Godzilla II: Rei dos Monstros (Godzilla: King of the Monsters, 2019); Direção: Michael Dougherty; Roteiro: Michael Dougherty & Zach Shields; Elenco: Kyle Chandler, Vera Farmiga, Millie Bobby Brown, Ken Watanabe, Zhang Ziyi, Bradley Whitford, Sally Hawkins, Charles Dance, Thomas Middleditch, Aisha Hinds, O’Shea Jackson Jr., David Strathairn; Duração: 132 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Drama, Fantasia, Ficção Científica; Produção: Thomas Tull, Jon Jashni, Brian Rogers, Mary Parent, Alex Garcia; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 30 de Maio de 2019;
Se no “Godzilla” de Gareth Edwards o personagem título pouco aparecia, perto do que muitos esperavam, “Kong: Ilha da Caveira” tentou mostrar que os executivos da Warner Bros. Pictures estavam cientes do clamor por mais aparições da criatura protagonista, com isto sendo demonstrado logos nos minutos iniciais do filme. Que já encontraríamos mais frequentemente o personagem no próximo capítulo do “MonsterVerse” que se tenta estabelecer, era um indício denotado plenamente numa cena pós-créditos (sendo que também há uma cena após os créditos presente neste filme). Assim, “Godzilla II: Rei dos Monstros” vem para tentar saciar esse desejo por mais ação envolvendo a criatura pré-histórica.
Obviamente que não deixará de fora o lado humano, portanto, mais uma vez há uma grande leva de personagens interpretados por grandes nomes do cinema, neste caso menos populares e mais aclamados, principalmente pela crítica. Além desse lado empático, também é necessário, do ponto de vista comercial, estabelecer de uma vez por todas a tal da “Monarch”, organização que é responsável por unir esse Universo dos monstros. Com isso, há uma variedade de coisas que o filme precisa cobrir e, ainda que tente melhorar em relação a alguns quesitos que incomodavam no primeiro filme, acaba tropeçando também em elementos semelhantes.
Alguns são até mais gritantes, como as conveniências de roteiro. Também há a união destas com as várias verborragias didáticas da qual o roteiro faz uso. Algumas destas últimas são simplesmente enfadonhas, como uma discussão de casal em público, na frente de todos, durante uma revelação sobre o destino do planeta. O problema é como se utiliza disso para tentar engatilhar, expositivamente, elementos que vão ser disparados durante o clímax na tentativa de criar uma catarse com o público. O problema é o quão desinteressante são esses momentos. Soa forçado e é superficial, repetindo algo que já não havia dado certo anteriormente.
Contudo, existem contrapontos. É risível, por exemplo, como um acontecimento crucial que culminará no clímax de “Godzilla II: Rei dos Monstros” é feito unindo dois destes elementos da maneira mais ilógica possível, onde uma personagem entreouve uma conversa de forma completamente inacreditável. No entanto, algumas exposições de roteiro podem ser relevadas quando envolvem uma trama de redenção central ao filme, tanto que é de onde partimos. Existem momentos açucarados até demais, enquanto outros fazem usos de clichês que chegam a ser irritantes, mas quando são deixados de lado, e resta o que é dito de maneira sutil, funciona plenamente.
Muito por conta de como o elenco, ao menos por conta dos protagonistas, consegue se mostrar mais cativante que nos filmes anteriores. Ainda que encontremos aqui mortes igualmente irrelevantes que demonstram o peso (ou a falta de) que alguns destes tinham para a narrativa. Não chega a ser chocante, dado que um ou outro estão ali claramente para servir como uma ferramenta que explicará algo ao público, mas é no mínimo decepcionante ver nomes tão marcantes serem descartados com tanta facilidade e sem agregarem em nada ao filme em momento algum. Apenas revelando a inconsistência que marca “Godzilla II: Rei dos Monstros”.
Até porque, dependendo da ótica em que se encara o filme, pode se encontrar um desastre ou algo minimamente capaz de entreter e tocar ao espectador. Muito mérito do núcleo familiar formado por Millie Bobby Brown (“Stranger Things“), Vera Farmiga (“Invocação do Mal 2“) e Kyle Chandler (“O Primeiro Homem“). Quando os três não estão sendo atrapalhados pelos vícios expositivos e enfadonhos do roteiro, conseguem emplacar um relacionamento que é capaz de gerar alguma comoção. Entretanto, o grande nome do filme é Ken Watanabe (“Pokémon: Detetive Pikachu“), que parece crer piamente em tudo que envolve seu personagem e nos proporciona o que é, talvez, o momento mais marcante em todo o filme.
Uma prova de como são os pequenos detalhes que fazem a diferença, mas convenhamos, estamos aqui falando de algo que requer grandiloquência. Aí pesa a mão de Michael Dougherty, que assina seu primeiro grande projeto sem ter tido anteriormente lá muita experiência na direção. Porém, é ainda mais gritante, pois pouco se encontra aqui da inspiração que Gareth Edwards (“Rogue One“) havia utilizado para contar cinematograficamente uma história que envolve, literalmente, escalas tão absurdas. Não é em si um problema, mas é algo que torna o filme menos especial, ou até mesmo o impede de assim ser, mesmo que não decepcione no todo.
Porque mesmo com toda a exposição de roteiro e didatismo, há ainda algum misticismo que Dougherty consegue imprimir aqui, muito calcado na trilha sonora de Bear McCreary, que possuí temas bastante inspirados e marcantes. Mesmo não atingindo todo o potencial ao qual aspira, o embate das criaturas entregue em cena é suficiente para divertir de forma honesta, só requerendo uma suspensão da descrença, um último embalo para se deixar entreter com o que é mais interessante que a baboseira vilanesca dos primeiros atos e alguma emoção capaz de ser atingida por conta do talento dos nomes de destaque no elenco.