Título Original: Maps to the Stars
Direção: David Cronenberg
Roteiro: Bruce Wagner
Elenco: Mia Wasikowska, Julianne Moore, John Cusack, Robert Pattinson, Evan Bird
Produção: Martin Katz, Michel Merkt e Saïd Ben Saïd
Estreia Mundial: 19 de Maio 2014 (Festival de Cannes)
Estreia no Brasil: 19 de Março de 2015
Gênero: Drama
Duração: 111 minutos
Classificação Indicativa: 16 Anos
Toda pessoa que um dia sonhou em seguir uma carreira artística envolvendo a sétima arte já pensou em ir para Hollywood. Mesmo que eu esteja generalizando e mesmo sabendo da existência de pessoas que preferem o cinema autoral/independente/indie, não vou ser hipócrita. Sim, todos buscamos reconhecimento pelo que fazemos e queremos ser prestigiados por isso. A fama não é exatamente o suprassumo disso? Ou melhor, estar em Hollywood, não é exatamente esse ápice? Na visão “deturpada e pessimista” Cronenberg, não. Aliás, ela está mais para um campo de batalha do que para o conto de fadas que nos fazem acreditar; está mais para um mundo no qual a infantilidade toma conta do profissionalismo; está mais para um purgatório do que um paraíso. Ao passo que Birdman tentava glamourizar um pouco mais a fama, Mapa Para as Estrelas se despe de toda e qualquer idealização, ou melhor, mostra que nessa área não há perdão, muito menos segunda chance.
O enredo sobrevoa por todos os principais arquétipos de Hollywood, desde a família com um “imenso império artístico”, personalizada no Dr. Stanford Weiss (John Cusack) e seu ator/filho prodígio Benjie (Evan Bird), passando por Havana Segrand (Julianne Moore) famosa atriz que tenta conseguir um papel para levantar sua carreira novamente, até chegarmos em Jerome (Robert Pattinson) ator iniciante tentando conseguir um papel para aparecer no mapa. Com a chegada de Agatha (Mia Wasikowska) a Los Angeles, o passado de todos esses núcleos começa a vir a tona, junto com os problemas que aparentemente já estavam resolvidos. Resolvidos só nas aparências e máscaras do mundo da fama, pois ali os conflitos nunca são consertados; são abafados. Chega um ponto que nem a mais forte das proteções consegue impedir a bomba de explodir.
Cronenberg, com maestria, consegue recriar Los Angeles de uma forma completamente diversa da que estamos habituados a assistir nas produções. Parece que estamos em uma cidade fantasma na qual todos os habitantes nada mais são do que simples peças de um jogo de xadrez: pronto para serem devorados pelo adversário a qualquer momento. As pessoas são frias; os diálogos são superficiais; as crianças são transformadas em adultos; os adultos são crianças. Enfim, a lógica fica completamente subvertida em face da busca incessante e obsessiva pelos holofotes. E se tem um tema recorrente na filmografia do diretor é justamente o vício e a obsessão, como podemos observar em A Mosca, em Metrópolis, em Um Método Perigoso, por exemplo. Portanto, ele sabe como ninguém abordar isso, sem, em nenhum momento, ficar apelando ou fazendo juízo de valores, pois, conforme a narrativa vai sendo apresentada, vamos nos tornando cúmplices dessa “sociedade alternativa”, desse mundo paralelo e estranho a nós.
Nos personagens e nas atuações, essa linha permanece e até é mais aprofundada. Os personagens são estranhos, snobs, beirando o bizarro. Havana, em uma performance espetacular de Julianne Moore, vive em uma dimensão tão paralela e inescrupulosa que todo e qualquer resquício de humanidade foi sugado pela ganância e pela arrogância. Dr. Stafford, da mesma forma, estão tão preocupado em tentar manter uma aparência de família feliz – com um passado nebuloso “esquecido” – que “não percebe” ou finge não ver a depressão de seu filho, o qual teve seu infância aprisionada em cobranças e metas de um ator em fase adulta. Todas essas figuras vivem num limiar, basta um catalisador para que todas as reações tomem formas inesperadas. É exatamente isso que acontece. Por mais estranhas e alheias que essas situações pareçam ser, no fundo, tudo faz sentindo. Cronenberg consegue nos fazer entender como pessoas que têm “tudo” como dinheiro, fama e poder, simplesmente acabam se matando; entrando para o mundo das drogas pesadas ou até desenvolvendo um quadro preocupante de depressão.
Se por uma lado a escolha de abordar vários casos dentro Hollywood aparenta acertada do ponto de vista das atuações; por outro acaba soando um pouco cansativa e, às vezes, superficial. Com toda essa quantidade de núcleos a serem interligados por Agatha, um que outro acaba escanteado, como é o caso de Jerome. Em um primeiro momento poderíamos entender que ele acaba aparecendo menos, porque ainda não está nesse mundo, não foi corrompido pela fama. Porém, na trama, ele funciona mais como distração amorosa para a protagonista do que contraponto àquela sociedade falida. O que não deixa de ser uma pena, tendo em vista a excelente atuação de Pattinson. Além disso, em certas passagens, a produção parece perder o foco, uma hora aborda drogas, depois a inveja, logo mais as tensões sexuais. Enfim, há uma infinidade de temas em discussão, mas pouco aprofundamento em cada, fazendo com que, ao final, o sentimento seja de que algo está faltando, como se o filme estivesse incompleto.
O resultado final, contudo, é bastante satisfatório e sombrio. Permanecemos por quase duas horas imersos num pesadelo chamado Hollywood. Um pesadelo no qual os monstros são apenas os próprios seres humanos enlouquecidos pelo poder e pela fama; as ilusões são a crença de que tudo será resolvido com o apertar de um botão ou com uma ligação telefônica e as quedas são o convencimento de que ninguém é insubstituível. Por fim, é um pesadelo no qual a hora de despertar pode ser tarde demais.
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