Jurassic World: Domínio” (“Jurassic World Dominion”, 2022); Direção: Colin Trevorrow; Roteiro: Emily Carmichael & Colin Trevorrow; Elenco: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Laura Dern, Jeff Goldblum, Sam Neill, DeWanda Wise, Mamoudou Athie, BD Wong, Omar Sy, Isabella Sermon, Campbell Scott, Justice Smith, Scott Haze, Dichen Lachman, Daniella Pineda; Duração: 146 minutos; Gênero: Ação, Aventura; Produção: Frank Marshall, Patrick Crowley; País: Estados Unidos; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 02 de Junho de 2022;

Jurassic World: Domínio 02
(Divulgação/Imagem: Universal Pictures)

É plausível acreditar que não se imaginava o sucesso que seria quando o primeiro Jurassic World foi lançado 7 anos atrás, tendo recebido uma sequência igualmente muito bem sucedida, ao menos em termos de bilheteria. É inegável que esta franquia bilionária da Universal Pictures se trata de um fenômeno, que agora retorna para um -suposto- capítulo final. “Jurassic World: Domínio” pode até ser a última parte desta trilogia, mas assim como era difícil prever tal sucesso, é difícil acreditar que um estúdio vá se desfazer de tal maneira de uma marca blockbuster que faça tanto sucesso. A descrença é tão grande quanto quando se assiste ao filme e se percebe algo que faz toda a diferença: mesmo depois dos dois primeiros filmes, parece que os realizadores se recusaram a aprender com seus erros. Dessa forma, o que vemos é uma repetição dos mesmos erros, as mesmas batidas, uma mesmice focada no objetivo único de se manter no lugar comum que já rendeu bilhões. O adendo, dessa vez, é o retorno de nomes da franquia original para usar a nostalgia como uma forma de gerar alguma comoção a mais do público. É uma receita de sucesso, e o resultado não decepciona quando nos lembramos o que foram os outros dois filmes da franquia.

O deslumbramento com os efeitos visuais é cada vez menor e a efetividade destes, também, muito por conta da falta de inventividade com que tudo se desenvolve não só em “Jurassic World: Domínio”, mas como em seus antecessores. Na trilogia são raras as exceções de momentos marcantes, que ainda se dispersam na memória com quão ineficazes geralmente são para a narrativa, como a sequência que serve de prólogo ao segundo filme. Aliás, o segundo e este terceiro filme tem um elemento muito em comum para seus maiores problemas: a narrativa abarrotada. Uma vez fora do parque, Jurassic World começou a ter tantas tramas paralelas que se perde nas mesmas e mal dá tempo de quase qualquer personagem ser desenvolvido, ou minimamente interessante. As novas adições neste terceiro filme, por exemplo, são dispensáveis. DeWanda Wise é um exemplo até metalinguístico, pois nem a própria personagem sabe, durante o filme, porque está arriscando sua vida ajudando os protagonistas. Há literalmente piadas com isso, como se fosse uma sacada espertinha dos roteiristas/realizadores. Enquanto o personagem de Mamoudou Athie funciona como um Deus Ex Machina, quase se teletransportando entre as tramas para ajudar os personagens de diferentes núcleos. São tantas soluções preguiçosas feitas pelo filme.

Jurassic World: Domínio 03
(Divulgação/Imagem: Universal Pictures)

O ápice, no entanto, é o personagem de Campbell Scott e o maniqueísmo com o qual ele é construído. Não só preguiçoso, mas simplório em um sentido que nos faz perceber como “Jurassic World: Domínio” quer soar inteligente, mas não tem a mínima capacidade de o ser. A trama que liga o retorno das personagens do filme original, o “Jurassic Park” de Spielberg, as personagens deste novo filme é quase um escárnio com o espectador. Chega a ser cômico o quanto consegue ser ruim a conexão para estabelecer esse encontro entre passado e presente. Até porque é uma trama cuja impacto explicitado por personagens no filme não tem o menor efeito dentro da narrativa em si. É um descolamento da realidade que diz muito sobre como um filme industrializado e de tal porte financeiro faria melhor em se afastar de um discurso -pseudo- progressista. Há um anseio para criticar o capitalismo, aqui personificado pelo personagem de Campbell Scott, mas ao mesmo tempo há um enorme receio de dar nome às coisas. Há corrupção e algo maligno, mas é algo inominável, uma assombração que paira sobre todos, mas não se sabe ao certo o que é nem como derrota-lo de vez. Algo tão intrínseco ao estadunidense quanto a nostalgia.

Nostalgia que é outro fator fundamental para “Jurassic World: Domínio”, não só pelos retornos de Laura Dern (“Adoráveis Mulheres”) e Sam Neill, mas para os próprios personagens no filme. Lembranças de outros tempos tidas com carinho, mesmo na repetição cíclica de verem suas vidas em risco em meio a um santuário de dinossauros vivos. Laura Dern, ao menos, tem um ótimo timing cômico, e arranca alguns sorrisos. Isabella Sermon é um ponto alto do filme, a carismática jovem atriz é um dos respiros aqui, ainda que todo o arco emocional do filme seja ineficaz. É tudo muito protocolar. Até a ação parece algo pouco inspirado, o que não surpreende em se tratando de Colin Trevorrow como diretor. Na verdade, é mais surpreendente que ele entregue uma ou duas boas sequências (apenas) nas mais de 2 horas de filme. “Jurassic World: Domínio” tem a clara marca de seu realizador, Trevorrow entrega algo completamente sem graça e que se escora inteiramente na qualidade de seus efeitos visuais. Não há, porém, qualquer criatividade de sua parte para criar algo empolgante ou até mesmo inspirado, é como uma atração de um parque de diversões, onde qualquer sensação é de pura artificialidade. Se é o fim ou não da franquia, só podemos esperar que da próxima vez a nostalgia sirva não apenas como um discurso vazio, mas como uma lição para se aprender com os erros cometidos.

Jurassic World: Domínio” – Trailer Legendado:

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