1917 (2019); Direção: Sam Mendes; Roteiro: Sam Mendes & Krysty Wilson-Cairns; Elenco: George MacKay, Dean-Charles Chapman, Mark Strong, Andrew Scott, Richard Madden, Claire Duburcq, Colin Firth, Benedict Cumberbatch; Duração: 119 minutos; Gênero: Aventura, Drama, Guerra; Produção: Sam Mendes, Pippa Harris, Jayne-Ann Tenggren, Callum McDougall, Brian Oliver; País: Estados Unidos, Reino Unido; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 23 de Janeiro de 2020;
Sam Mendes, ao longo de duas décadas e meia de carreira, transitou por diversos gêneros no cinema e, mesmo que tendo em “Beleza Americana” seu trabalho mais bem-sucedido em termos de reconhecimento, foi com “007 – Operação Skyfall” que seu nome voltou a ter o peso que conquistou quando venceu o Oscar de Melhor Direção por seu primeiro longa-metragem lançado nos cinemas. Porém, depois de “007 Contra Spectre” era uma incógnita o que o cineasta queria para seu futuro, o certo, ao que parecia, é que desejava de alguma forma voos mais ambiciosos e desafios maiores e mais complexos. O resultado é “1917”.
Por tudo que envolva o filme, seu grande atrativo e chamariz reside no feito que Mendes e Roger Deakins (“Blade Runner 2049”) realizam aqui -este que deve render a Deakins seu segundo Oscar em duas indicações consecutivas, após 13 derrotas em duas décadas. Isso porque “1917” foi filmado de forma a passar a impressão de que é todo em plano sequência. A dupla emula muito bem o feito e o que se vê é uma produção impressionante. É inegável que a narrativa em tempo real pela qual nos conduz o protagonista vá empolgar e extasiar, e até mesmo emocionar, ao público.
Algumas cenas serão capazes de tirar o folego, envolvendo diversos desses elementos em um momento específico que deve ficar na memória coletiva por muito tempo -cena embalada por essa música, com imagens que só Roger Deakins seria capaz de iluminar. Não só ali, como em todo o restante do filme, o que se percebe com clareza é o investimento realizado no filme e, de fato, muito bem utilizado. Cada centavo do orçamento parece muito bem gasto, num trabalho coletivo que é de encher os olhos, onde o mundo recriado pela equipe sob o comando de Sam Mendes é preenchido com competência extremada pelas pessoas atrás das câmeras.
É um desbunde técnico, sem duvidas, mas a consequência das escolhas torna “1917” num filme que é, de fato, uma concha vazia. Não precisamos nem entrar na questão de como é um filme apolítico, que sequer se dá o tempo de debruçar-se sobre tais reflexões, está mais interessado na ação que envolve o protagonista. Contudo, qualquer tentativa de desenvolver o personagem é em vão, ainda que pouca. Pode até gerar comoção, mas é algo completamente superficial e que falha a sua pretensão, algo ainda mais lamentável, pois sabemos o que Sam Mendes é capaz de entregar, com honestidade, ao espectador.
Chegamos ao ponto onde até se torna, de certa forma, um filme anticlimático, onde um diálogo nos prepara para um certo embate que, na realidade, acaba por não se desenvolver. Parece mais uma conveniência de roteiro, uma das muitas que o roteiro, co-escrito pelo próprio Sam Mendes em parceria com Krysty Wilson-Cairns, faz uso, assim como de exposições corriqueiras. É um filme que privilegia momentos a palavras, numa história rala que quer se fazer poética através das imagens que vai construir nesses momentos pelos quais pensa estar se empenhando. Assim, chegamos ao ponto mais crucial do erro de uma decisão estética.
É um trabalho e tanto, pelo desafio requerido na execução, o falso plano sequência dirigido por Roger Deakins e companhia, contudo, é também o que mais influência para a construção desse vazio de aparência atrativa. Não há força para a construção de uma poética, de algo que “1917” tanto almeja, porque abre mão do que mais importa para tornar o cinema em um corpo vivo. Por consequência, nos é entregue algo completamente mecânico, travestido de algo vivo, mas que no fundo, ou aos olhos nus para aquele que quiser ver, não passa de uma sequência de imagens que agradam aos olhos, mas que nada dizem. Natureza morta, mas numa representação que desconhece seus próprios conceitos.
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