A escritora inglesa Jane Austen consagrou-se pelos seus romances retratando uma Inglaterra aristocrática em transformação, ainda que lenta. Suas protagonistas eram independentes e cheias de vigor, tentavam não entrar no mérito da paixão, porém era inevitável isso não acontecer decorrente das demandas daquela época. As adaptações de suas obras brotam aos montes até hoje, por conta disso se torna tão difícil encontrar algum ineditismo quanto a abordagem deste material. Por conta disso, grata surpresa é o longa “Amor & Amizade”, que chega aos cinemas nesta semana. Maior mérito do longa é justamente satirizar o universo da lendária escritora, evidenciando seus elementos datados e pra lá conservadores se comparar a mulher naquele século e a atual, entretanto não denigre nem julga seus escritos. Apresenta sim elementos modernos desse novo contexto contemporâneo, abraçando uma narrativa clássica irônica por fugir do convencional.
Na estória, a belíssima viúva Lady Susan Vernon (Kate Beckinsale) foge das fofocas sobre seus casos amorosos buscando refúgio na fazenda dos antigos sogros. Lá reflete sobre a vida e decide arranjar um novo marido para si e um bom pretendente para a filha, Frederica (Morfydd Clark). Contudo, não é tão fácil adentrar na convencional sociedade inglesa e achar um partido na altura de sua filha e de si mesma. A simplicidade na narrativa é preenchida pela vastidão de seus diálogos, emulando de forma vigorosa Jane Austen, cheio de acidez, ironias e alfinetadas. O mais interessante do roteiro é denunciar como há tantas “herdeiras” de Lady Susan ainda vivendo no século XXI, esse rebaixamento da mulher em considerar achar um marido em prol de aceitação da sociedade, algo bastante arcaico. Particularmente, considero o universo “Austeniano” apaixonante, por isso é tão engrandecedor vê-lo tão repaginado, permanecendo com sua essência, contudo com uma argumentação vasta e atualizada (!). A ideia do diretor Whit Stillman é justamente mostrar que um filme de época pode ser moderno e atual, contrariando pensamentos retrógrados ainda existente na sociedade moderna.
A direção de Whit Stillman consegue ser encantadora, pelo pilar fundamental em dar todos os holofotes para sua protagonista, Kate Beckinsale, maravilhosa como sua Lady Susan. Whit emprega uma verborragia hipnotizante, não nos cansa e faz pedir mais, acrescenta inclusive um tom teatral comum nos textos de Jane Austen, sem beirar ao ridículo ou a caricatura. “Amor & Amizade” consegue ser um longa encantador, pelo seu modo pouco convencional e sua narrativa ardilosa, demonstrando desenvoltura em criticar a sociedade tanto que retrata quanto a qual consome o filme atualmente. Lady Susan é uma personagem cheia de nuances e faces, pode demonstrar ser a cara da mulher moderna, sobretudo em uma Era tão datada. É uma personagem para posteridade e com um “quê” de representatividade. Talvez seja superior ao filme em si, contudo é uma personagem para se levar futuramente e perceber o quanto o girl-power é predominante e necessário.
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