Assassinos da Lua das Flores” (“Killers of the Flower Moon”, 2023); Direção: Martin Scorsese; Roteiro: Eric Roth e Martin Scorsese; Elenco: Leonardo DiCaprio, Lily Gladstone, Robert De Niro, Tantoo Cardinal, Cara Jade Myers, Scott Shepherd, William Belleau; Duração: 206 minutos; Gênero: Drama, Policial, Thriller; Produção: Dan Friedkin, Bradley Thomas, Martin Scorsese, Daniel Lupi; País: Estados Unidos; Distribuição: Paramount Pictures; Estreia no Brasil: 19 de Outubro de 2023;

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(Divulgação/Imagem: Apple Studios/Melinda Sue Gordon)

Entre correr contra o tempo para contar as tantas histórias que ainda deseja e a batalha por financiar essas produções, Martin Scorsese se torna cada vez mais não somente um mestre do seu próprio cinema, mas da própria dita Sétima Arte em si. Se já era aclamado por clássicos que definem o cinema autoral norte-americano, a cada novo filme Scorsese mostra que seu tamanho excede qualquer expectativa justamente por recusar a se acomodar e numa aparente reinvenção constante que compreende o cenário contemporâneo enquanto respeita seu histórico, mas que sempre recheia suas produções com uma vitalidade que parece revigorar o já “oitentão” diretor na figura graciosa e jovial que dá as caras no TikTok da filha Francesca vez por outra. Tudo o que Scorsese é, transcende seus filmes porque sua persona assim se tornou, ele é um marco cinematográfico e independentemente do tamanho da produção, seus filmes são sempre um evento, e é um privilégio podê-los assistir no cinema. É um privilégio maior ainda poder assistir uma mega produção tal qual “Assassinos da Lua das Flores”, tão estrondosa quanto pode ser, mas completamente humana e visceral em qualquer proporção, onde tanto a eloquência como a sutileza são motivos de puro e simples deleite.

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(Divulgação/Imagem: Apple Studios/Melinda Sue Gordon)

Em “Assassinos da Lua das Flores”, o cineasta reúne praticamente toda sua usual “gangue” de atores e equipe com a qual mais costumeiramente trabalha, e todos parecem tão afiados e entregues como se tirando proveito de uma oportunidade única na vida, o que não deixa de ser algo único e, realmente, há aqui uma característica singular. É algo construído meticulosamente ao longo das quase três horas e meia de duração do filme, que fluem exatamente como devem ser e desenvolvendo a narrativa com o tempo que cada elemento e trama incitam sobre si. Essa recriação da Nação Osage e suas ramificações na sociedade que ali acabara se criando é tão arduamente realizada que ecoa nos menores detalhes e nas menores participações, porque parece um panteão de figuras histórias, sejam elas quem forem. É uma troca simultânea onde personagens e o espaço cênico entram em sinergia para dar uma vivacidade brilhante uns aos outros, enquanto ressaltam o trabalho dos protagonistas que conduzem a narrativa. Leonardo DiCaprio faz um dos seus melhores trabalhos, onde é evidente e tocante a maneira como seu personagem transita e se desenvolve não apenas por obra do roteiro, mas pelo quão convincente e comovente o ator consegue ser para ajudar a estabelecer toda a tragédia vista ali. Já Robert De Niro é quase um contraponto porque seu personagem se faz assombroso exatamente pelo fato de o ator não deixar se tornar maniqueísta, sua amabilidade e manipulação transcendem a tela, e mesmo numa atuação mais “contida”, ou quem sabe sóbria, De Niro entrega uma de suas melhores parcerias com Scorsese.

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(Divulgação/Imagem: Apple Studios/Melinda Sue Gordon)

Mas quem domina “Assassinos da Lua das Flores” é, sem sombra de dúvidas, Lily Gladstone. É uma atuação recheada de sutilezas que assombram quando atingem seu ápice nas reações que Gladstone utiliza para, literalmente, conduzir o filme. Ela se agiganta e passa a influenciar tanto personagens como filme, servindo como um contraponto ativo aos antagonistas da história. Sua humanidade tocante, recheada de simbolismos nativo americanos que abre portas para algumas das mais belas sequências do filme, é algo imperativo e querido por Martin Scorsese e a chave para entendermos o quão pessoal o cineasta torna a realização deste filme. Não é, entretanto, uma apropriação cultural ou até mesmo a inserção de qualquer complexo de “white savior”, porque Scorsese está muito acima disso. Não é à toa que a violência em “Assassinos da Lua das Flores” seja tão brutal mesmo sem ser tão gráfica, porque sua crueza impacta muito mais e o faz sendo como um sentimento único e inegável de que presenciamos um genocídio, algo infelizmente atual e que ecoa conosco imediatamente. Portanto, Scorsese retrata de maneira pessoal como essa balela de sonho americano não passa da corrupção do próprio ser, da tragédia escrita a sangue pelo ódio e ganância que fomentam a existência dos Estados Unidos e consumem qualquer um que tente alterar o status quo.

Assassinos da Lua das Flores” – Trailer Legendado:

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