Como Eu Era Antes de Você (Me Before You, 2016); Direção: Thea Sharrock; Roteiro: Jojo Moyes; Elenco: Emilia Clarke, Sam Claflin, Matthew Lewis, Vanessa Kirby, Janet McTeer; Produção: Alison Owen, Karen Rosenfelt; Estreia Mundial: 03 de Junho de 2016; Estreia no Brasil: 16 de Junho de 2016; Gênero: Drama; Duração: 110 minutos; Classificação Indicativa: 12 Anos;
Depois do sucesso estrondoso de A Culpa é das Estrelas, não é nenhuma novidade que um mercado aquecido surja para esse “novo” gênero: as dramédias adolescentes. Ao passo que a adaptação do best seller de John Green nos entregava um filme sensível e adulto, as produções que vieram na sua onda – Se Eu Ficar e Cidades de Papel – não conseguiram chegar no mesmo nível (ainda que o segundo seja infinitamente superior ao primeiro). Eis que, há alguns meses, um quase súbito buzz surgiu em torno do livro Como Eu Era Antes de Você da jornalista e romancista Jojo Moyes, o qual segue esse mesmo estilo. Como eu não ia ter tempo de conferir a obra literária, comecei a me blindar de toda e qualquer discussão à respeito da história e deixei para ser surpreendido – negativamente – no cinema. Após a sessão e até este momento em que escrevo a crítica, continuo a me perguntar o porquê de tanto sucesso. Não há absolutamente nada de novo, os clichês gritam, as relações interpessoais são as mais genéricas possíveis e, para completar, o final força a barra para fazer o público chorar.
Roteirizado pela própria autora do livro, Como Eu Era Antes de Você aborda a vida de Lou (Emilia Clarke) que, após ser demitida de seu emprego em uma cafeteria, se vê obrigada a arranjar um novo trabalho. Num passe de mágica, aparece esse job na casa de uma família milionária da cidade. As atribuições são apenas cuidar de Will Traynor (Sam Claflin) que há dois anos sofreu um acidente e ficou tetraplégico. De início, ele é muito arisco com ela, tratando-a mal, julgando o seu estilo (ela usa roupas coloridas e faz combinações diferentes no vestuário). Enfim, um completo babaca mimado. Mas com o passar do tempo, é claro, eles acabam se conhecendo melhor e uma relação amorosa vai surgindo. Contudo, Lou tem um namorado, Patrick (Matthew Lewis), que não tá nem aí pra ela, e Will está decidido a se matar, pois não aceita sua nova vida em uma cadeira de rodas. E os conflitos começam a partir dessas situações, visto que eles estão apaixonados. Ou melhor, é o que ela pensa, pelo menos.
Eu não queria ficar comparando, mas é muito difícil não o fazer, principalmente quando A Culpa é das Estrelas consegue lidar com as incapacidades impostas pela vida de forma muito mais humana e real do que Como Eu Era Antes de Você. Enquanto o segundo apresenta um co-protagonista mimado, que sempre teve tudo e, simplesmente, acha que viver não faz mais sentido porque ele tem uma deficiência, o primeiro aborda a vontade de ter uma existência normal, ou melhor, de poder ter mais alguns segundos de respiração que uma doença poderia retirar a qualquer momento. Infelizmente, não posso me aprofundar muito mais nessa discussão, pois não posso dar spoilers, no entanto, friso que o personagem Will é uma das piores figuras masculinas que eu já vi em dramas. Ele pisa na personagem feminina o tempo todo e, mesmo quando o casal já está mais afinado, ele continua nem aí para o que ela acha, ou sente. Apenas ele importa. E, para piorar, ela aceita! Aceita que todo mundo viva a vida por ela, mande nela. Ela se amolda para as pessoas ao seu redor, mas ninguém se adapta a sua personalidade.
E a cena final, repito, não darei spoilers, é um tapa na cara de todas as mulheres ao basicamente dizer que é preciso de um homem para que uma mulher possa se libertar da família e tocar seus projetos. E as pessoas na minha sessão soluçavam vendo isso. Prefiro pensar, inocentemente, que era choro de raiva. Bem, a despeito dos meus problemas morais com a história, é meu dever conhecer que, tecnicamente, a fita é eficiente. A direção da estreante Thea Shorrock é boa, a despeito de faltar bastante sutileza em seus quadros; a fotografia e a direção de arte são belíssimas e o ponto alto, vai para a química entre Sam Claflin e Emilia Clarke, conquanto seus personagens sejam bem ruinzinhos, os dois em tela convencem. Boa técnica, todavia, não salva história.
Como Eu Era Antes de Você, por fim, é um filme focado apenas em um ~seleto~ público que não está preocupado em pensar e/ou refletir as atitudes dos personagens. Ademais, lida com a vida de uma forma muito precária ao permitir que o protagonista masculino diga que sua existência merece acabar porque ele está numa cadeira de rodas, mesmo que seja milionário o suficiente para nunca ter problemas para fazer qualquer coisa. Assim, ignorando as milhares de pessoas que lidam com a deficiência e, que, sim, lutam dia-a-dia por uma vida “normal”, o longa prova que quem nasceu para ser Como Eu Era Antes de Você, nunca será A Culpa é das Estrelas.
Como Eu Era Antes de Você – TRAILER LEGENDADO
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