Game of Thrones8ª Temporada (HBO, 2011-2019); Criada por: David Benioff, D. B. Weiss; Direção: David Nutter, Miguel Sapochnik, David Benioff & D.B. Weiss; Roteiro: David Benioff & D.B. Weiss, Dave Hill, Bryan Cogman; Elenco: Peter Dinklage, Emilia Clarke, Kit Harrignton, Sophie Turner, Maisie Williams, Lena Headey, Nikolaj Coster-Waldau, Gwendoline Christie, Isaac Hempstead Wright, Conleth Hill, Rory McCann, Jacob Anderson; Número de Episódios: 6 episódios; Data de Exibição: 14 de Abril a 19 de Maio de 2019;

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O texto contém spoilers.

É seguro falar que a Televisão estará marcada por antes e pelo depois de Game of Thrones. A adaptação da série de livros das Crônicas de Gelo e Fogo, escrita por George R.R. Martin, foi um fenômeno desde o início, cometendo ousadias narrativas pouco usuais, evidenciando como os jogos de poder tornam até as mais íntegras figuras dúbias. Diante de tantos momentos marcantes ao longo desses oito anos e sete temporadas, a série finalmente chega ao seu fim, deixando um gosto amargo ao espectador.

Desde a primeira temporada, a narrativa estabelecida se tratava da busca pelo poder. Os que estão no poder buscam mantê-lo, os demais buscam conquistar mais. O conflito das diferentes Casas do Reino de Westeros ofuscou a ameaça do sobrenatural: Os mortos, liderado pela entidade Rei da Noite, marcham e buscam a soberania. A última temporada chega tendo essas duas frentes narrativas: a batalha pela sobrevivência da vida perante à morte e a busca pelo trono, num reinado de um governante justo e digno, oposto da atual dona do trono, a tirana Cersei Lannister (Lena Hedey).

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Apresentados como grande ameaça da série, construídos desde o primeiro episódio, os caminhantes brancos mostraram que não eram tão ameaçadores assim. Numa temporada curta, com seis episódios, ter dois inteiros para contextualizar as alianças, estratégias e relações humanas soou um tanto que exagerado. O grande clímax prometido parece que nunca aconteceu. Apesar de momentos bastante emocionantes, como a queda surpreendente do Rei da Noite pela caçula Arya Stark (Maise Williams), a grande trama da série soou de fácil resolução. Além disso, os caminhos apresentados na primeira metade da temporada foram conveniências à essa resolução preguiçosa do conflito.

Terminada a questão dos mortos, a última grande guerra era pelo trono. Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), filha do rei louco, morto e deposto do trono por uma rebelião, busca desde o início reconquistar o trono para sua Casa. Ela passou uma grande jornada de amadurecimento e transformação, aprendendo a ser uma governante mais justa, ao mesmo tempo que temida, devido aos seus dragões. Daenerys viveu uma série de abusos e conflitos internos, porém resistiu, conquistou territórios, aliados e chegou no fim como a favorita ao trono. Contudo, a descoberta de Jon Snow (Kit Harrington) ser um Targaryen, com maior legitimidade do que Daenerys (que seria tia de Jon), acabou por a abalar profundamente.

A partir daí, Daenerys foi perdendo o equilíbrio pessoal, buscando o respeito através do medo do que da justiça e bondade. Cersei, estabelecida como a nova ameaça da segunda parte da temporada, possuía um grande exército e estratégia. No penúltimo episódio da série, o conflito se deu com a vitória da Mãe dos Dragões com facilidade, Cersei, que sempre tinha uma cartada na mão, sucumbiu aos escombros do próprio castelo. Por fim, ao longo dos oito anos da série, não houve uma ameaça derradeira, a não ser que consideremos a sanidade de Daenerys, que optou por queimar todos seus opositores em rendição.

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É decepcionante ver que duas personagens riquíssimas como Daenerys e Cersei acabaram perdidas nas mãos de roteiristas preguiçosos. O conflito maior entre as duas nunca foi bélico, sim ideológico, estratégico, de duas Rainhas que visavam o trono a qualquer custo. Cersei queria o poder por tradição, a fim de perpetuar sua família no trono, vingando a morte prematura de seus filhos. Daenerys, por outro lado, sempre teve fins nobres, tentava ser uma governante justa, respeitando o clamor do povo, lutando contra os grandes males que assolavam aquela sociedade, como a escravidão e a exploração. Vê-la sucumbir à loucura foi lamentável, principalmente pelo fato da personagem ter já deixado claro que queria evitar os erros do pai, sendo uma rainha digna.

O fim das duas foi bastante melancólico. Cersei morreu de uma forma romantizada, ao lado de seu irmão e amante Jaime. Um final com tom redentor para duas figuras hediondas, como o próprio Jaime reconheceu. Esperava-se algum conflito que levaria a morte mais dramática de Cersei, seja seu assassinato pelas mãos de Arya ou de Daenerys ou mesmo seu suicídio em prol de se eternizar como rainha. Triste ver como a personagem e a atriz, grande Lena Headey, desempenharam papel de figuração de luxo, com pouca relevância no final das contas. Daenerys decaiu da forma mais previsível possível, morta por Jon Snow, seu sobrinho e amante, após grande parte de seus apoiadores terem convicção que ela não se tratava de uma rainha confiável e justa como esperavam. Aliás, desde o primeiro episódio ficou claro a expiação da família Stark contra a mãe dos dragões, chegando a haver uma “intervenção” por parte da família a Jon, a fim de abrir os olhos dele.

A direção de Miguel Sapochnick rendeu os melhores momentos da temporada, conseguindo dosar dramaticidade com ação. Ele dirigiu o episódio da Batalha de Winterfell e o da invasão de Porto Real. Infelizmente, o roteiro não deu grande possibilidades para Sapochnick conseguir ir além do tradicional. Foram guerras monumentais, jamais vistas na televisão, porém com um senso gratuito, sem um argumento – ou mesmo ameaça – instigante, justificando tanta grandiloquência. A impressão do desfecho foi de uma beleza estéril, visando ser marcante, única, porém deixando de lado seus personagens, suas tramas e mesmo o que representa o dilema pelo poder.

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Dos bons momentos, vale destacar a nomeação de Brienne de Tarth (Gwendoline Christie) como cavaleira dos sete reinos. A participação de Melisandre (Carice Van Houten) na batalha contra o Rei da Noite. Tyrion (Peter Dinklage) se despedindo do irmão. Arya em meio a destruição de Porto Real. O confronto entre os irmãos Clegane. Enfim, foram momentos bastante emocionantes, porém com aquele gosto de que faltou algo e que ainda tinha alguma coisa por vir.

Game of Thrones encerra sendo um marco para a cultura pop, ao audiovisual e a televisão, são factos consumados. As sete temporadas conseguiram lançar carreiras, render misturas de emoção em momentos únicos. Infelizmente, o amargo do seu fim se dá pela falta de coesão e coerência do último ano, independente de superar ou não o material original, a série ficou independente do próprio universo estabelecido ao longo dos anos.

No fim, Game of Thrones termina de forma saudosista, dizemos adeus a um universo tão interessante e as possibilidades do que a série podia ter sido, mas não foi. Merecia um término mais audacioso, ao invés de agridoce, beirando ao convencional, algo do qual a série sempre tentou fugir.

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