Pokémon: Detetive Pikachu (Pokémon: Detective Pikachu, 2019); Direção: Rob Letterman; Roteiro: Dan Hernandez & Benji Samit e Rob Letterman e Derek Connolly; Elenco: Ryan Reynolds, Justice Smith, Kathryn Newton, Suki Waterhouse, Omar Chaparro, Chris Geere, Ken Watanabe, Bill Nighy; Duração: 104 minutos; Gênero: Aventura, Comédia, Drama, Fantasia, Ficção Científica; Produção: Mary Parent, Cale Boyter, Hidenaga Katakami, Don McGowan, Greg Baxter, Cliff Lanning, Ali Mendes; País: Estados Unidos, Japão, Reino Unido; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 09 de Maio de 2019;
Quando anunciado, há um ou dois anos atrás, “Pokémon: Detetive Pikachu” soou como algo completamente inusitado, ainda que fosse o anseio de muitos fãs um filme live action da famosa franquia. Com o passar do tempo, o que parecia algo impensável se tornou cada vez mais atraente, culminando em algo que expressa justamente aquela carismática faceta que Pokémon sempre fez uso para atrair seu público, seja ele qual fosse. Um live action em longa metragem é, no entanto, uma experiência completamente diferente e, por isso mesmo, a primeira tentativa fica aquém do potencial oferecido pelo material de origem, mais as criaturas em si do que qualquer outra coisa.
Isso porque, enquanto em determinado quesito é de encher os olhos, o filme também é, em contrapartida, extremamente decepcionante dada a ingenuidade que encontramos a torto e a direito em todos seus quesitos. Lógico que, fica claro, o público alvo principal aqui são as crianças em idade pré-escolar e talvez um pouco acima disso, sendo que é na nostalgia que vai buscar alguma sustentação, não tanto lógica, mas ao menos afetiva, algo que dê ao filme esse caráter mais pessoal, algo de um cunho que permita o envolvimento de outra parcela do público.
É absurdamente encantadora a qualidade implementada nos efeitos para dar vida aos Pokémons no filme, o que torna extremamente fácil que nos vejamos deslumbrados com a graciosidade (quase sempre) dos mesmos em cena. É nesse quesito que “Pokémon Detetive Pikachu” brilha, quando os verdadeiros protagonistas roubam para si as cenas e, independentemente de qual seja o contexto, entregam aquilo que se espera, ao menos em parte, afinal, batalhas são veementemente proibidas no universo lúdico que nos é apresentado no filme, onde humanos e Pokémons vivem em, aparentemente, perfeita harmonia. O que pesa negativamente, em certos momentos, é a direção de Rob Letterman.
Ainda que em alguns quesitos, como na bela paleta de cores e na iluminação utilizada pela fotografia do filme, se construa algo esteticamente interessante de se assistir, quando mais se precisa dela, a direção recorre a recursos preguiçosos e que, por vezes, mal sabe como captar o momento. Há uma cena específica em que tanto os efeitos como a própria direção deixam demais a desejar, onde o resultado do que encontramos acaba por ser confuso visualmente, dadas as más escolhas de como se capturar o momento em si. Detalhe que, esta cena em questão, é uma das mais exigentes e grandiosas no filme, talvez o grande desafio de Letterman, no qual ele falha.
O maior empecilho do filme, no entanto, vem de sua narrativa. Ainda que não se complique no todo, por optar por um arco completamente simplório -fácil não só de compreensão, mas de se concluir da forma mais “redonda” possível, é nos detalhes que decai pouco a pouco. Há fundamento para que se possa argumentar que o mesmo se dê por conta do foco no público infantil do filme, mas também é uma desculpa esfarrapada para justificar escolhas e resoluções preguiçosas de uma história mergulhada em ingenuidade e ignorância. A opção pelo simples é, também, uma forma de esconder as tantas limitações narrativas dos envolvidos.
Porque, ainda que alguns temas que desejava explorar fiquem evidentes, falta força para tornar qualquer um destes convincentes, fazendo uso demasiado de clichês, resoluções para lá de cafonas e exposições de roteiro que chegam ao ponto de se fazerem irritantes. “Pokémon: Detetive Pikachu” é o mais típico bê-a-bá hollywoodiano, que subutiliza o material de origem para realizar algo extremamente preguiçoso e que, por mais que possa entreter por um momento ou outro, se contenta em ser menos do que realmente é, se contenta em não arriscar, se contenta em ser justamente o oposto daquilo que imagina pregar desde seu início.