A Luz Entre Oceanos
(The Light Between Oceans, 2016)
Direção: Derek Cianfrance
Roteiro Derek Ciafrance
Elenco: Michael Fassbender, Alicia Vikander, Rachel Weisz, Jack Thompson, Caren Pistorius, Florence Clery, Emily Barclay, Leon Ford, Thomas Unger
Duração: 133 minutos
Gênero: Drama, Romance
Produção: David Heyman, Jeffrey Clifford
Distribuição: Paris Filmes
País de Origem: EUA, Austrália, Reino Unido, Nova Zelândia
Estreia no Brasil: 03 de Novembro de 2016
Classificação Indicativa: 14 anos
Desde o lançamento de Namorados Para Sempre (Blue Valentine), em 2010, Derek Cianfrance tem recebido atenção especial em seus projetos. Tudo porque o diretor e roteirista parece possuir uma habilidade singular de abordagem das relações, evidenciada no filme de 2010 e replicada, de maneira muito mais ambiciosa, no sensível O Lugar Onde Tudo Termina (The Place Beyond the Pines).
Os quatro anos entre este último filme e A Luz Entre Oceanos (The Light Between Oceans) parece ter sido uma eternidade, mas, ainda assim, é bom ver o quanto Derek Cianfrance conseguiu manter a forma e toada de seu trabalho, gerando na relação vivida por Michael Fassbender (X-Men: Apocalipse) e Alicia Vikander (A Garota Dinamarquesa) uma união arrebatadora.
Porque ainda que se parta de uma premissa um tanto familiar, o filme consegue se sobressair aos usuais cometimentos que decaem em deslizes. O que faz com que a adaptação do livro homônimo de M. L. Stedman se diferencie veementemente de obras adaptadas dos best-sellers de Nicholas Sparks, por exemplo. Comparação que, ainda que um tanto leiga, é válida por tratarem de elementos bastante similares, quase que comuns.
Entretanto, a maneira como Derek Cianfrance trabalha o romance presente na obra faz com que A Luz Entre Oceanos se torne algo superior. Justamente por ter a capacidade de ser mais profundo e fiel aos personagens que apresenta, não os tornando idealizações problematizadas de maneira superficial, em rodeios perfeitos da trama. Aqui temos personagens imperfeitos, críveis e que sofrem numa realidade palpável e ambígua.
Ainda assim, o que parece mesmo permear A Luz Entre Oceanos é o romance, a paixão em suas diversas manifestações, desencadeadas pela relação entre os personagens de Alicia Vikander e Michael Fassbender. Assim, com essa emoção intangível como centro da trama, o restante é um complemento que Derek Cianfrance utiliza para integrar com detalhes característicos de seus personagens e a maneira na qual eles são desenvolvidos ao longo do filme.
Portanto, os três protagonistas de A Luz Entre Oceanos tendem a oferecer diferentes parâmetros frente a uma imensa incógnita que acomete aos três de maneira irremediável. Adentra-se, então, numa reflexão existencial sobre um questionamento fatídico de ser e estar, evidenciada por uma fala do ator Michael Fassbender, sobre o futuro poder reservar, quando falamos sobre ele, apenas aquilo que queremos ou desejamos.
Essa inevitabilidade é confrontada por Tom Sherbourne, personagem de Michael Fassbender, veterano da Primeira Guerra Mundial, ao se atirar à oportunidade de trabalhar como faroleiro na ilha Janus, onde a única companhia que ele terá, por meses, é a de seu silêncio. Uma dádiva pós o caos ao qual ele conseguiu sobreviver. Mas há aí, no entanto, um empecilho: o futuro.
Elemento, ou tempo, do qual Isabel, personagem de Alicia Vikander, tem apenas esperanças sobre. Um tanto ainda ingênua para a face do mundo, mas não por isso ignorante sobre o funcionamento da vida. Mas imperam a ela o desejo de construir uma família, sonhos costumeiros à época, mas que nem por isso rebaixam a personagem a um estereótipo.
Porém, A Luz Entre Oceanos nos reserva três protagonistas, sendo o terceiro a personagem de Rachel Weisz (Desconhecida). Uma Hannah Roennfeldt que sofreu com o que lhe reservou o futuro, mas que anseia por uma improvável possibilidade reservada por um destino incomum. Uma fragilização que, ao invés de um triângulo amoroso, possibilidade que muitas histórias seguiriam, tornam a personagem numa força ainda mais catalisadora.
Dessa maneira, cada um tem suas virtudes, e cada um precisa confrontar as ambiguidades impostas diante de suas vidas. E ambiguidade é, provavelmente, a palavra chave em A Luz Entre Oceanos. O maior indício disso está no nome da ilha, Janus, cuja significado remete à figura da mitologia romana, com um dos próprios personagens explicando a razão da ilha ter tal nome.
Aqui Derek Cianfrance exerce um mote que marca forte presença em seus filmes, com um questionamento moral que conversa diretamente com seus dois projetos anteriores. Pois, certo e errado, na história, passam a se tornar tão variantes que os próprios personagens se veem surpreendidos com o que descobrem sobre si próprios, conforme passam por um constante desenvolvimento.
E eles crescem de tal maneira, atrelados um ao outro de tal forma, que é assim que A Luz Entre Oceanos se faz um filme arrebatador, porque as relações entre eles soam tão detalhadamente envolventes, que a paixão preenche a tela e se estende ao espectador. O piegas dá lugar a uma faceta romântica que nem mesmo clichês se fazem um problema, por serem assimilados pela narrativa como uma necessidade para que seus personagens sigam em frente.
Porém, não é um romance, ou uma paixão, referente somente aos casais formados em cena, mas nas relações paternais e maternais. Onde, mais até que o trabalho dos protagonistas, é brilhante a maneira na qual Derek Cianfrance consegue extrair do elenco mirim atuações encantadoras e extremamente convincentes, um dos pontos altos no funcionamento dessas relações.
Finalmente, por incrível que pareça, o grande defeito de A Luz Entre Oceanos é, no entanto, ser mais curto do que devia. Mesmo tendo lá suas mais de duas horas de duração, o filme carecia de uma dedicação maior à história da personagem de Rachel Weisz, bem como as reviravoltas que a personagem traz ao filme. O que, por não acontecer com a devida paciência, deixa a sensação de que há uma resolução demasiada apressada. Todavia, até lá já derramamos um oceano de lágrimas com a delicadeza na qual Derek Cianfrance aborda a vida através de seus personagens.
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