“A Pequena Sereia” (“The Little Mermaid”, 2023); Direção: Rob Marshall; Roteiro: David Magee; Elenco: Halle Bailey, Jonah Hauer-King, Daveed Diggs, Awkwafina, Jacob Tremblay, Noma Dumezweni Javier Bardem, Melissa McCarthy; Duração: 135 minutos; Gênero: Aventura, Comédia, Fantasia, Musical; Produção: Marc Platt, Lin-Manuel Miranda, John DeLuca, Rob Marshall; País: Estados Unidos; Distribuição: Disney Studios; Estreia no Brasil: 25 de Maio de 2023;
Quando começou a adaptar suas animações para o formato live action, parecia apenas um teste da Disney, mas a cada novo sucesso, a certeza era de uma nova adaptação. A todo novo filme, no entanto, é pontuada outra oscilação na qualidade, com filmes que estão sempre entre altos e baixos e nunca atingem ao potencial que aspiravam, se é que o mesmo ali estava. É difícil porque são adaptações muito ligadas aos fatores da nostalgia e saudosismo, então é preciso atualizar sem desagradar, é preciso ser o fan service numa zona de segurança muito bem controlada pelos produtores, ao mesmo tempo que introduz essas histórias para novas gerações. Anos depois é a vez de “A Pequena Sereia” chegar aos cinemas e, agora, colocando uma mulher negra como sua protagonista, alvo de falsa polêmica, inflada claramente por um viés racista. A atriz protagonista nunca foi, nem seria, o problema. A questão é justamente a zona de conforto no qual os filmes dos estúdios Disney funcionam. São padronizados para funcionarem de maneira hermética, e com uma roupagem pasteurizada. Algo que Rob Marshall, diretor e produtor do longa, faz questão de que assim seja, mesmo que tenha em mãos a oportunidade de entregar algo que vá além do mínimo esperado.
É complicado ter que agradar a massa, mas a maneira com a qual se deseja fazer isso parece ser optar pela saída mais fácil. O que resulta num filme que em momentos aspira a uma tremenda beleza, mas se contém por conceitos que hoje Hollywood acredita serem os mais adequados. É tanto uma questão estética, como criativa. É um enlatado, devidamente industrializado e assinado com orgulho por um nome que há anos não entrega memorável, ou até elogiável. Não é só culpa de Marshall, no entanto, que “A Pequena Sereia” se mostre como de fato é. Há uma rédea que não permite muita criatividade, e outro exemplo disso são justamente os efeitos visuais. Quando são coisas mais simples, funcionam, mas a partir do momento que sequências de ação mais movimentadas e rápidas se fazem presentes, a qualidade visual decaí. A falta de vibração das cores ajudas a esconder isso, um pouco. Contudo, ressaltam o mais chocante: é justamente quando as cores do filme são as mais vibrantes, que ele melhor funciona. São principalmente sequências musicais, duas ou três no máximo, que fazem valer isso. E deixam o questionamento do porquê não poderia o filme ser todo assim, bem iluminado e colorido, lúdico por completo?
É preterido a isso uma escuridão que torna o clímax de “A Pequena Sereia”, por exemplo, num borrão caricato e sem graça, um literal redemoinho de cgi que esconde o que o filme tem de melhor. O desperdício da caracterização de Melissa McCarthy é decepcionante, o contraste de suas cores se perdem em meio ao quase total breu e a tornam numa vilã dispensável, porque, por mais que a narrativa funcione no todo, falta um impacto desse embate. Do outro lado, é chocante o quão sem vida consegue se deixar ser o Linguado, dublado por Jacob Tremblay. Quanto menos aparece no filme, melhor, e olha que já é pouco. Dos personagens animados dublados por Daveed Diggs e Awkwafina, são o carisma de suas vozes que, vez por outra, os salvam e divertem um pouco. A realidade é que o grande diferencial do filme está em sua estrela: Halle Bailey! Uma voz assombrosa e encantadora, ela faz de cada cena sua, mostrando que além do gogó que já havia comprovado ao lado do dueto com sua irmã, sua capacidade de atuação também é voraz. É Bailey quem injeta vida ao filme, e que conduz “A Pequena Sereia” apenas com seu olhar, se necessário for. E é justamente a atriz a responsável pelas principais catarses emocionais do filme.