem, junto de Rupert Sanders, explorar em A Vigilante do Amanhã. Uma única mudança na motivação do vilão, que rende apenas uma sequência arrebatadora de Michael Pitt e da protagonista em meados do filme, acaba fazendo com que a escolha seja mesmo a saída mais fácil, e menos corajosa. Algo que não se podia esperar diferente de uma remake norte-americano. O que isso causa à profundidade, questionamentos morais, filosóficos e deveras complexos oferecidos pela história original, no entanto, é a redução a uma motivação vingativa, tola, e a síntese do conteúdo em uma simples e também genérica frase de efeito, descartando a contemplação existencial que se fazia tão válida e pontual em algo produzido há mais de duas décadas atrás e, ainda assim, mais atual do que a rasa percepção daquilo que vemos aqui, que só pode ser definido como uma casca sem alma.
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