Inferno
(2016)
Direção: Ron Howard
Roteiro: David Koepp
Elenco: Tom Hanks, Felicity Jones, Omar Sy, Ben Foster, Sidse Babett Knudsen, Irrfan Khan, Ana Ularu, Ida Darvish
Duração: 121 minutos
Gênero: Aventura, thriller
Produção: Brian Grazer, Ron Howard
Distribuição: Sony Pictures
País de Origem: EUA
Estreia no Brasil: 13 de Outubro de 2016
Censura: Não recomendado para menores de 14 anos
Figurando como os filmes de maior sucesso mundial da carreira do diretor Ron Howard, a franquia que retrata as aventuras do professor Robert Langdon não exibe o melhor dos retrospectos quando se fala de qualidade e, em seu início, uma década atrás, pareciam trazer até recepções mais prósperas até às obras do autor Dan Brown, nas quais se baseiam os filmes. Assim, novamente protagonizado por Tom Hanks, o terceiro filme da franquia chega sete anos após seu antecessor e, mesmo com expectativas mais contidas e uma certa diminuição no prestígio com o qual os dois primeiros filmes foram recebidos, Inferno consegue se mostrar uma grande decepção.
Ao contrário do que usualmente ocorre, desta vez quando Robert Langdon (Tom Hanks) reganha consciência, e nós tomamos consciência dele, já estamos em meio ao imbróglio de uma nova aventura, em Florença, na Itália. Não à toa, esta é a cidade natal de Dante Alighieri, autor de A Divina Comédia, obra-prima da literatura que serve como base para outro grande mistério que, quando dá por si, Robert Langdon já está envolvido até o último. Acompanhado da médica Sienna Brooks (Felicity Jones), e sem saber muito bem o que está acontecendo, os dois precisam correr contra o tempo para encontrar uma possível praga deixada por Bertrand Zobrist (Ben Foster), capaz de exterminar metade da população mundial.
Para explorar essa ideia do vilão, interpretado pontualmente por Ben Foster, se aborda o conceito de superpopulação, com os números surpreendentemente crescentes da raça humana, hoje chegando a quase 8 bilhões. O que não é nenhuma novidade a ser explorada em filmes, ou séries, e já tendo sido aprofundada de maneira muito mais satisfatória, eficaz e inteligente em obras como Kingsman: Serviço Secreto e a britânica Utopia. No entanto, o maior problema de Inferno ao abordar isso é que parece não entender a maneira sensacionalista com a qual o faz, tanto que o vilão de Ben Foster, inevitavelmente, se torna uma figura caricata.
E Inferno sofre constantemente com elementos assim, pois a aventura protagonizada por Tom Hanks esbanja cafonice em todos os sentidos possíveis. Aí o filme de Ron Howard demonstra que a diferença de tempo entre uma sequência e outra não serviu, de fato, para desenvolvimento algum. Inferno simplesmente parece ter parado no tempo sem acompanhar o que ocorreu nos cinemas nos últimos anos. Havendo, então, uma recusa em melhorar no que tinha errado, bem como em aprender com o que deu certo, emulando situações semelhantes aos dois filmes anteriores e sem evocar diferença alguma.
Ainda mais porque, seja por culpa do próprio Dan Brown ou do roteirista David Koepp, mesmo que comece já nos lançando em meio a aventura, de nada adianta. Inferno tem uma mania absurda de mastigar todo e qualquer fato, o que não se reserva somente a segredos relacionados a clássicas obras de arte, ou museus e palácios que servem de cenários ao filme. A narrativa de Inferno, por mais que se inicie, de certa maneira, num ponto não linear, não tem intenção alguma de deixar qualquer espaço para o público refletir sobre o que quer que seja.
Em Inferno isso vai dos momentos mais simplórios da trama, até os mais contundentes. O apoio no material base de Dante Alighieri também pouca função demonstra, e os planos do vilão, passando por tal sensacionalismo, sequer dão espaço para o público refletir sobre certo e errado. Inclusive, o próprio filme se priva desse questionamento, parecendo até fugir de uma problematização maior na intenção de não se complicar moralmente. Recai, portanto, a uma simples correria atrás de algo que não se sabe o que é. Pior é quando chegam as reviravoltas da trama, tão típicas à Dan Brown que aqui encontra ainda mais dificuldade em surpreender.
Até porque, quase ocorrendo todas simultaneamente, em nada subvertem, ainda mais com personagens tão superficiais. Tom Hanks é mais do mesmo, enquanto as adições de novos atores ao elenco são redundantes. Desperdiça-se principalmente o talento de Felicity Jones e Omar Sy, este último num personagem cuja trama chega a ser cômica. O mais incrível é como todos os personagens carecem de desenvolvimento, e em vergonhosas exposições feitas através dos diálogos, Inferno acredita que é capaz de gerar catarses emocionais com os personagens de Irrfan Khan e Sidse Babett Knudsen, tornando complicada a escolha de qual das situações é a mais forçada.
Inferno, portanto, parece tão seguro de si que se esquece de cogitar a possibilidade de algo poder dar errado. O pior acontece, e pouco funciona, se é que funciona. Dá saudades do Ron Howard que vimos somente há alguns anos atrás, dirigindo o espetacular Rush – No Limite da Emoção, que aqui parece ter somente o mesmo anseio de explorar diferentes, e inusitados, ângulos de câmera, mas ficando distante do sucesso conquistado lá. O resultado é que, mesmo Inferno sendo uma continuação, se fosse dado como um reboot ou remake, não faria diferença alguma. Posando como inteligente, sua autoconfiança o torna num filme que já vimos diversas vezes antes, algumas até mesmo nessa própria franquia.
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