O oitavo filme de Quentin Tarantino já começou polêmico desde sua concepção, pelo fato do seu roteiro original ter vazado antes mesmo do início da produção do filme, o fazendo cancelar o projeto de início, porém mudando de ideia após a encenação com o elenco. Os irmãos Harvey e Bob Weistein se comprometeram em produzir o longa e mante-lo em sigilo o máximo que pudessem, visto o estrago já feito, e assim o projeto enfim saiu do papel, com o murmurinho que seria o primeiro dos três últimos filmes do tão aclamado diretor. Primeiramente, antes de falarmos de “Os Oito Odiados”, devemos nos ater a filmografia de Tarantino; sempre foi um cineasta com apreço pela cultura pop, seja pelas referências ou pela composições de seus projetos, outro ponto importante é que ele, até aqui, sempre apreciou usar da violência como recurso estético e narrativo, não há o menor pudor com sangue, tiros, morticínio ou tragédia, tudo esbanjado por uma trilha sonora pop e diálogos, por mais banais que sejam, líricos como o mais erudito dos poemas. O terceiro e o mais fundamental dos pontos, desde que sua amiga e editora Sally Menke veio a falecer vítima de insolação, Tarantino não encontrou ninguém com ousadia – ou coragem – necessária para frear seu próprio ego. “Django Livre” foi o primeiro dos filmes sem Sally frente à montagem, eu considero divertido, porém é uma encheção de linguiça sem tamanho. Os Oito Odiados, portanto, é o ápice do egocentrismo de Quentin Tarantino, querendo dizer ao público, literalmente, “vejam como essa cena é espetacular. Olha como esse diálogo é fantástico”. É literal um jogo de ego entre o cineasta e sua obra.


A premissa é interessante, para não dizer curiosa: uma série de acontecimentos isola oito indivíduos distintos em uma cabana no meio do nada, enfrentando uma forte nevasca, sendo forçados ao convívio por alguns dias. É um grupo seleto, de etnias diferentes, numa América pós-guerra civil, ânimos animados, desconfiança nas alturas, sendo a única certeza a sentença de morte da prisioneira Daisy (Jennifer Jaison Leigh) após o fim desse cárcere indesejado. Por se tratar do diretor, é de se esperar que o caos predomine, junto com muito bang-bang, sangue e violência narrativa. A espera é longa, para ser sincero demora cerca de 2h para enfim o filme acontecer. Um dos deméritos do roteiro é a quantidade de personagens nos quais faz questão de apresentar, sem diminuí-los, mas aumentando ainda mais a duração, não conseguimos criar empatia com nenhum. As relações entre eles também passam a ser forçadas, é difícil dizer que aquelas pessoas simplesmente estão se encontrando, parece tudo orquestrado para o banho de sangue.


O elenco está afinado, Samuel L.Jackson tem todas as pontas e oportunidades para clamar por uma nomeação ao Oscar – não deve acontecer-, Jennifer Jaison Leigh (Anomalisa) tem um papel que serve de ligação para todos os eventos, ela serve de ponte dramática e cômica, sua dinâmica com o excelente Kurt Russel é adorável, porém decai a medida que o filme segue rumos torpes. As homenagens e referências cinematográficas estão mais contidas do que foram em Django, servem mais para tentar elevar o longa ao nível do que propriamente para relembra-lo, falta qualidades excepcionais para estar ao nível dos clássicos westerns, como os de Sergio Leone. Falando nisso, Ennio Morricone, compositor dos faroestes de Leone, assume aqui a trilha sonora, proporcionando o maior triunfo do longa: sua trilha sonora, que sim tem uma relevância superior aos diálogos auto-indulgentes de Tarantino. Morricone é um mestre da música que nos proporciona faixas memoráveis.

A direção de Tarantino tenta ser levada a sério, algo peculiar na vasta filmografia do diretor, ele tenta fazer o público pegar no tranco para nos chocar, de todas as formas. Tenta nos arrebatar com um filme que não acontece, fica na promessa. A cabana é o ambiente onde se passa praticamente 2 h, das quase 3 h, de filme, mas não se consegue construir aquela tensão absoluta e assustadora, de nos deixar em pé do que acontecerá. Proporciona, sim, tédio, do egocentrismo de um cineasta que clama por atenção e reconhecimento, não por acaso se compara constantemente à Sergio Leone.


Quem é fã do diretor pode sair satisfeito do filme, é uma experiência feita para agradar quem tolera a personalidade meio megalomaníaca de Tarantino, por mais bem feita a produção, é um filme com pouco a se tirar, com muito a esquecer. Infelizmente, “Os Oito Odiados” pede para provocar o sentimento título no público. Seja um trocadilho ou não. Intencional ou não. Ainda sim frustrante.

Os Oito Odiados – TRAILER LEGENDADO

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