Título Original: Last Days in the Desert
Direção: Rodrigo García
Roteiro: Rodrigo García
Elenco: Ewan McGregor, Susan Gray, Ciarán Hinds
Produção: Bonnie Curtis, Julie Lynn, Wicks Walker
Estreia no Brasil: 08 de Setembro de 2016
Gênero: Drama
Duração: 98 minutos
Classificação Indicativa: não recomendado para menores de 12 anos
Seguindo uma tendência do cinema hollywoodiano de filmar histórias livremente criadas com personagens da Bíblia, Últimas Dias no Deserto chega para trazer um diferencial estético com a exuberante fotografia de Emmanuel Lubezki, embora apresente as mesmas reflexões que produções como Noé, de Darren Aronofsky e Êxodo: Deuses e Reis, de Ridley Scott. Com as devidas ressalvas, a fita se prova interessante, principalmente por humanizar um personagem que tende a ser idealizado como perfeito, sem dúvidas ou receios para como as pessoas. Além disso, temos Ewan McGregor entregando uma das atuações mais sólidas de sua carreira de maneira que, mesmo com o ritmo deveras lento, é impossível não tirar os olhos da tela.
No enredo, Jesus (McGregor) passa 40 dias atravessando o deserto para chegar a Jerusalem. Em meio a essa viagem, ele encontra uma família que necessita de ajuda, tanto para salvar a vida da matriarca, que se encontra doente, quanto para conseguir se alimentar e sobreviver no deserto. Ao ver que, talvez, ele não possa operar milagres ali, o filho de Deus começa a duvidar da sua própria fé, ao passo que a personificação do Diabo (interpretada também por McGregor) começa a alimentar também as inseguranças do protagonista.
Rodrigo García é um diretor eficiente nas suas realizações. Seus trabalhos anteriores, embora bastante seguros, conseguiam entregar uma boa experiência. Sem dúvida, aqui, ele chega no auge de seu trabalho artístico, devido ao fato de conduzir um filme bastante pretensioso tanto do ponto narrativo, quanto reflexivo. Primeiro, temos Ewan McGregor atuando com dois personagens: Yeshua (Jesus) e o Diabo. Até aí nenhuma novidade, afinal, não há nada mais batido do que um personagem ter seus alter-egos bons e maus. O diferencial está quando a película não cai no maniqueísmo óbvio e que, recorrentemente, aparece nos filmes bíblicos. Reparem como Jesus tem dúvidas e receios quanto às suas atitudes, principalmente em relação à família que tenta ajudar.
Nessa mesma linha, aparece a direção de arte e a de fotografia as quais constroem um ambiente claustrofóbico minimalista. Lubezki exalta o sol, traz toda a segurança da luz do dia e das cores claras na sua paleta, ao passo que os vestuários imprimem uma prisão a qual é corroborada com os planos fechados de García. Reparem também nas diferenças sutis de caracterização entre as projeções das personalidades de Jesus, o Diabo tem um turbante, umas correntes, enquanto Yeshua está limpo, vestindo apenas as vestes brancas. Mas as vestes vão mudando, de acordo com as mudanças e, claros, as inseguranças do Messias. Só por isso, já percebemos a coragem e ousadia da produção que, diferente de O Jovem Messias o qual, tenta adaptar uma história da Bíblia, mas se perde totalmente nas antíteses que insiste em aprofundar.
Por outro lado, o ritmo lento e as diversas cenas contemplativas podem ser um impedimento para o melhor aproveitamento do longa. Esse sentimento é atenuado pelo fato da história ocorrer na mesma localidade: o deserto. Então, caso você não entre totalmente na narrativa, as quase duas horas de duração podem demorar a passar. De qualquer forma, a fotografia é tão bela e tão perfeita que se no início do texto falei que, devido à excelente atuação do Ewan McGregor era difícil não ficar atento à projeção, complemento meu comentário para dizer que a fotografia terá esse mesmo efeito, a despeito do ritmo desacelerado.
TRAILER LEGENDADO