Salamandra” (2021); Direção: Alex Carvalho; Roteiro: Alex Carvalho; Elenco: Marina Foïs, Maicon Rodrigues, Anna Mouglalis, Bruno Garcia, Allan Souza Lima, Buda Lira; Duração: 120 minutos; Gênero: Drama; Produção: Alex Carvalho, Sven Schnell, Julie Vies; País: Brasil, França, Alemanha, Bélgica; Distribuição: Pandora Filmes; Estreia no Brasil: –;

Na vertente da psicologia Junguiana, o ícone da salamandra é associada à transformação e superação de obstáculos, num processo no caminho da individuação – se tornar e reconhecer essencialmente único. É uma definição que pode sintetizar a jornada vivida por Catherine (Marina Foïs). Ela é uma francesa que após anos vivendo em isolamento e em atividades domésticas, decorrente dos pais debilitados, se vê no anseio de recomeçar a vida. Decide vir para o Brasil, em Recife, onde mora sua irmã e começa, subitamente, a ter um romance com Gil (Maicon Rodrigues), um jovem rapaz. A partir daí, começa uma relação complexa, onde a incomunicabilidade é a força motriz.

Adaptado do livro La Salamandre, do francês Jean-Christophe Rufin, um ex-adido cultural na embaixada da França, no Recife. É ambientado entre Recife e Olinda e dirigido pelo diretor Alex Carvalho – brasileiro radicado em Londres. O filme constrói uma narrativa na qual valoriza sua ambientação, o contraste dos prédios imponentes da beira-mar pernambucana em oposição a essa mulher absorta em incertezas e fragilidades. O longa apresenta um ritmo lento, no qual os acontecimentos vão sendo desenvolvidos de forma orgânica, silenciosa na mesma proporção que os seus desdobramentos ocorrem de maneira repentina. Os personagens são tragados pelas consequências de seus próprios atos, não havendo espaço para respiros ou mudanças de caminhos.

A relação entre Gil e Catherine é desenvolvida de forma natural, exalando sensualidade de uma maneira madura, sem cair em lugares comuns. A maneira pela qual o cineasta filma a sexualidade e o desejo entre ambos é bastante inspirada, até ousada, sobretudo por não cair em clichês comuns ao gênero, hipersexualizando corpos ou os  tornando exóticos. A entrega corporal e corajosa de Maicon Rodrigues e Marina Foïs rende momentos de catarse, onde suas faces e corpos conseguem exaltar seus desejos, medos e perspectivas. O produto do alinhamento entre direção e elenco, proporciona o choque entre os personagens: uma mulher que outrora tinha tudo, mas encontra-se sem rumo e descobrindo a si mesmo e seus próprios desejos; e um jovem que não tinha nada, entretanto, encontra um rumo de estabilidade e retidão, contudo não consegue ter os meios emocionais necessários para mantê-los.

O principal problema de “Salamandra“, além do ritmo restrito a parcelas do público, é o fato de toda a jornada dos personagens pouco importar no seu último ato. Na realidade, o filme acaba optando pela redundância, nos conduzindo pelo mesmo caminho da personagem – lugar algum, basicamente. Gera efeito oposto do esperado, uma anti-catarse de tão anticlimático. É um filme com potencial, sobretudo pela valorização de sua ambientação e do uso da captação do som, como forma de expressar a própria incomunicabilidade, posto que há o problema linguístico na relação dos personagens. A sensação é de que faltou ousadia em ser mais simples.

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