Matrix Resurrections” (“The Matrix Resurrections”); Direção: Lana Wachowski; Roteiro: Lana Wachowski & David Mitchell & Aleksandar Hemon; Elenco: Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss, Yahya Abdul-Mateen II, Jessica Henwick, Jonathan Groff, Neil Patrick Harris, Priyanka Chopra Jonas, Jada Pinkett Smith; Duração: 148 minutos; Gênero: Ação, Ficção Científica, Romance; Produção: James McTeigue, Lana Wachowski, Grant Hill; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 22 de Dezembro de 2021;

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(Imagem: Cortesia da Warner Bros. Pictures)

Retornar a Matrix depois de tantos anos é, certamente, arriscado. Ainda mais depois do encerramento da trilogia, conclusivo até certo ponto, o suficiente para deixar questionamentos que fazem parte da razão pela qual o filme original das Wachowskis ser tão marcante. Além disso, pelo contexto histórico, o filme de 1999 parece atualmente insuperável, afinal seu impacto vai além em diversos quesitos, não em simplesmente brincar com a realidade e ficção, ao deixar algumas gerações sonharem com algo a mais. Tecnicamente Matrix também foi um ponto de virada que influenciou diretamente a inúmeras produções depois dos anos 2000. A força do que as irmãs criaram, no entanto, independentemente da recepção de “Reloaded” e “Revolutions”, ecoa ainda hoje, onde reassistir a estes filmes se faz um ato incansável, onde podemos descobrir novas interpretações no mar de detalhes que ali foi disposto. Como abordar novamente, portanto, algo que tem uma característica quase atemporal? Se há alguém a altura de fazer isso, obviamente que seria Lana Wachowski, que retorna sozinha para dar continuidade no que deu o pontapé inicial com Lily há mais de duas décadas. E se havia uma maneira certa de retornar a este Universo, ela não somente sabia, como compartilha orgulhosamente conosco em “Matrix Resurrections”. O retorno triunfal de Neo (Keanu Reeves) e Trinity (Carrie-Anne Moss).

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(Imagem: Cortesia da Warner Bros. Pictures)

A maneira como Lana encara esse retorno é essencial para o funcionamento de “Matrix Resurrections”. E a maneira bem-humorada com a qual ela o faz é o que torna esta nova experiência algo que não deixa em momento algum de ser divertido. A estrutura dessa nova narrativa é completamente metalinguística, o que acaba abrindo portas não somente para que Lana trabalhe a ressurreição de seu filme, isso enquanto tece uma reflexão que comenta sobre o que se tornou o cinema, principalmente o hollywoodiano, nestas quase duas décadas entre o terceiro e este quarto Matrix. É importante nunca subestimar a cineasta, pois ela, juntamente de seu filme, tem extrema consciência de si próprios e daquilo que estão fazendo. É até irônico a estreia deste filme se dar uma semana depois da maior bilheteria do ano até então, números partindo de um filme que depende inteiramente da nostalgia pasteurizada e inofensiva. Já o filme de Lana sabe o quanto a nostalgia e o saudosismo podem se fazer nocivos, e assim ela aproveita isso para atualizar algumas coisas que se fazem necessárias. Assim, mesmo que sutilmente disfarçado de entretenimento, o filme faz ácidas críticas aos rumos em que se dão à intermináveis sequências, reboots e prequels, além da falta de identidade e personalidade que se faz a marca maior destes filmes.

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(Imagem: Cortesia da Warner Bros. Pictures)

Exatamente o oposto de “Matrix Resurrections”, que tem uma identidade visual muito bem definida e uma personalidade marcante, como é de praxe em toda a carreira das Wachowskis,  pulsando com vida e extremamente vibrante. Por mais que não revolucione como o original, este é um filme inegavelmente bonito de se olhar. A direção de fotografia co-assinada por Daniele Massaccesi e John Toll dá ao filme o visual épico que é necessário para suas proporções e para o romance central à história, na busca, mesmo por força subconsciente, de Neo e Trinity um pelo outro. Aliás, enquanto comporta cenas de ação de tirar o fôlego e muito bem comandadas, onde realmente se tem noção de tudo que está acontecendo, Lana Wachowski também se mostra plenamente capaz de criar em seu filme momentos minimalistas de extrema sensibilidade, e por isso mesmo o romance entre os protagonistas funciona tão bem e tem tanta força para tomar as rédeas da narrativa. Porém, verdade seja dita, Lana nunca teve receio algum de colocar o amor, ou sentimentalismo, como uma força de maior significância e capaz de subverter o rumo de alguma narrativa. Até porque, convenhamos, é assim que ela sempre deixou claro como seus personagens, independentemente de suas habilidades, no fundo são seres humanos relacionáveis.

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(Imagem: Cortesia da Warner Bros. Pictures)

Essa humanidade é vista em todos os padrões que permeiam as produções das Wachowski. Lana, que já tinha comandado sozinha o filme que encerrou “Sense8” -cuja fãs recebem alguns mimos aqui, segue nessa mesma toada e aperfeiçoa seu trabalho, seu olhar sempre mais maduro, e o resultado é um filme que funciona em todas as frentes. Como um filme de ação acima da média do que estamos acostumados a receber de Hollywood; como uma crítica a esse mesmo padrão baixo de qualidade e de falta de criatividade que foi estabelecido; um entretenimento de primeira qualidade; e, por fim, um romance arrebatador de figuras que se fazem presentes em nossas vidas há tanto tempo com uma mensagem e uma energia que depois do que se passou nos últimos 2 anos é um tremendo alento. As adições de Yahya Abdul-Mateen II (“Os 7 de Chicago“) e principalmente Jessica Henwick, são muito bem-vindas, mas não tem como roubar a cena de Carrie-Anne Moss e Keanu Reeves (“John Wick 3“). Assistir aos dois juntos em cena, reprisando seus personagens, é não só um deleite, mas uma dádiva. A presença dos dois é magnetizante e a jornada dos personagens é algo que precisa ser experienciado. No fim, resta a certeza de uma emoção que só Lana Wachowski em companhia dos dois seria capaz de nos presentear.

“Matrix Resurrections” – Trailer Legendado:

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