O Apartamento (Forushande, 2016); Direção e Roteiro: Asghar Farhadi; Duração: 125 minutos; Produção: Alexandre Mallet-Guy, Asghar Farhadi; Distribuição: Pandora Filmes; País de Origem: Irã, França; Estreia no Brasil: 05 de Janeiro de 2017;
*O Apartamento é o indicado do Irã ao Oscar 2017 de filme em língua estrangeira*
O iraniano Asghar Farhadi consagrou-se graças A Separação, filme que abordava um casal na qual a esposa queria se separar, mas não gostaria de perder a guarda dos filhos, como manda a lei do país. O filme foi aclamado por ter apresentado uma ótica nunca vista antes no cinema iraniano, abordando a questão matrimonial de forma incisiva, dolorosa e bastante sutil, algo difícil de se fazer. Logo após isso, Farhadi permaneceu no seu nicho temático sobre crise conjugal: fez O Passado e agora faz O Apartamento. Sua nova obra pode soar corajosa por abordar um casal em demolição – literal – após uma tragédia pessoal que atingiu em cheio aquela casa.
Emmad (Shabab Hosseini) e sua esposa Rana (Taraneh Alidoosti) são forçados a sair de seu apartamento devido ao prédio ter sido interditado com riscos de queda, então acabam procurando outro apartamento – o do título no caso. Contudo, um dia Rana é vítima de uma violência dentro do prédio ocasionado indiretamente pela antiga inquilina do lugar, tornando a vida do casal um verdadeiro caos. Paralelamente, Emmad dirige, roteiriza e interpreta junto de sua esposa e amigos uma peça teatral de “A Morte do Caixeiro Viajante” do dramaturgo Arthur Miller. Apresentando, portanto, duas narrativas complementares e opostas sobre crise familiar/conjugal.
O mérito de Farhadi, que além de diretor também é o roteirista do longa-metragem, é não se prender apenas a essência da peça de Miller, ele procura construir sua essência própria, tentando desconstruir um casal tão estável a base de uma violência causada pela própria inadimplência dos pares. Contudo, me soa totalmente desperdício o fato do diretor, que anteriormente visou sempre adotar uma postura visionaria e inédita sobre determinada temática, sobretudo no cinema oriental, acabar caminhando por rumos conhecidos, nos quais, principalmente, a figura masculina acaba tornando o problema da violência da figura feminina como sua, desconsiderando o sofrimento interno da esposa em si. Rana é meramente coadjuvante, mas é Taraneh Alidoosti quem consegue se expressar e nos proporcionar empatia, fazer sentir os dilemas de uma mulher que fora violentada e sofre de incompreensão do marido e de seus vizinhos. Entretanto, soa bastante clichê a exaltação de Emmad como uma figura masculina “ferida”, buscando uma justiça a si e não meramente a sua esposa.
É uma questão repetitiva em filmes dessa temática, porém não se espera isso de Farhadi, claramente não esperamos algo que já vimos antes. Talvez por isso que a narrativa da interpretação da peça seja tão vasta e abstrata, desde o início vemos vários cômodos vazios, deixando claro que não é só aquele espaço que está vazio. É de uma sutileza bastante forte, que cresce após a projeção. Eu diria que há três grandes atuações no filme, além dos atores da esposa e do marido, há um terceiro no qual não posso falar para não estragar, mas dá uma humanidade incrível ao seu personagem, no qual outros diretores e roteiristas tornariam banal ou maniqueísta, com toda certeza. É um longa instigante, necessário de uma segunda revisão, mas que se sustenta principalmente por sua argumentação potente, que tenta salvar suas falhas, mesmo elas existindo.
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