El Camino: A Breaking Bad Movie (2019); Direção: Vince Gilligan; Roteiro: Vince Gilligan; Elenco: Aaron Paul, Jesse Plemons, Krysten Ritter, Robert Forster, Matt Jones, Charles Baker, Scott MacArthur, Scott Shepherd; Duração: 122 minutos; Gênero: Drama; Produção: Mark Johnson, Melissa Bernstein, Charles Newirth, Vince Gilligan, Aaron Paul; País: Estados Unidos; Distribuição: Netflix; Lançamento no Brasil: 11 de Outubro de 2019;
Não dá para dizer exatamente que alguém tenha ficado órfão de “Breaking Bad” após o encerramento da série, que se concluiu de maneira irretocável durante seu ápice, sendo reconhecida, merecidamente, como uma das principais produções na história da televisão norte-americana. Isso porque o receio de se desenvolver qualquer derivado relacionado aos personagens, todos com suas histórias devidamente concluídas da maneira que veio a se esperar ao longo da série, já devia ter caído por terra quando “Better Call Saul”, durante suas quatro temporadas já lançadas, é continuamente uma das melhores séries em exibição, ainda que seja bem diferente da produção original, assim como, erroneamente, ainda não tenha recebido o mesmo reconhecimento popular.
Lógico, também, que é diferente dar uma continuidade a um momento específico e contar uma história quase que completamente derivada. É inevitável uma certa nostalgia, independentemente da possibilidade de se discutir se os nomes por trás das produções têm como um melhor trabalho “Breaking Bad” ou “Better Call Saul”. Ou seja, Vince Gilligan e companhia continuam em seu auge e deixam isso claro mais uma vez ao construir um epílogo excepcional em “El Camino”, dando ao personagem de Aaron Paul sua merecida -se não então, agora sim- canção do cisne. Um trabalho para não deixar duvidas sobre a consciência com a qual Gilligan toma suas decisões.
A trama é bastante simples: Jesse Pinkman (Aaron Paul) é procurado pela polícia, após a chacina envolvendo a morte de Walter White (Bryan Cranston), e numa corrida contra o tempo precisa de dinheiro para fugir de Albuquerque e deixar seu passado para trás de uma vez por todas. Seu caminho, porém, está cheio de percalços, principalmente aqueles que parecem ter retornado para o assombrar, seja de qual maneira for e se é que alguma vez o deixaram de fazer. Assim, é muito inteligente a maneira encontrada para fugir de saudosismos, numa narrativa que se atém ao tom da série para contar sua própria história.
Conta sua própria história porque faz uso de flashbacks para inserir conteúdos em períodos de tempo que se fizeram passar através de elipses em “Breaking Bad”. São dois pontos principais que surgem aqui para definir “El Camino”: o primeiro diz respeito a incorporação ao tom da série. Jesse Plemons (“A Noite do Jogo“) retorna para interpretar Todd com um texto que segue as mesmas diretrizes que foram estabelecidas há tanto para seu personagem, e aqui são trabalhadas muito bem, tanto em relação ao personagem em si como em contraponto a Jesse, e como este foi afetado pelas atitudes drásticas e impensadas de Todd.
O segundo ponto é o personagem introduzido no filme e que, durante o clímax, parece gerar um confronto com um resultado que não condiz com o personagem de Aaron Paul. A verdade é que ele está ali justamente para atestar essa mudança pela qual Jesse Pinkman passou ao longo de todos esses anos. É, de fato, um acontecimento muito catártico, ainda mais após a lembrança que Jesse tem de Jane (Krysten Ritter) no que se faz, para ele, o momento então derradeiro de “El Camino”. A decisão naquele momento é o que conduz toda a narrativa do filme, não ela de maneira literal, mas o que significa para o personagem e o que vemos no desenrolar de todo o filme.
O protagonista é um personagem já estabelecido há tanto tempo que a dificuldade em se encontrar terreno para explorar novas coisas é enorme. Entretanto, Aaron Paul consegue de maneira arrebatadora elevar seu Jesse Pinkman ao centro das atenções numa atuação que se sobressaí principalmente em arroubos minuciosos, na representação de um homem consumido pela dor e sofrimento, pelo cárcere e abuso, exilado de qualquer contato humano, tendo de reaprender a viver como um ser humano qualquer. Muito disso já estava naquele último plano de Jesse em “Breaking Bad”, mas a maneira como é tudo exposto de forma ainda mais rica aqui, é o que torna tão gratificante o último plano do filme. Se era necessário, podemos debater continuamente, mas o final que Vince Gilligan entrega ao seu personagem e ao espectador é, certamente, memorável, e digno dos grandes momentos da série que nos fez chegar até aqui.
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