Infiltrados na Klan (BlacKkKlansman, 2018); Direção: Spike Lee; Roteiro: Charlie Wachtel & David Rabinowitz e Kevin Willmott & Spike Lee; Elenco: John David Washington, Adam Driver, Laura Harrier, Topher Grace; Duração: 135 minutos; Gênero: Biografia, Comédia, Drama, Policial; Produção: Jason Blum, Spike Lee, Raymond Mansfield, Sean McKittrick, Jordan Peele, Shaun Redick; País: Estados Unidos; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 22 de Novembro de 2018;

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O cineasta Spike Lee ganhou notoriedade por abordar estórias comuns aos afro-americanos, muito estereotipados pelo cinema Hollywoodiano. Além de dar sonoridade ao movimento negro, ao qual era militante, o diretor focava, sobretudo, na representatividade dos negros na sociedade. Não por acaso ele se tornou um polemista, destoante do “establishment” do cinema americano. Laureado com o grande prêmio do júri do Festival de Cannes desse ano, uma espécie de 2º lugar, temos “Infiltrado na Klan“, uma obra tão pujante por sua relevância e pertinência aos dias locais, sobretudo após a eleição presidencial que culminou na eleição do novo presidente da república do Brasil.

Baseado em fatos reais, durante final dos anos 70, um policial negro do Colorado (John David Washington) se infiltra na Ku Klux Klan, começando a ganhar cada vez mais espaço na “Organização”. Ele se comunica com os demais membros por cartas e telefonemas, porém para ter representação física, ele usa como alter ego um policial judeu (Adam Driver). Com o passar do tempo, ele consegue sabotar os planos da seita, porém as suspeitas começam a surgir sobre a legalidade desse novo membro. À medida que o debate sobre direitos civis passa a ganhar cada vez mais relevância entre a sociedade civil americana.

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O mais interessante do roteiro é saber aonde quer chegar. Não meramente contando esse caso, deseja ir além e escrever uma história própria, do ponto de vista dos afro-americanos. Inclusive, usa o cinema como metalinguagem dessa narrativa, utilizando filmes como “O Nascimento de uma Nação” (1915) e “… E o Vento Levou” (1939), alicerces culturais da perpetuação do discurso racista estadunidense,  de superioridade branca.  É extremamente simbólico um diretor negro estampar isso em tela grande, construindo de maneira cartunesca os algozes brancos, integrantes da seita. É um negro estereotipando aqueles que sempre praticaram isso com minorias. E, sinceramente, se soar incômodo ao público branco tamanha construção, é um mérito ao qual Lee deve ter atingido.

O principal problema do filme é o excesso de didatismo, sobretudo ao traçar um paralelo entre a KKK e os movimentos negros por direitos civis. Apesar disso, vale ressaltar a necessidade de um discurso assim para o público médio que banaliza as questões raciais e das minorias, ainda em 2018. Um dos exemplos visto é mesmo os resultados das eleições presidenciais de 2016, nos Estados Unidos e desse ano, no Brasil. Reescrever a história é necessário, é preciso ser incisivo e relevar quem verdadeiramente foram e são os vilões. Por mais maniqueísta que isso possa soar, é inacreditável a existência ainda de grupos que pregam a segregação racial.

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Com um final alarmante, extremamente duro, quase uma paulada em sua audiência. Spike Lee entrega um filme bem retrô, consegue tornar divertida uma temática tão pesada. Com belas atuações, do estreante John David -filho de Denzel Washington– e de Adam Driver (“Star Wars: Os Últimos Jedi“, “Logan Lucky“), “Infiltrado na Klan” soa um filme extremamente relevante e fundamentalmente representativo. Além de ser um retrato bem doloroso sobre nós. Uma reflexão cada vez mais necessária a se fazer.

“Infiltrado na Klan” – Trailer Legendado:

Esse texto faz parte da cobertura do 20º Festival do Rio.

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