Crítica | Bom Comportamento

Bom Comportamento (Good Time, 2017); Direção: Benny Safdie, Josh Safdie; Roteiro: Ronald Bronstein, Josh Safdie; Elenco: Robert Pattinson, Benny Safdie, Buddy Duress, Taliah Webster, Jennifer Jason Leigh, Barkhad Abdi, Peter Verby; Duração: 101 minutos; Gênero: Drama, Thriller; Produção: Sebastian Bear-McClard, Oscar Boyson, Terry Dougas, Paris Kasidokostas Latsis; País: Estados Unidos; Distribuição: Paris Filmes; Estreia no Brasil: 19 de Outubro de 2017;

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Bom Comportamento 02

Os irmãos Safdie, Joshua e Benny, já vem produzindo filmes, curtas e longa-metragem, há mais de uma década. O reconhecimento de ambos, porém, veio mais recentemente, quando lançaram “Amor, Drogas e Nova York” (“Heaven Knows What“), então um dos melhores filmes de 2014.

Apresentando uma veia independente, os diretores já deixam claro possuir uma pegada singular, retratando Nova York de uma maneira diferente da usualmente encontrada em filmes, onde seres marginalizados tem sob si os holofotes.

Mas não é uma mera exploração superficial por parte dos cineastas, pois é a relação que são capazes de estabelecer entre espectador e personagens que fazem de seus filmes, ao menos os principais, algo tão universalmente relacionável.

Porque o olhar que lançam sobre essas figuras é um no qual tenta se compreender essa marginalização onde se encontram, na grande maioria das vezes impostas a eles contra sua própria vontade. É uma consequência e não uma circunstância.

Assim, num movimento expansivo do que foi visto no filme de 2014, os dois chegam em Bom Comportamento (Good Time) com uma proposta mais ambiciosa e um filme de maior escopo, ainda assim sem em momento algum abandonar a característica independente fundamental que faz do cinema dos irmãos Safdie tão especial.

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Faz parecer única a intimidade que se vê imprimida desde o primeiro momento. Chega a ser, em momentos, claustrofóbica a proximidade com a qual nos encontramos desses personagens. É impressionante como, com alguns poucos minutos, se consegue estabelecer intensidade tal que a atuação do próprio Benny Safdie -que interpreta Nick, o irmão do protagonista- ressoe no espectador e já se mostre um trabalho de tocante sensibilidade.

Mas se engana quem pensa que há aqui alguma delicadeza recorrente, pelo contrário. Existem momentos certos onde cada qual é explorado, e ainda que se inicie assim, de forma tocante, é o explosivo Connie de Robert Pattinson (Life – Um Retrato de James Dean, The Rover – A Caçada) quem dita o tom de Bom Comportamento.

Se estabelece de forma mais constante uma tensão, justamente indo de encontro a crescente claustrofobia na qual, de certa maneira, o filme joga seu espectador. Adentramos numa espiral de insanidade que parece nunca querer parar, onde cada passo nos leva um pouco mais à insanidade.

Quanto mais próximo do clímax, obviamente, maior é a tensão com a qual nos deparamos no filme. Alucinante é uma ótima palavra para descrever o estado de Bom Comportamento, que atinge uma neurose através de um clima trabalhado todo de forma invejável pelos cineastas, que criam algo extremamente envolvente.

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O conjunto da obra como um todo colabora para isso, com exímia competência de ponta a ponta. Ainda assim, é inevitável que, vez por outra, determinados elementos e características não se façam perceber individualmente, chamando atenção para os detalhes que ajudam no todo.

A fotografia é sempre de uma beleza estonteante, mas há momentos nos quais é simplesmente extasiante, criando uma imagética que nos faz querer jamais desviar o olhar o filme. Mas o roteiro não teme correr riscos, e abraça por completo essa marginalidade de seus personagens, criando sequências que são propositadamente desconcertantes, mas sinceras a proposta de Bom Comportamento.

Rendendo, portanto, material de sobra para que seja trabalhado com qualidade, principalmente pelos atores. Jennifer Jason Leigh (Anomalisa, Os 8 Odiados) em alguns poucos minutos em cena, sempre rouba a para si, ou ao menos tenta. Pois é incontestável a consistência da atuação de Robert Pattinson, talvez estando aqui mesmo no melhor trabalho de sua carreira. É hipnótico, afinal é ele quem nos conduz magistralmente pelos labirintos caóticos do cotidiano do personagem.

A edição sempre busca trabalhar de acordo com o que pede o momento, criando um ritmo singular. Quem favorece a isso, e realmente embala o que vemos, é a trilha sonora excepcional de Oneohtrix Point Never, dando uma faceta memorável a Bom Comportamento.

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Um filme que não é de simples digestão e que com certeza merece ser revisitado. Bom Comportamento não se atém a qualquer amarra e explora de maneira visceral a Nova York do ponto de vista de seus personagens, numa visão que é mais rechaçada do que difundida. As cores, as lutas, as alegrias e sofrimentos são mais reais que nunca, e sinceras. Prova disso é a quebra completa de estereótipo ao nos depararmos com o personagem de Barkhad Abdi (Blade Runner 2049, Capitão Phillips), que foge completamente de tudo aquilo que, até então, Hollywood havia tentando lhe oferecer com desdém.

Mesmo que em meio a toda essa visceral retratação há, porém, um material humano imprescindível, criando uma catarse que é puramente genial. A frenética sequência final desemboca em um dos finais mais sublimes no cinema em 2017, onde o olhar desamparado à tela de cinema se confunde com as emoções que tanto encontram ali. Num estado estático cuja mobilidade parece fugir do espectador. É de fato hipnotizante, e encantador, ainda que amargo. É o quão completo Bom Comportamento consegue ser.

Trailer Legendado:

Crítica | Bom Comportamento

Bom Comportamento (Good Time, 2017); Direção: Benny Safdie, Josh Safdie; Roteiro: Ronald Bronstein, Josh Safdie; Elenco: Robert Pattinson, Benny Safdie, Buddy Duress,

Direção
Roteiro
Elenco
Fotografia
Edição
Trilha Sonora
Summary
83 %
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