Bohemian Rhapsody (2018); Direção: Bryan Singer, Dexter Fletcher; Roteiro: Anthony McCarten; Elenco: Rami Malek, Lucy Boynton, Gwilym Lee, Ben Hardy, Joseph Mazzello, Aidan Gillen, Tom Hollander, Mike Myers; Duração: 134 minutos; Gênero: Biografia, Drama, Musical; Produção: Graham King, Jim Beach; País: Estados Unidos; Distribuição: Fox Film do Brasil; Estreia no Brasil: 01 de Novembro de 2018;
A banda inglesa Queen ganhou notoriedade por mesclar inúmeros gêneros musicais, ousar nas performances e composições e incentivar uma grande interação com o público. Surgido nos anos 70, inicialmente como uma banda local minúscula, com ressonância apenas entre universitários, eles resolveram investir em si e tiveram sorte de estarem nos lugares certos, nas horas certas. O líder da banda, Freddie Mercury, nascido na Tanzânia e radicado inglês, foi um dos principais símbolos pops, pelo seu jeito extravagante e voz potente. Ele foi um marco, não só pelo talento musical, mas, também, por ter sido um simbolo de resistência ao ser um dos primeiros astros a assumir, publicamente, ser vítima da AIDS em pleno surto, incentivando assim a prevenção e o combate à doença.
A expectativa para um filme sobre Mercury e o Queen era grande, pelo fato de terem sido uma banda nem um pouco convencional. Contudo, por problemas contratuais e imposições da família de Mercury, a ideia do longa foi ficando cada vez mais remota, a primeira versão teria o comediante Sacha Baron Coen como o líder do Queen, além do mesmo escrever o roteiro. Porém, diante das limitações, Baron Coen abandonou o projeto, que ficou num limbo até Bryan Singer (Conhecido pela franquia dos X-Men), assumir, escalando Rami Malek, ganhador do emmy pela série “Mr. Robot“, como protagonista e, por consequência, atendendo as exigências para o filme vir a ser produzido de fato.
Para além dos problemas de produção aos quais Singer enfrentou, que inclusive culminaram em seu afastamento provisório, “Bohemian Rhapsody” tem como principal problema o fato da sua parcialidade. É um filme onde o estúdio teve tamanho controle, impedindo maior liberdade artística tanto do roteiro quanto da direção, tornando figuras tão emblemáticas quanto o cantor Freddie Mercury e a banda Queen em elementos meramente genéricos. Apesar da distinção da própria estória, podia-se facilmente trocar aqueles cantores por quaisquer outros. Não há personalismo algum. E, se tratando dos biografados, o que não faltava neles era personalidade.
Singer dirigiu grande parte do filme de forma completamente burocrática. É tão refém de sua própria fórmula que até momentos de euforia decorrente do uso das canções são apáticos, com direito inclusive a conveniências de roteiro que culminam num apequenamento gigante de temáticas importantes na vida do cantor: sua sexualidade e o descobrimento da AIDS, são coisas tratadas de forma superficial, um desserviço para uma figura que ainda representa muito tanto o meio LBGTI quanto os soropositivos. Para completar, o roteiro ainda detém de inúmeros erros históricos, tudo em prol de formar uma coesão narrativa, mas pouco convence.
O uso de grande parte das músicas é quase trivial, são poucas as que realmente dão um ar narrativo relevante. O último ato de “Bohemian Rhapsody” é onde ele consegue finalmente atingir seu verdadeiro potencial, claramente tendo sido comandado por outro diretor, após o afastamento de Singer. O problema é demorar tanto para o filme alcançar seu propósito, assume-se como um filme quadrado, mas aproveita para usar disso a seu favor, com uma recriação incrível do show da banda no Live Aid.
Sobre o elenco, a performance do egípcio Rami Malek destoa bastante ao longo do filme, inicialmente dá para perceber seu desconforto com a prótese dentária e a peruca, depois vai ficando mais à vontade para um momento derradeiro de ápice, praticamente uma catarse performática. Ele dubla e canta, e o faz de forma bastante convincente. Pode não ser a atuação de sua carreira, porém é um dos motivos pelos quais é difícil ficar indiferente ao filme.
Infelizmente, fica a promessa de uma obra à altura da grandeza de Mercury e seus companheiros. Particularmente, não sou muito conhecedor do conjunto, inclusive o filme acaba valendo mais como apresentação superficial aos não fãs e também sanar a curiosidade de alguns fãs. Porém nada além disso, nem um pouco marcante. E tendo em mente o show do Rock in Rio, em 1985, retratado em “Bohemian Rhapsody” inclusive como um dos marcos da carreira da banda, esperava-se algo exatamente assim.
Não rolou. Quem sabe o filme de Coen um dia nos brinde a relevância. A conferir.
“Bohemian Rhapsody” – Trailer Legendado:
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