A Garota no Trem
(The Girl on the Train, 2016)
Direção: Tate Taylor
Roteiro: Erin Cressida Wilson
Elenco: Emily Blunt, Rebecca Ferguson, Haley Bennet, Justin Theroux, Luke Evans, Édgar Ramírez, Allison Janney
Duração: 112 minutos
Gênero: Drama, Suspense
Produção: Marc Platt
Distribuição: Universal Pictures
País de Origem: EUA
Estreia no Brasil: 27 de Outubro de 2016
Censura: 14 Anos
É extremamente comum Hollywood promover novos lançamentos literários e, subsequente ao sucesso inicial de vendas, anunciar uma adaptação cinematográfica, já garantindo um público base, muitas vezes com repercussões angariando inúmeros fãs. Padrões nos quais o livro de Paul Hawkins se encaixa como uma luva. Contudo, A Garota no Trem (The Girl on the Train) ainda parece ter mais um adendo a toda essa premissa hollywoodiana.
Pois, dizia-se à época de O Caçador e a Rainha de Gelo (The Huntsman: Winter’s War), filme fruto de relações contratuais, que além de Jessica Chastain ser obrigada (contratualmente) a estrela-lo, Emily Blunt só topou o projeto por um impulso da Universal Pictures de A Garota no Trem durante a temporada de premiações. Só falta agora, no entanto, encontrar algo que se possa ser digno disso. E não é fácil.
O diretor Tate Taylor, aquele mesmo de Histórias Cruzadas (The Help), parece tentado a superar suas capacidades num projeto que soa, pelo que se vê, ambicioso. Tentando, para tanto, construir um filme recheado de almejos poéticos. Só que, se é que o diretor tem em si capacidade para tanto, não demonstra, e tampouco a narrativa parece querer ajuda-lo.
Adaptado pelas mãos de Erin Cressida Wilson, do ótimo Homens, Mulheres e Filhos (Men, Women and Children) e do melhor episódio de Vinyl, a história se divide em três distintos pontos de vistas Rachel, interpretada por Emily Blunt, Megan, interpretada por Haley Bennett (de Sete Homens e Um Destino) e Anna, interpretada por Rebecca Ferguson. Mas não só seus pontos de vista são assim, como as próprias personagens em si parecem, por vezes, completos opostos.
Até de fato termos certeza de algo na história, Erin Cressida Wilson parece querer nos conduzir por uma visão de Rachel como se o restante ao seu redor pudessem ser metáforas, todas cogitando os acontecimentos serem causados por devaneios de uma alterada Rachel.
O que rende, em boa parte de uma primeira metade do filme, Emily Blunt naquele que é, possivelmente, seu trabalho mais caricato até então. Chega a ser risível a maneira com a qual ela tenta representar o alcoolismo de sua personagem. Porém, pior é como o filme tenta sustentar a sua capacidade de fazer essa sua dependência passar quase que despercebida por anos.
Seja por conta da roteirista, seja por conta do material base, que desconheço, a verdade é que a estrutura sob a qual A Garota no Trem tenta se manter não é das mais convincentes. Se tanto fala-se em semelhanças, ou ao menos a tentativa de estabelecer alguma, com o excelente Garota Exemplar (Gone Girl), há um pouco da intenção e uma palavra do título, mas nada além.
Até porque quando A Garota no Trem se dá em reviravoltas que alteram drasticamente o rumo dos acontecimentos, elas são de um fundamento tão frágil que estão longe de ser críveis. À par da força policial comandada pela personagem de Allison Janney, cuja vontade de resolver o caso parece sequer existir, tendo a faca e o queijo na mão e, ainda assim, sem aparentemente se importar com as atitudes cada vez mais suspeitas dos suspeitos.
Faltam também critérios a Tate Taylor, que flerta com algumas ideias apresentadas pelo roteiro, mas ambos deixam de explorar tais elementos em profundidade. Atrizes enquadradas em terços quebrados, quase como personagens fragmentadas, parecem condizer com as intenções do roteiro de construir três personalidades diferentes de uma personagem que é a mesma.
Porque a linha entre ilusão e realidade é sempre tênue, mas enquanto A Garota no Trem apresenta a possibilidade de jogar com essa ideia, que acaba por colocar a personagem de Haley Bennett como o ideal tanto de homens como mulheres, não vai além. As facetas da imaginação, que partem junto da apresentação da personagem de Emily Blunt, parecem somente tão convenientes ao roteiro quanto o apego dessa mesma personagem ao seu alcoolismo.
Em meio a tudo isso são reduzidos os homens, vividos no filme como paspalhões por Justin Theroux, Luke Evans e Édgar Ramírez. No entanto, o problema não é nem a forma como tais personagens e sua masculinidade é fragilizada e reduzida, mas como A Garota no Trem trai essa própria ideia. Porque, se no fim das contas exerce um discurso feminista, perde a toada ao virar um melodrama que carece de melhores medidas e resoluções. Devendo coerência não só às suas personagens, mas ao próprio discurso que tinha a intenção de constituir.
Trailer Legendado:
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