“Fale Comigo” (“Talk to Me”,2023); Direção: Danny Philippou, Michael Philippou; Roteiro: Danny Philippou & Bill Hinzman; Elenco: Sophie Wilde, Alexandra Jensen, Joe Bird, Otis Dhanji, Miranda Otto, Zoe Terakes, Chris Alosio, Marcus Johnson, Alexandria Steffensen; Duração: 95 minutos; Gênero: Terror; Produção: Samantha Jennings, Kristina Ceyton; País: Austrália; Distribuição: Diamond Films; Estreia no Brasil: 17 de Agosto de 2023;
Apesar de estreantes em longa-metragem, a dupla de irmãos Danny e Michael Philippou já tem vasta experiência no audiovisual, assinando diversos comerciais, uma minissérie e sendo detentores de um próprio canal do YouTube com relevante sucesso, este no qual a dupla se empenha em explorar o gênero de horror. Ao contrário de parecerem acomodados, no entanto, eles estão bem cientes do que desejam e de como não apenas são diferentes linguagens de mídia, mas como conversam entre si e a maneira com a qual são consumidas pelo público. Esse entendimento é fundamental para o triunfo que os irmãos obtêm com o resultado de “Fale Comigo”, um terror que, apesar de suas óbvias limitações orçamentárias que apresentam uma modesta produção, aspira a grandeza. Isso porque o filme não se interessa em ser um caça-níquel em forma de rápido passatempo recheado de jump-scares baratos, muito menos quer ser um pós-terror que se afunda em uma atmosfera vazia. “Fale Comigo” tem uma personalidade própria e exala jovialidade no melhor dos sentidos, é moderno ao mesmo tempo que retém todas as qualidades (dentro do possível) dos clássicos que o inspira. É empolgante ver surgir no cinema, e serem bem sucedidas, vozes como as dos Philippou.
Apesar de simples, não só não há qualquer limitação técnica aparente na produção, como “Fale Comigo” é altamente competente e eficaz em tudo que pode. Desde a construção narrativa, onde estabelece muito bem seus personagens e, independentemente de clichês, consegue dar uma gravidade ao envolvimento que temos com eles, tirando boas atuações de um elenco majoritariamente novato. Acontece que até pela curta duração, cerca de uma hora e meia, o filme é bastante direto, então esses personagens e suas motivações e sustentações básicas são o suficiente quando extremamente bem conduzidos pelos diretores. É tal o controle de ambos que “Fale Comigo”, inclusive, apresenta uma irreverência enorme quando consegue divertir ao mesmo tempo em que aterrorizar. Existem momentos lúdicos de arrancar risadas, mas quando começa a se estabelecer o suspense, a tensão é inevitável e se torna muito incômodo sempre que necessário. É óbvio que existem jump-scares no filme, assim como diversos outros elementos que já cansamos de saber como são executados em filmes de horror, mas é justamente a visão particularmente inspirada que encontramos aqui que torna “Fale Comigo” em algo além do usual. Há uma execução com consciência e que confia em seu espectador, em quem o filme em momento algum deseja enganar, pelo contrário. Sua franqueza permite ao espectador se envolver com os personagens e com a narrativa, mostrando que eles têm, sim, algo a nos falar. E o resultado é algo que assombra não só pelo suspense, mas a carga dramática que o filme consegue desenvolver em todo seu decorrer, culminando num clímax de arrepiar e bonito de ver!