Em Chamas (Buh-Ning, 2018); Direção: Chang-dong Lee; Roteiro: Jung-mi Oh & Chang-dong Lee; Elenco: Ah-in Yoo, Jong-seo Yun, Steven Yeun, Soo-Kyung Kim, Seung-ho Choi, Seong-kun Mun; Duração: 148 minutos; Gênero: Drama, Mistério, Thriller; Produção: Chang-dong Lee, Gwang-hee; País: Coreia do Sul; Distribuição: Pandora Filmes; Estreia no Brasil: 15 de Novembro de 2018;
Filme sensação no Festival de Cannes desse ano, “Em Chamas“, do diretor Chang-Dong Lee é a adaptação de um conto de dez (10) páginas, do premiadíssimo escritor japonês Haruki Murakami, em um longa metragem de 148 minutos (!). Entretanto, a leveza do diretor em conduzir a trama consegue transforma-lo em uma experiência transcendental e sensorial, onde as imagens conseguem transpor por si própria identidade, sem precisar de apelo narrativo. Só o lirismo na imagem e, sobretudo, no ato de construí-la dá pano para reflexão. É de uma beleza efêmera.
A história é focada em Jongsu (Yoo Ah-in), um jovem e humilde aspirante a escritor em crise de criativdade. Ele aceita cuidar do gato de sua antiga amiga, que aspira a ser atriz e parte para o continente africano. O jovem então começa a criar fantasias pela moça, projetando nela suas inspirações e anseios de felicidade, num envolvimento literalmente amoroso. Contudo, ela retorna comprometida de um rico empresário, o qual ela conheceu no aeroporto, frustrando de vez o rapaz. A partir de certo dia, cria-se um triangulo, misturando amores com amizades, muito aprendizado com intrigas… Enfim, é tamanha sutileza o quanto o protagonista expõe sua decadência diante daqueles seres que aparentam estar tão em declínio quanto. A alusão com o fogo, que dá o título ao filme, representa exatamente a força elementar primordial que consome tudo e todos para existir. É exatamente a essência da existência humana e da sede que Jongsu tem.
Com um desenvolvimento de personagem soberbo, vemos nosso jovem passivo e submisso mudando e encarando a si próprio como elemento principal do próprio fracasso. Resta-se o que? Enfrentar aqueles que o diminuem. Enfim, a direção de Dong Lee é assertiva em dar dimensão para o personagem, sobretudo na construção das imagens, ele transpõe muito os sentimentos em cima dessas. Contudo, não deixa de perder um pouco o fôlego na metade do filme, soando um pouco cansativo e excessivo. Apesar disso, o longa chega em seu derradeiro ápice no seu último ato, em 20 minutos espetaculares, aos quais tornam “Em Chamas” uma obra atemporal sobre decadência e, sobretudo, estado humano.
Pode não ser um thriller fácil para os grandes públicos, sobretudo pela duração e pelos diálogos muitos extensos, cheio de divagações. Construindo a tensão nas reflexões, não nas meras ações. Porém, não deixa de ser uma experimentação daquelas únicas do cinema. E repito, com um final que nos faz crer que valeu a pena chegar até ali. E esquecer do gato que nos levou até aqui.
“Em Chamas” – Trailer Legendado:
Esse texto faz parte da cobertura do 20º Festival do Rio.
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