Bob Marley: One Love” (2024); Direção: Reinaldo Marcus Green; Roteiro: Terence Winter & Frank E. Flowers e Zach Baylin & Reinaldo Marcus Green; Elenco: Kingsley Ben-Adir, Lashana Lynch, James Norton; Duração: 104 minutos; Gênero: Drama, Musical; Produção: Ziggy Marley, Rita Marley, Cedella Marley, Jeremy Kleiner, Dede Gardner, Robert Teitel; País: Estados Unidos; Distribuição: Paramount Pictures; Estreia no Brasil: 15 de Fevereiro de 2024;

Bob Marley 03
(Divulgação: Paramount Pictures)

Cinebiografias de artistas, especialmente do ramo musical, estão por aí quase que desde sempre e repercutem, por um motivo ou outro, e por razões óbvias devido ao sucesso do artista que retratam. Mas talvez nenhum filme desse “subgênero” tenha feito um sucesso tão estrondoso quanto “Bohemian Rhapsody”, um fenômeno absurdo de público e que ainda beliscou, até inexplicavelmente, algumas categorias no Oscar. O sucesso e impacto do filme foi o ponto de partida para uma leva quase industrial de cinebiografias musicais, todas numa pegada formulaica que parece seguir uma cartilha imaginaria de regras. Então nos encontramos nesse momento que Hollywood tira proveito disso, e a biografia da vez é “Bob Marley: One Love”, sobre o cantor Jamaicano que foi um dos principais expoentes por difundir o Reggae mundialmente. Ao invés de traçar toda a trajetória da carreira do artista, no entanto, o filme opta por abordar um período específico onde ele teve papel fundamental no cenário político da Jamaica, quando o país estava a beira de uma guerra civil. Se sentindo responsável e incumbido de tentar criar um ambiente mais pacífico, o cantor e sua banda preparam uma apresentação que tem como objetivo unificar o povo jamaicano, enquanto Marley adentra numa jornada de auto reflexão.

Bob Marley 04
(Divulgação: Paramount Pictures)

Logo de cara, “Bob Marley: One Love” já nos diz que é um filme chapa branca, mas não exatamente nessas palavras, afinal, alega que o cantor não tomava lados e é bem verdade que o filme, momento ou outro, aborda, de forma extremamente tímida e covarde, a visão de mundo que Marley tinha, não acreditando não somente nas formas de governo apresentadas na Jamaica, mas em qualquer forma de governo. No entanto, ao fazer isso o filme só deixa claro o seu desinteresse em realmente debater essas motivações, porque por mais que superficialmente Marley pese durante o filme sua decisão de fazer ou não o show na Jamaica, sua conexão com o povo e o país em si é bastante fria na forma como o filme a apresenta. São cenas apenas protocolares e nunca há, de verdade, uma aproximação. E geralmente elas tratam mais de individualizar a história em seu protagonista do que em desenvolver seu relacionamento com sua nação. Há um claro distanciamento que visa, intencionalmente ou não, endeusar a figura do protagonista. Contudo, através disso o filme o distancia daquilo que é mais importante: sua nação. E essa superficialidade se alastra por diversas camadas e tramas do filme e sobrecarregam uma história que dura menos de duas horas.

Bob Marley 02
(Divulgação: Paramount Pictures)

Pouco interessa o que pensa o povo da Jamaica, assim como pouco importam às motivações e os laços ou influências que fazem Bob Marley tanto querer cantar na África, é tudo um pretexto para outras tramas que sequer fazem sentido, inclusive retratando uma violência, e até ciúmes, que sequer são desenvolvidos durante o filme, “Bob Marley: One Love” joga de supetão esses momentos de agressividade sem nenhuma justificativa, criando um retrato mais animalesco que qualquer outra coisa. E até uma dessas cenas soa mais como um pretexto para o elenco ter suas “Oscar scenes” que qualquer outra coisa. A de Lashana Lynch (“A Mulher Rei”), por exemplo, até é boa porque ela praticamente perde o sotaque ridículo que o filme insiste que seus atores tenham. No caso do protagonista é ainda pior, pois as músicas originais do cantor embalam a trilha sonora do filme -não por acaso seu melhor elemento. Kingsley Ben-Adir (“Barbie”) é um bom ator, mas aqui chega a ser conflitante o resultado da sua construção de personagem, porque é caricato na forma como o ator tenta por demais em imitar o cantor, só que ao mesmo tempo ele é contido, introspectivo demais, e logo nos créditos, com filmagens reais do próprio Bob Marley, a diferença é gritante. Às vezes é realmente importante a aprovação da família ao se contar algumas histórias, mas mesmo com produção de sua família, “Bob Marley: One Love” deixa um gosto de que não só o cantor, mas seu país merecia muito mais que uma caricatura realizada a moldes quadrados envolto numa roupagem de plástica de beleza superficial, como num comercial de perfumes.

Bob Marley: One Love” – Trailer Legendado:

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