Togetherness
(HBO, 2015-2016)
Direção: Jay Duplass & Mark Duplass
Roteiro: Jay Duplass & Mark Duplass
Elenco: Mark Duplass, Melanie Lynskey, Amanda Peet, Steve Zissis, Abby Ryder Fortson, Peter Gallagher, Joshua Leonard, Emily Althaus, Ginger Gonzaga, Katie Aselton, Barak Hardley, Michael Gross, Hilarie Burton
Número de Episódios: 8 Episódios
Data de Exibição: 21 de Fevereiro a 10 de Abril de 2016
O texto contém spoilers.
Togetherness poderia muito bem ter outro nome, relacionado ao amadurecimento e a vida adulta, porque são inúmeras as vezes em que um personagem diz a outro que é hora de crescer. Porém, aqui estamos falando de personagens que estão na casa dos 40 anos, não há, exatamente, como continuar crescendo da mesma maneira que se encara isso aos 20 anos de idade. Mas de uma década a outra, é verdade que o tempo parece voar, mesmo que, por vezes, cada dia se revele uma sensação interminavelmente cansativa e insuportável, mas vamos encarando, da forma que dá, o que der e vier. O resultado?
“(…)é como se os personagens já não aguentassem mais tanta dor e sofrimento emocional e, à beira do precipício, conhecido como desespero, era mais fácil rir do que continuar a chorar”. Foi como eu defini o que acontecia, com as personagens e o tom de Togetherness, na crítica da primeira temporada da série. Essa opinião, sem dúvida, continua imutável. Só que aqui ela retorna ainda mais forte, porque em meio a tudo isso, de certa forma cada um seguiu, nesse segundo ano, no exato caminho em que queria. Não me refiro ao final, mas ao começo da temporada. Porque ali as coisas realmente pareciam estar caminhando bem.
Mas assim como Michelle (Melanie Lynskey) escondia de Brett (Mark Duplass) que havia dormido com outro, Alex (Steve Zissis) e Tina (Amanda Peet) também escondiam suas infelicidades e infortúnios. O mesmo serve para o próprio Brett, que só conseguiu arranjar um emprego como motorista do Uber, o que não é nenhum problema, porém, é evidente que estava longe do que ele realmente queria. O mesmo acontecia quando ele estava com Michelle, porque por mais que os dois parecessem estar felizes, ele podia sentir que havia algo faltando ali, sua relação estava incompleta. Todos eles, ao contrário do que viviam, estavam incompletos. Aí Togetherness se justifica, porque o que faltava era um ao outro.
O mais interessante dessa temporada, entretanto, foi como os irmãos Jay e Mark Duplass pareciam confortáveis conduzindo Togetherness. Se o título da série se refere a união, o que definiu a qualidade da série em seu segundo ano, e último, foi a unidade. Porque tudo parecia estar caminhando concomitantemente para que a narrativa de Togetherness continuasse seguindo em frente. O que fez com que a série fluísse de uma maneira singular, é impressionante a sensibilidade dos Duplass, nesta temporada, em construir momentos tão significativos para seus personagens.
O mais importante: sem nunca deixar Togetherness cair para um dramalhão infindável. Se considerei, na primeira temporada, que a série se utilizava de humor negro, fazendo nos divertir com a desgraça alheia, posso ter me equivocado. Acontece que a intenção de Togetherness, nesse segundo ano, pareceu claramente ser o de não deixar que o público sentisse um peso negativo das ações das personagens, ao menos não completamente. E isso não é um erro, é simplesmente por a série parecer estar conversando diretamente conosco, tentando mostrar que não estamos, realmente, sozinhos. Por isso o crescimento é tão importante na segunda temporada, porque provavelmente quem chegou até aqui na série, se sente nessa posição desconfortável de ter crescido sem ter encontrado a si mesmo.
Daí a tão cativante trajetória da Tina de Amanda Peet nesta temporada. O que a tornou, provavelmente, a melhor personagem da série. Porque era ela quem parecia a mais danificada de todos ali. Digo que ela merecia muito mais do que esse final feliz, pois, era ela quem mais precisava se encontrar, por isso mesmo havia uma pressão tremenda sob ela, que era a personagem que não tinha para onde ir. Mesmo com a escolha do final da série, é certeza de que jamais veríamos uma Tina como mãe convencional. Eis a cena da queda dela, ao escorregar no suco derramado por sua sobrinha, Sophie (Abby Ryder Fortson). O mais incrível é como Abby Ryder Fortson, atriz mirim, contribuiu imensuravelmente para a série com uma encantadora atuação.
Confesso que imaginei que Togetherness se encerraria de maneira trágica, indo no exato oposto de seu título e dando um final solitário, de certa forma, para as personagens. Porque a escolha de um final meio feliz, excluiu inúmeras outras possibilidades. Lógico, precisamos encarar que, infelizmente, muito do que aconteceu pode ter sido uma escolha apressada por ser mesmo o final da série, por dar um final o mais próximo possível do definitivo. Porque não é fácil amarrar toda a narrativa em um episódio final com menos de meia hora de duração. E não estou me dando por insatisfeito, o oposto.
Minha insatisfação está neste ser o final da série, porque havia ali muito o que ser explorado, até mesmo antes de sabermos que este seria o final. Notícia que veio abruptamente através da HBO, algumas semanas atrás. Mas é triste ver que muitas personagens foram descartadas, como Christy (Ginger Gonzaga), Larry (Peter Gallagher) ou o depressivo diretor Dudley (interpretado por Joshua Leonard). Faltou explorar o relacionamento de Brett com seu pai. Mais urgente ainda com Kennedy (Hilarie Burton), que entrou e saiu tão rápido que pareceu desnecessária sua adição, mesmo que os Duplass tenham deixado subentendido um passado romântico entre os dois personagens. Uma conclusão que fez falta, no entanto, foi a da relação entre Brett e Natalie (Emily Althaus), que se mostrou um ponto alto da temporada.
Não que salve o Brett de Mark Duplass de ter traído sua esposa. Nesse quesito não há justiça a ser feita, somente, acredito, o perdão e a compreensão de ambas as partes de uma relação, que sempre possuirá suas falhas. Muito bem costuradas, creio eu, no diálogo final entre Brett e Michelle. Porque Brett sempre foi egoísta, e foi bom ouvir mais alguém com a mesma opinião, seus amigos também apontaram isso na série. E para um egoísta assumir sua culpa, é complicado. Mas quando ele o faz, naquele momento em que Michelle o aceita de volta, e vice-versa, foi muito bem colocado.
Togetherness não teve exatamente um final inconclusivo, muito fica subentendido. Uma pena que a série tenha chegado ao fim em seu segundo ano, que se mostrou uma das comédias de nicho mais fortes da atualidade. Jay e Mark Duplass optaram por uma naturalidade que dificilmente agrada ao público, porque nos encontramos demais naqueles personagens, e tememos por nós mesmos, por nossos desencontros em nossas vidas. Mas concluímos com um final feliz, porque finalmente tiveram uns os braços dos outros para se sentirem seguros. Concluímos com um final feliz porque, se correr não é o suficiente para superar a dor infligida pelo mundo em nós, então ter alguém que não nos deixe caminhar sozinhos seja o que precisamos para seguir em frente.
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