X-Men: Fênix Negra (Dark Phoenix, 2019); Direção: Simon Kinberg; Roteiro: Simon Kinberg; Elenco: James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Jessica Chastain, Sophie Turner, Nicholas Hoult, Tye Sheridan, Alexandra Shipp; Duração: 114 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Fantasia, Ficção Científica; Produção: Simon Kinberg, Hutch Parker, Lauren Shuler Donner; País: Estados Unidos; Distribuição: Fox Film do Brasil; Estreia no Brasil: 06 de Junho de 2019;
Desde “X-Men: O Confronto Final”, lançado em 2006, tudo envolvendo o universo mutante nos cinemas tem envolvimento com o nome de Simon Kinberg. Em grande maioria, atuando como produtor, mas nos filmes principais, também como roteirista, tendo iniciado sua participação justamente no filme de 2006, sendo exceção apenas em “X-Men: Primeira Classe”, exatamente filme que deu sobrevida à franquia após a derrocada ao fim da primeira trilogia. Não é à toa, portanto, que vemos aqui uma repetição dos erros cometidos na década passada, seguindo caminhos semelhantes ao filme de 2006, e da negação dos aprendizados colhidos com o filme lançado no início da década.
Ainda que tenha essa experiência ao longo dos anos, é arriscado, no entanto, que essa também seja a estreia de Kinberg na direção de longas-metragem. O resultado deixa evidente o peso da inexperiência em um filme que exige tanto, contudo, também é chocante como alguém que passou envolvido tanto tempo neste universo consiga colocar em cena personagens tão vazios, que não passam qualquer sentimento ou sinal de vida ao público, nem a carga emocional de filmes anteriores consegue ser transpassada em “X-Men: Fênix Negra”, que se faz um desastre do início ao fim, e até mesmo parece esquecer eventos escritos pelo seu próprio realizador.
Há a inserção de novos elementos na narrativa, algo que modifica um pouco os eventos em relação ao filme de 2006 e, por mais que se torne repetitivo citá-lo, é importante porque as semelhanças são gritantes. Existem mudanças, é diferente, obviamente, mas as semelhanças são algo feito de forma tão consciente que o filme até inverte algumas situações para você fazer as relações. Só que justaposto, é ainda mais notável o quanto aqui se torna irrelevante e o quanto esse anseio por explorar a figura da fênix é mais uma redundância descabida do que a vontade de realmente explorar algo concreto.
Porque mesmo que existam diversos tópicos levantados durante “X-Men: Fênix Negra”, nenhum deles é, de fato, explorado ou desenvolvido ao todo. Pior é que sequer há consistência para tal. Por mais que no todo a narrativa não falhe gritantemente em sua linearidade, também dada a simplicidade pela qual se opta, é de uma pobreza tal que muito ali se faz dispensável. Vilões são apresentados e, no entanto, nunca se mostram uma real ameaça, que coloque em risco este universo. Isso está implícito no texto, obviamente, mas assim como os personagens falham em dar algum sinal da vida, o filme falha em dar qualquer sinal de gravidade, ou comoção.
O texto é todo tão mecânico que o que parece ser transpassado em cena é mais o incômodo de uma ou outra estrela em estar ali. Mas é risível porque, enquanto acredita piamente em sua seriedade, “X-Men: Fênix Negra” também quer estabelecer uma discussão dessas figuras heroicas lançadas ao olhar público, que transcende aos personagens do filme, ao espaço diegético, que quer debater sobre as figuras que nós, espectadores, vamos ao cinema conferir continuamente. Mas não tem o mínimo cacoete para fazer isso e o resultado final é uma paródia malfeita e mal escrita e que não vai a lugar algum.
A superficialidade e a mecanicidade do texto é tanta que emperram todo seu desenvolvimento, não porque a narrativa não segue em frente, mas porque as motivações são ineficazes. Não somente isso, há toda uma ingenuidade presente também, então essas motivações equivalem a de crianças pré-escolares, e uma “mudança de coração” é mais que óbvia que virá a acontecer, mas acontecem por nenhum motivo em especial. Ou melhor, acontecem porque os personagens que encontramos em cena estão completamente descaracterizados daquilo que conhecemos, não só dos quadrinhos, mas dos próprios filmes que antecedem e culminam neste.
O todo soa fútil, sem um motivo aparente que justifique qualquer coisa feita aqui, inclusive as cenas de ação empolgam em raros momentos, e demonstram a falta de cacoete de Kinberg na função de diretor, suas noções de cinema são bastante simples, como se vê ecoado em todo o restante do filme. Não há uma ideia motriz, ou sequer uma identidade, o visual apresentado é meramente uma fotografia colorida sem muito esmero ou qualquer inspiração. É um filme que não pulsa, onde personagens chave podem entrar e sair de cena sem serem nomeados ou diretamente referidos, porque pouco importam. Os conflitos são esvaziados e não se corre qualquer risco.
Assim, “X-Men: Fênix Negra” aos poucos se torna uma despedida cada vez mais melancólica, e não porque está dizendo adeus, mas pela maneira vexaminosa como o faz. Mesmo estando ciente de que é um último capítulo, e assim se apresentando, encontramos aqui uma narrativa que não concluí especificamente nada, além do arco que se apresenta para a personagem interpretada por Sophie Turner (“Game of Thrones“). É uma despedida melancólica porque décadas após o filme que viabilizou o nicho de filme de super-heróis, a franquia se despede do estúdio que foi sua casa por tanto tempo sem ao menos sequer parecer entender seus personagens.