Crítica | The Americans | 5ª Temporada

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The Americans (5ª Temporada) (FX, 2013-); Criada por: Joe Weisberg; Direção: Chris Long, Stefan Schwartz, Gwyneth Horder-Payton, Noah Emmerich, Roxann Dawson, Matthew Rhys, Kevin Bray, Dan Attias, Sylvain White, Steph Green, Nicole Kassell; Roteiro: Joel Fields, Joe Weisberg, Tracey Scott Wilson, Peter Ackerman, Joshua Brand, Stephen Schiff, Hilary Bettis; Elenco: Keri Russell, Matthew Rhys, Holly Taylor, Keidrich Sellati, Noah Emmerich, Costa Ronin, Frank Langella, Brandon J. Dirden, Margo Martindale, Daniel Flaherty, Kelly AuCoin, Irina Dvorovenko, Alexander Sokovikov, Zack Gafin, Ivan Mok, Julia Garner Laurie Holden, Alison Wright; Número de Episódios: 13 episódios; Data de Exibição: 07 de Março a 30 de Maio de 2017;

Chega a ser redundante lançar elogios sobre The Americans, visto o que ela faz por si. Mas é preciso. É fato que a série é uma das melhores produções na atualidade, caminhando possivelmente para se consagrar como uma das melhores nessa década e dessa geração, muitos arriscariam já até incluí-la entre as melhores já feitas. Por que não? Assimilar constatações como essas é inevitável quando nos damos conta de que esta quinta temporada é a penúltima da série, que ao longo dos anos manteve uma regularidade que, quando se iniciou, não dava indícios de que alcançaria. Mas o ritmo e a forma como sua história foram cadenciados se fez valer episódio após episódio, e temporada após temporada. Chega a ser difícil apontar qual seria, exatamente, a melhor temporada até agora. Este quinto ano, porém, parece se estabelecer como tal, numa temporada em que, se há impressão de que não saímos do lugar, deixou-se de prestar atenção em um trabalho de desenvolvimento de personagens dos mais bem elaborados. As posições nas quais The Americans se inicia e encerra nesta quinta temporada reservam em si uma jornada que descarrega sobre nós todo o peso que acomete o casal Jennings e suas missões, assim como suas vidas, culminando em um ponto que é difícil dizer onde uma coisa termina e a outra começa.

Assim como também é amargo ver o casal -interpretado por Matthew Rhys e Keri Russell (Um Estado de Liberdade), outra vez em atuações impecáveis- ser consumido pelas inúmeras provações que surgem a cada missão enviada pela Central. O desenvolvimento dessa fadiga é construído numa temporada exímia de Frank Langella (Capitão Fantástico), onde através de seu Gabriel faz render algumas das cenas mais tocantes e sensíveis em toda The Americans. A forma como caminhamos para uma decisão derradeira do mesmo é, no entanto, feita com tal sutileza que só não surpreende por se tratar da série da qual estamos falando. Além disso, funciona como um elemento que dá evidência ao quão genial e ao cuidado que se tem para estabelecer paralelos narrativos. É deslumbrante perceber como são encontradas formas das tramas paralelas em cada episódio conversarem entre si, ou falarem sobre outras, resultando em detalhes que tornam a experiência com a série ainda mais enriquecedora. A beleza em como cada episódio é desenvolvido, cada qual com sua parcela de independência, mas que geram organicamente um panorama completo, é algo que recompensa o espectador com um prazer de plenitude invejável. A difusão de pontos de vistas, onde se estende, aos poucos, o tempo que outros personagens recebem, é também fundamental para a temporada.

Enquanto Elizabeth e Philip passam a ansiar, de um lado, uma aposentadoria da terra prometida e um retorno ao lar, do outro OlegCosta Ronin também numa atuação excepcional- amarga as ruínas em que o sistema implantado na União Soviética foi transformado pelos poderosos corruptos. Uma realidade que se faz assustadoramente contemporânea, dada suas proporções e mesmo que do outro lado do mundo. Aqui The Americans faz um comentário político muito forte, e utiliza de seus paralelos narrativos para influenciar minuciosamente na visão da própria situação norte-americana, lançando críticas a ambos os lados e, outra vez, refletindo problemas que teimam em se fazer contemporâneos. O que só funciona pela qualidade certeira daquilo que acompanhamos. A investigação de Oleg nos leva não somente ao cerne do problema que acarreta numa estagnação da URSS, mas ao âmago do próprio personagem e como aqueles a sua volta falam sobre a dura história de sua nação. Uma coisa não deixa a outra de lado, e conforme se aprofunda em sua investigação para a agência, a compreensão de segredos mantidos sobre o passado de seus pais revela muito sobre seu país, dos privilégios que amparam alguns às dores que acometem tantos outros, tornando em tragédia a glória prometida pela revolução.

A ambiguidade em ideais não parece se reservar apenas ao que nos identificamos, o utópico é, por si, impossível. Quem dirá então aquele do suposto criador do Universo, e de todas as coisas, e do filho feito a sua imagem. Contudo, como deixar de lado as coisas em que se acredita? A credibilidade para tal, ainda que numa descrença de menores proporções, se dá no desenvolvimento que adjetivo algum parece capaz de sintetizar. Paige sempre foi uma boa personagem, passou a crescer e se tornou melhor ainda quando da reviravolta imposta pela Central aos Jennings. Junto com o excelente trabalho de Holly Taylor, a filha do casal tem potencial para acabar como a melhor personagem em The Americans. Cada passo dado parece cuidadosamente planejado, sem leviandades carregando a personagem a um patamar que a faz aspirar aos passos de seus pais com igual competência aos mesmos, senão mais. Todo o conflito moral é trabalhado em fundamentos que tornam as ações e escolhas da personagem em situações identificáveis e críveis, que só tem como propósito desenvolvê-la. Dada a recusa inicial quanto a aceitação dos fatos, a figura na qual está se transformando conquista por um carisma da atriz e se sobressaí com todas as escolhas acertadas feitas para Paige Jennings.

Paige está para Elizabeth, assim como Henry está para Philip, ainda que esta última parte não tenha ficado explícita na temporada, o flerte do personagem de Keidrich Sellati com seu futuro na América fala justamente sobre isso. Aqui, outro paralelo, porque ao vermos ambos os personagens refletidos e tendo toda a perspectiva do que está acontecendo, chegamos ao fim da temporada numa encruzilhada. Philip e Elizabeth não são nem mesmo estes como os quais se identificam, a nação mãe parece falar mais alto, e ambos se veem perdidos em meio a esta aparentemente interminável missão. Há uma ansiedade vigente sobre o destino dos Jennings, porque o próximo ano reserva uma temporada mais curta e que encerrará uma obra-prima da televisão. O receio por eles, portanto, fala mais alto, a incerteza quanto ao destino pelo qual optam e as consequências disso, são de uma inquietação tremenda. Tudo porque, como no romance com ares russos clássicos que é, The Americans explora através de Keri Russell e Matthew Rhys tantas camadas que é impossível não se colocar no lugar de ambos. A dor, o silêncio, as alegrias, a vida desses personagens e a forma como compartilhamos delas é resultado de uma obra irretocável, que em momento algum decepciona e constrói, através de seu delicioso ritmo, uma narrativa que entrará para a história, se já não o fez e somente aguarda merecido reconhecimento pleno.

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